quarta-feira, janeiro 31

"Amiguismo" sem pecado

(..)"E claro que existem os meus blogues, que visito com regularidade, prazer e proveito. Mas eles são, na expressão mais simples e vergonhosa, os blogues dos amigos. E eu lá vou espreitando pela vontade prosaica de saber por onde andam, o que fazem, o que lêem ou não lêem. Uma espécie de GPS pessoal por onde me oriento em vida alheia. A blogoesfera tornou-se nesta forma simpática mas imperfeita de matar algums saudades."(...)

O Jansenista do nosso contentamento


Escreve a Carla no artigo deste mês da Atlântico: "O meu blogue preferido em 2006 chama-se..."e eu continuo, O Jansenista.
Permitam-me transcrever algumas partes do artigo, com a autoridade de pertencer ao restrito Jansenista fan club.
"O Jansenista é o melhor blog, porque é bom em tudo o que destaca, exibe ou escreve. Trata-se de um blog generalista, muito diversificado, cujo próprio tom varia [e] a diversididade cria expectativa. [...]. O Jansenista é genuíno quando elogia ou quando se enerva, quer em posts curtos ou longos, e é sempre muito equilibrado. Mesmo na maior indignação ou no auge da alegria nunca ultrapassa limites que poderiam torná-lo à mesma um blogue brilhante, embora nunca histérico. Mete-se em todos os assuntos e sempre bem, sem nunca passar da impiedade humorística para o discurso venenoso ou ressentido. O Jansenista também é pedagógico sem ser paternalista. Ou seja, é avassaladoramente eficaz. Os seus leitores aprendem quer queiram quer não porque não há imposições de nada; apenas uma bela partilha. As selecções cuidadas das belíssimas imagens, dos temas musicais, e das citações são manifestações dos seus gostos estéticos, musicais e literários irrepreensíveis.
Um belíssimo e certeiro último parágrafo, Carla :"Neste "saber ler" estão incluídos vários aspectos (alguns mesmo de carácter), como a inteligência, a disponibilidade para perceber o outro, a ausência de vaidosas e mesquinhas susceptibilidades, grandeza".
E acho que está tudo. É do Jansenista, aliás, que retiro grande parte das fotografias que vou colocando por aqui, umas porque me são dirigidas, outras porque me encantam.
Uma palavra para um outro blog, sóbrio, elegante, inteligente, onde aprendo muito, onde vou à procura de mais e onde encontro quase tudo. Falo do Je Maintiendrai.
Desconheço quem sejam os autores destes dois blogs e, sinceramente, não me interessa nada. O anonimato, nestes casos, é irrelevante.
Nos blogs como na vida, é a humildade da sabedoria que me fascina. E o carácter, claro, mas isso não é para todos(as). Fotografia

Blowin' in the wind

A verdade é que a criatura se fartava de ler. O que nunca ninguém lhe disse, é que no caso dela, há certas coisas que são como os cremes: pôr muita ou pouca quantidade, faz exactamente o mesmo efeito. Mas dela será o Reino dos Céus.

terça-feira, janeiro 30

A fórmula & o livro


Só é preciso uma mulher, muitas compras e (eventualmente, e depois de alguns desencontros cómicos), o Homem Certo, verificam-se os condimentos, mexe-se tudo e depois vai ao forno, perdão, à editora: temos livro. Vem tudo aqui, no "A girl's guide to writing chick-lit".
Provalvelmente já terá visto histórias destas por cá, mas no caso de pretender tornar-se uma escritora deste género, tem aqui neste livro uma espécie de guia, ou melhor, uma receita, com todos os passos a seguir.
"Contrary to popular belief, it isn’t all about shoes. Or clothes. Or purses. Chick-lit is also not all about getting a guy. Love may be a happy diversion, or a painful pothole, but the chick-lit story is about the main character’s path to self-discovery. Although there’s usually a satisfying and uplitfing conclusion, the ending is more about hope for the future than snagging Mr Right. "
Esta conversa pode dizer-nos alguma coisa ou lembrar-nos alguém, mas o que é afinal um"chick- lit" ? É sobre mulheres que tentam saber quem são e do que precisam e não propriamente sobre o que pensam ou querem.
O livro ensina quase tudo. Encontrada a personagem, dê-lhe uns toques de humor, vista-a, dispa-a, calce-a, leva-a a um spa, dê-lhe uma profissão, um micro-ondas, um computador, viagens, jantares, festas, amigos, amigas, um cabeleireiro confidente, homens (de preferência uns bandalhos) e faça-a viver o dia a dia.

Dúvidas? É seguir a receita:
Name
Age
Physical description
Education
Five words that describe her personality
Where does she work? Is she good at her job? Why? Or why not?
Her dream job, or dream life
Things that annoy her
Her bad habits
What people like about her
Her roadblocks to happiness
The person she trusts most (and why)
The person she should trust most (and why)
Her dream guy
What she does to relax
Before the book began, the best day of her life
The worst day of her life

Desvendados os segredos e a fórmula, boa sorte. Convém não esquecer uma capa sugestiva e uma boa distribuidora. Quem disse que o sucesso não tem "livro de instruções"?

"No promises"

Imaginem a Carla Bruni a dizer : "Elle [Marianne Faithfull] m'a donnée une anthologie des sonnets de Shakespeare et m'a dit d'en lire un chaque soir avant d'aller me coucher". Com imagens da livraria "Shakespeare and Company" junto à Notre Dame, onde, segundo ela, terá descoberto os livros com os poemas (Yeats, W.H. Auden, Emily Dickinson, Dorothy Parker, etc.) para o seu novo album, um video de uma italiana que canta em ingês (deliciosamente, por sinal).

domingo, janeiro 28

Ondas boas


Eu sabia que esta coisa de "dar o blog ao manifesto" havia de deixar as suas mazelas. Nada grave, claro, que isto não é a minha alma, é mesmo só um blog. Um nickname dá um certo jeito: sente-se um maior aconchego, a gente está aqui sossegadinha, entricheirada, imune ao olhar dos outros. Mas uma coisa é certa: a net lembra e esquece rapidamente.
Quando aceitei o convite do Pedro Rolo Duarte, sabia bem ao que ia, pois quem anda à chuva molha-se e como era previsível, com bastante frio e neve até, lá choveram alguns mimos.
Mas o que me interessa mesmo é agradecer aos anónimos/desconhecidos que passaram por aqui e claro, aos amigos. Eles sabem como gostei de os ouvir.
Tive muito gosto em ter ido e agora continuemos. Com cara ou sem cara, com voz ou sem voz, o Miss Pearls há-de andar por aqui enquanto ele me divertir, enquanto vocês tiverem paciência de o ler e a minha hemoglobina o permitir. Com comentários moderados, claro. Que no meu blog e no comando da televisão quem manda sou eu.

(Fotografia do Jansenista, com um agradecimento muito especial pelo post. E também ao Miguel)
"descobrir o porquê de um blog aparentemente tão - uhm, como dizer? - sensato e recatado, emanar uma carga erótica tão... tão intensa, tão Cancioneiro Geral, uma licenciosidade delicada e perturbantemente gótico-manuelina" ... Uhmmm.
foto

Terraço

Qualquer coisa

Um blog individual tem dias difíceis. O desgraçado está nas mãos (e nos dedos) de um(a) proprietário/a que o deixa à mercê da preguiça, neura, tristeza, sono, falta de talento, tempo, ausência de imaginação, calor, frio, cansaço, fastio, vista cansada, roupa para engomar,vida familiar, social, íntima, doméstica, trabalho, compras, viagens, e por aí em diante.
Há dias, em que escrever num blog individual, é semelhante à resposta mais parva e inconsequente que se pode ouvir: - O que querem para o jantar? - Qualquer coisa.

sábado, janeiro 27

Das minhas personagens : "A última das Mitford"

"ÚLTIMA DAS MITFORD Deborah Mitford Cavendish, Duquesa de Devonshire. Talvez a mais decente das irmãs e ainda bela. Autora de obras sobre Chatsworth, solar dos Devonshire e uma das mais belas casas de Inglaterra, mecenas de Lucian Freud (dois retratos numa das imagens, guess where) e anfitriã frequente de Noel Coward (autor, por agora em fundo, de Imagine the Duchesse’s feeling). " No Je Mantiaindrai
NOTA: Nos comentários:
O Jansenista: Não esqueçamos, irmã de Nancy Mitford e Jessica Mitford, duas excelentes romancistas, de Unity Mitford e Diana Mosley, as duas mais famosas amigas de Adolf Hitler, cunhada de Oswald Mosley, o líder fascista britânico, tia de Nicholas Mosley, romancista, e de Max Mosley, um dos patrões da Fórmula Um, etc., etc. Vidas muito completas e agitadas, como se vê...
Alexandre Soares Silva: Além disso grande criadora de porcos à la Lord Emsworth:
http://www.eclipse.co.uk/wodehouse/pighooey.htm

Da blogoesfera

Um post daqui do meu terraço com vistas sobre a cidade, já com as luzes acesas e aquecimento ligado:
O Tugir, o blog do Luis Novaes Tito e do Carlos Manuel Castro (que não conheço pessoalmente), dois simpáticos e gentis admiradores da Madame Ségolène e da Sra. Clinton, anda nisto há três anos. Muitos parabéns ao Tugir por este blogo-aniversário.
Boa música, dois vodka limão, muito riso e por vezes pouco siso, ontem na festa da Revista Atlântico . Os meus sinceros parabéns ao Paulo Pinto de Mascarenhas pela revista que conseguiu criar.
Agradeço ao Luis Carmelo as simpáticas palavras que me dedicou no Expresso on-line. Caro Luis, só mesmo a blogosfera para "fazer do [meu] quotidiano uma festa".
O Carlos MacGuffin está de volta à blogosfera. Nestas coisas, a experiência dispensa bem um personal trainer: ele conhece-lhe os cantos, o lado direito e o esquerdo. Por aqui não há posts escritos na estrelas. É preto no branco e o que está escrito, dito está.
O Posto de Escuta está de volta com os pequenos retratos da blogosfera.

sexta-feira, janeiro 26

"Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude."*

A caminho do emprego vejo uma coisa que se parece com uma flor: tem uns coraçõezinhos, música, mas não tem cheiro. Dou uma volta pelos blogs, grandes egos, críticos do que não conhecem nem querem conhecer, de circunstâncias que ignoram, de vida convencional, folgada e composta. Mas de que se queixam? Deviam rir mais. Deles mesmos, até. Daqui da janela vê-se o céu muito azul, mas ainda tenho o olhar cheio das cores da Sicília, dos vestidos do baile da princesa e do verde dos olhos do príncipe italiano. Como me dizia esta manhã um homem idoso, com a humildade de um sábio: "Ainda ando por aqui, minha senhora. Como forma de agradecer esta maravilhosa circunstância de estar vivo. Pelos seus olhos, vejo que me compreende."
Ainda bem que quem vê blogs não vê corações.

quinta-feira, janeiro 25

Amanhã há festa

Sexta-feira, 26 de Janeiro no FRÁGIL – Rua da Atalaia, 126, Bairro Alto Lisboa Dj's: Eduardo Nogueira Pinto, Francisco Mendes da Silva, Nuno Costa Santos e Nuno Miguel Guedes

O novo mundo blogoesférico

É verdade, Francisco. Além do Cozinha da Joana, com um considerável e saboroso conjunto de links, ficamos a saber através do Etiqueta e Boas Maneiras a forma como "Como oferecer um presente adequadamente" e "no nosso casamento" podemos "encontrar as respostas ao que se deve ou não deve fazer".
Ah! E "se tem um bum-bum XL, saiba como vestir para parecer uma Jennifer Lopez", com a ajuda de um personal shopper, semelhantes aos que aparecem no programa da Ophra.
Para comentar restaurantes continuo uma indefectível do Contraprova: "Dizer mal para comer bem", mas há uma dezenas de blogs de crítica gastronómica em português de cá.
Era engraçado, de vez em quando, uma rúbrica tipo "Blogoesfera & Companhia" com blogs originais que fossemos encontrando. Que achas, Francisco?
Forecast in Celsius for New York, United States of America BBC Weather Centre - Current Nearest Observations: cloudy 3°C NW (8 mph) Relative Humidity (%): 40, Pressure (mB): 1013, Rising, Visibility: Good

E as manhãs, o que são?*

Descobri há pouco tempo que não conhecia as manhãs. Para as manhãs, nunca estou. Vou, regresso, corro, já com a luz posta, com a cidade em movimento em edíficios fechados. Quando as ruas se esvaziam e cada um toma o seu lugar, a manhã enche-se dos seus habitantes, gente com quem não me cruzo nas manhãs dos meus dias a néon e ar condicionado, que toma o espaço que os outros libertam, com um ritmo mais lento, com passo menos seguro e com mais tempo. São os idosos, os reformados nos correios com as notas, as facturas e as pensões, os casais nos bancos à procura de uma vida em casas sonhadas, as mulheres e os homens com impressos, sisas, obrigações, fichas de chamada nas finanças, uma geração de mulheres sem impostos e sem rendimentos, de alcofa e porta-moedas que percorre o mercado, ao peixe, à carne que há-de ter pronta à noite para os seus.
Vejo-as chegar no 47, acordadas há muito, com o saco, o almoço, o avental, a bata, os sapatos para trocar, o carteiro a tocar às campainhas de casas vazias com as contas, as notícias e as cartas timbradas. Sem farda, os cobradores tentam arrecadar as quotas, os fiscais fazem vistorias e os limpa-chaminés vão tentando a sua sorte.
Por aqui e por ali, as manhãs também têm os vendedores de hortaliça e leite e lá ao longe ainda se ouve o assobio do amolador. Nas zonas de comércio, há muito que os pedintes tomaram os seus lugares, os artesãos arrumaram a mercadoria e os homens dos retratos prepararam as tintas.
O trânsito, condicionado e programado à força de sinais, tenta mexer-se, encaixar-se nas ruas estreitas das descargas e circular por entre o caos das avenidas na pressa para o escritório. Os arrumadores vão chegando pouco a pouco, acordando lentamente de ressacas sem fim, tentam as primeiras moeda para a dose do dia e junto aos semáforos, juntam-se o velho Borda d'Água e os novos jornais. São os tempos modernos.
São estas manhãs que terminam quando as ruas se enchem de novo, de gente a correr, barulhenta, com horas marcadas, relógios de ponto e estômagos vazios. A estes conheço-os, ocupamos os mesmos espaços, caminhamos lado a lado, cruzamo-nos sem nos vermos e mais tarde, já quase sem luz vamos esvaziando as ruas e enchendo as estradas na viagem de volta. Até ao outro dia. Para mim, para eles, sem estas manhãs que não vemos.
* Adaptação de "Noite, o que é?" no Aviz do Francisco José Viegas

terça-feira, janeiro 23

Book lovers


Wanted: Librarian. Book Lovers Need Not Apply.
"As more and more librarians become "media specialists" or "information technologists," what happens to librarians who remain chiefly interested in collecting books, not in promoting information literacy? They get a bit jaundiced, writes Thomas Washington, the librarian at a school in the Washington area.
(...)
Have the requirements for library work changed over the past decade, or is Mr. Washington romanticizing the past?"

Fim de tarde

Não havia muita gente na sala e sem esforço podiam ouvir-se as conversas das outras mesas. Não sabia de onde vinham aquelas duas vozes que o tolhiam. O que estariam aquelas pessoas ali a fazer, a encher o ar com tanto desamor? Curiosamente não havia agressividade, não havia enfado, pelo contrário, aquelas vozes quase que tinham um som metálico de tanta indiferença. Sem se voltar, levantou-se para sair. "Deus nos guarde desta gente desapiedada", pensou ele vestindo o casaco.

Editado em Janeiro 2006 e agora, a pensar neste post do Pedro Correia.

Geração vinil

The Beatles - With A Little Help From My Friends

Blogs on ice

Não abrir as janelas. Ambiente climatizado.

Saldos

Vejo-as chegar exaustas à pastelaria, sentam-se, abrem os sacos, felizes, tagarelam, trocam impressões, fazem contas, o balanço, são as pechinchas do ano: absolutamente indispensável, um achado, dizem elas. Cruzam-se comigo na rua, sacos, saquinhos, decididamente mais achados irrecusáveis. Ouço-as falar ao telemóvel, "venho dos saldos...ténis dos miúdos... o casaco da montra..., a camisa, lembras-te... metade do preço..., diz à mãe... o autocarro... um achado, querida, um achado."
Entro nas lojas, as filas para o pagamento não me atemorizam, tento seguir-lhes os passos, os movimentos, o olhar, não desisto. "Um número grande, três numeros abaixo, só monos, não visto isto, inútil, caro, caríssimo, hesito, é mesmo aquilo. Era. Uma chata. E eu, incompetente uma vez, amadora toda a vida.

segunda-feira, janeiro 22

O Pedro Rolo Duarte, o meu blog e eu

Depois do João Gonçalves (7.1) , do Paulo Pinto Mascarenhas (14.1) e da Carla (21.1) serei eu a próxima convidada do Pedro Rolo Duarte (com os podcast). Este Domingo, entre as onze e o meio-dia, na Antena Um. (Obrigada à Carla, ao Luis, ao Carlos , ao Espumante e ao Francisco e ao Pedro)

2007

Já estamos em finais de Janeiro de um novo ano e continuo a escrever o antigo. Não é grave, chego lá. Tomara que o resto fosse assim tão fácil ou tão pouco lesivo. Bem sei. É por estas e por outras...

domingo, janeiro 21

Da blogoesfera

"O justo e o injusto Não é justo que digas da tua humilhação que foi «injusta». A humilhação de uns serve como divertimento de outros. E o divertimento nunca é injusto." No Estado Civil
A entrevista de Fernando Venâncio ao Miniscente.:
(...)"[O acontecimento que mais intensamente seguiu através dos blogues] Foi o observar da descoberta, alheia e própria, da inaudita versatilidade deste brinquedo, o «blogue», que consegue produzir coisas tão humanas como a admiração e o enamoramento, mas também a irritação, a suspeita e o enxovalho.
Tudo público, claro."
O blog O Carmo e a Trindade mudou de endereço. Agora encontra-se aqui.

Com um brilhozinho nos olhos

Perto de minha casa há uma florista. A avaliar pelo entra-sai, há muita clientela a comprar flores(e a que preços!). Mas hoje, não é a clientela no geral que me interessa. São os homens. Reparo com atenção quando saem com os seus ramos de flores (gostam muito do rosas, os cavalheiros), com alguma timidez, embaraço, sem jeito, a atravessar a rua em passo de corrida, pode ser que ninguém os veja, Deus queira que ninguém os aborde. O homem com quem hoje me cruzei, por exemplo, com um valente ramo de flores, quase que poderia dizer que sorria. Um sorriso apertado, envergonhado, indecifrável, mas era um sorriso. Como se o acto de transportar aquele ramo não estivesse na sua natureza, receoso que alguém lhe adivinhasse os pensamentos, o destinatário, lhe descobrisse a intenção, lhe capturasse o momento. No entanto, aquele homem sem jeito e possivelmente sem hábitos de florista, sorria. Aquelas flores tinham uma história, talvez fossem o início ou o mais um momento de uma história. Um romance, pensei logo. Um ramo de flores para fazer alguém feliz. E quando o homem se cruzou comigo, percebi que a felicidade era também aquele momento. Onde estarão agora aquelas flores? Abandonadas, espero, mas não esquecidas. Como lhes compete. Com um brilhozinho nos olhos dissemos sei lá o que nos passou pela tola do estilo: és o number one dou-te vinte valores és um treze no totobola e às duas por três bebemos um copo fizemos o quatro e pintámos o sete e com um brilhozinho nos olhos ficámos imóveis a dar uma de tête a tête

sábado, janeiro 20

"Globe-Trotter"

Globe-Trotter é a marca da arma que desencadeia as quatro histórias de Babel e também um filme à volta do mundo, que atravessa três continentes, culturas diferentes, religiões diversas e línguas distintas.
O realizador afirmou que Babelis basically about four stories about parents and children. Também acho melhor ir por aí. Dou-me mal com temas panfletários, filmes de causas e estereótipos. No filme há disto tudo um pouco: o mundo depois do 11 de Setembro, a fronteira Mexicana, a legislação sobe a emigração ilegal, o marroquino que não aceita o dinheiro, os turistas ocidentais desapiedados, a luta pela sobrevivência perante a ameaça da meio, crianças urbanas que se assustam com o desconhecido, a pré-adolescência à descoberta do corpo, jovens adultos a descobrir mais além, o turbilhão e o minimalismo dos ambientes nipónicos e claro, a incapacidade comunicar, a confusão das línguas, vingança de Deus pela ganância dos homens.
Pena que as personagens sejam só isso: tipos. Falta-lhes a consistência, ou o tempo que precisam para ir mais além do tipo. Apesar de abrilhantado por um Bradd Pitt sem o glamour habitual, pela candura elegante da Blanchett e por uma rising star, Gael García Bernal, não me parece que seja este estrelato (também ele oriundo de três continentes) a fazer a diferença. Por mim, achei pouco.
No entanto, longe de ser um filme claustrofóbico, fiquei a admirar-lhe os espaços, a luz, o céu do deserto mexicano, a serra dos pastores marroquinos e a noite iluminada do 30º andar da varanda japonesa, ao som de uma bonita banda sonora.
É também um filme que fala do amor (a mãe deportada que abraça o filho, o pai que mostra as fotografias das crianças, a mãe que lhes quer falar, um casamento) e dos demónios que teimam em sair: as memórias ainda frescas do bebé morto durante o sono e de uma mãe que se suicida. Mas ao mesmo tempo é um filme de reconciliação, da ama mexicana que reencontra o seu amor do passado, do casal que se encontra no infortúnio, da jovem surda muda que procura no corpo a fuga do seu silência e que no final aperta com força a mão do pai do pai.
Mas é o pai com o filho morto nos braços e a criança marroquina em lágrimas, torturado pela perda do irmão, onde melhor se transmite o amor de que o director nos que falar:
"I killed the American, I was the only one who shot at you. They did nothing... nothing. Kill me, but save my brother, he did nothing... nothing. Save my brother... he did nothing. "
(...) 5 And the Lord came down to see the city and the tower, which the children builded. 6 And the Lord said, Behold, the people is one, and they have all one language; 8 So the Lord scattered them abroad from thence upon the face of all the earth: and they left off to build the city. 9 Therefore is the name of it called Babel (confusion); because the Lord did there confound the language of all the earth: and from thence did the Lord scatter them abroad upon the face of all the earth. Genesis 11:1-9

sexta-feira, janeiro 19

Musicovery- Não é uma telefonia, não é um ipod, não é um podcast, e eu também não sei bem o que é. Escolhem-se os anos, os géneros... uma modernice com música dentro.
(Via Mar Salgado)

No tempo em que desapareceram os microfilmes

as bibliotecárias ainda usam chinó e os livros, alinhados nas estantes, hão-de ter um brilho azul . Os bustos não serão de Jedi famosos, mas de outros personagens que a história se encarrega de criar. Jocasta Nu para Obi-Wan "If an item does not appear in our records, it does not exist."
(STAR WARS, EPISODE II: ATTACK OF THE CLONES (2002).

No tempo em que não havia microfilmes (3)

tal como hoje, se faziam filmes de qualidade duvidosa, por boas razões. Segundo li, trata-se do primeiro filme de Hollywood explicitamente anti-McCarthy, em que Betty Davis desempenha o papel de bibliotecária numa pequena cidade e que se recusa a retirar das estantes o livro 'The Communist Dream', em troca de um acréscimo de fundos que o conselho local pretendia atribuir.
foto: Betty Davis em Storm Center (1956)

No tempo em que não havia microfilmes (2)

Spencer Tracy e Katharine Hepburn no filme "Desk Set"

uma bibliotecária (inteligente, solteira, gira, eficiente) namoriscava entre as estantes de livros. Coisas de filmes.

Enquanto isso, um computador com nome de mulher, Miss Emmy, ameaçava tomar o lugar e o trabalho das diligentes (e giras) bibliotecárias da estação de televisão, receosas de mudanças.

Nada que que um romance não resolva.

No tempo em que ainda não havia microfilmes *

Carole Lombard with Clark Gable in their only film together, No Man of Her Own
* e em que as bibliotecárias (louras) se deixavam enroscar nos braços do Clark Gable.

Este blog encontra-se a meia luz.

E um nadinha anémico. Como os três posts aí em cima, já editados no ano passado.

quinta-feira, janeiro 18

Dona Rosa! Dona Rosa!

Chegou a sua filha!
ou o estado primitivo (Paleolítico Superior?) em que se encontram as telecomunicações em casa do Henrique e da Carla.

Na Ribeira dos Milagres é Ano do Porco sempre que o homem quiser

Ora bolas! Logo agora que eu me preparava para escrever: "Boas notícias. Apesar de ter chovido, ontem não houve descarga poluente na ribeira dos Milagres".

A entrevista

A entrevista já ia longa, com um batalhão de perguntas que não lembravam a ninguém, num misto de coscuvilhice, estudo de caso e observação, como se faz em ciências naturais. "Uma devassa", pensava ela, respondendo com ar sério e compenetrado enquanto ia tirando da carteira cartões e mais cartões.
- Hobbies?, pergunta ele: - Jardinagem, responde. [E escreve: hobbies: jardinagem] - Interessante...! Exclama, levantando os olhos do papel com ar inquisitivo. - Sim, dois vasos com dois frondosos cactos.

quarta-feira, janeiro 17

"When we begin to take our failures non-seriously, it means we are ceasing to be afraid of them. It is immense importance to learn to laugh at ourselves.” Katherine Mansfield
“I laugh because I must not cry. That is all. That is all.”
Abraham Lincoln

"No ar" com a Carla

Depois do João Gonçalves e do Paulo Pinto Mascarenhas, vai ser a Carla a convidada do Pedro Rolo Duarte. Este Domingo, entre as onze e o meio-dia, na Antena Um.

Experiência fakir

Esperava poder vir a escrever sobre a minha tentativa de deixar de fumar pela acupuntura. Lamentavelmente, as três horas de tortura que consegui suportar não dão para mais de três linhas.

Contrição

Está bem. Acabaram-se as francesices. Prometo não voltar a pecar.

terça-feira, janeiro 16

La sincérité est de verre ; la discrétion est de diamant. [André Maurois]

Le silence est fait de paroles que l'on n'a pas dites. [Marguerite Yourcenar]

Violonófilos e cinturistas de todo o mundo, uni-vos!

Em defesa do padrão
Não entendo nada de mulher, claro. Aliás, ninguém entende, nem mesmo Freud, que, num momento de aparente exasperação, perguntou o que as mulheres querem e morreu sem saber.(..) E que padrão de beleza é esse, será mesmo o padrão, digamos, ´natural´, será de fato o preferido por homens e mulheres que não estão comprometidos com o conhecido ´Barbie look´? Quanto às mulheres, massacradas sem clemência por gostosas irretocáveis (na verdade retocadas pelo Photoshop), que não têm uma manchinha na pele, uma estriazinha escondida, uma celulitezinha e ostentam dotes de uma perfeição na verdade fictícia, não posso falar muito. Mas quanto aos homens posso, porque ouço a opinião de muitos deles e não só saudosistas do modelo violão (em inglês ´hourglass look´, aparência de ampulheta), mas jovens também. Em primeiro lugar, devo afirmar enfaticamente, não por demagogia ou qualquer interesse subalterno, mas em função de uma permanente pesquisa sociológica informal, existe vasto e devotado mercado para as gordinhas e até para as mais gordinhas do que as gordinhas. Creio mesmo, que, consultada a opinião pública, tanto de homens como de mulheres, mesmo as descinturadas por uma malhação perversa, a maioria concordaria em que mulher tem que ter cintura, faz parte da figura feminina, é clássico, é até constituinte do doce mistério das mulheres. E há muitas gordinhas, sim senhor, mantidas no modelo violão. Está bem, violoncelo, mas com a cintura no lugar.(...) Agora, para alegria dos violonófilos e cinturistas, chega evidência científica de que o padrão esquelético ou Barbie nunca esteve com nada, não deverá estar com nada no futuro e só está com alguma coisa no presente devido a interesses de mercado circunstanciais. (...) As que têm cintura- a-ha! -têm mais saúde. Isto sem dúvida abre horizontes quiçá radiosos para muitos de nós, homens ou mulheres, hoje escravizados pelo pensamento único imposto por estetas de meiatigela. Os modernos somos nós, os violonófilos; as antiquadas são as Barbies.(...)

domingo, janeiro 14

TLEBS

A Petição Contra a TLEBS entra esta semana na recta final. É agora a vez dos cidadãos se pronunciarem. Ou calarem.

Assine e Divulgue a Petição Contra a Implementação da Experiência Pedagógica TLEBS em http://www.ipetitions.com/petition/contratlebs/tlebs.html

Pelo fim das experiências pedagógicas não autorizadas em crianças.

Vidas no cabeleireiro

Fico sempre espantada com a forma desabrida como o mulherio fala, no cabeleireiro, das suas vidas particulares ou das de terceiros. Indiferentes a quem as rodeia, por entre uma penteadela e uma tesourada, vão debitando as maiores indiscrições sobre maridos, filhos, família, amigos, outros e outras. O apito de partida para o relambório é, geralmente, a simples e simpática pergunta do cabeleireiro "Como vão as coisas". Tudo o mais é história. Ouvem-se indicrições, despeitos, injustiças, calamidades sobre tudo e todos. Já me aconteceu, ter ao meu lado no cabeleireiro, alguém que falava de pessoas que me eram próximas e ter tomado conhecimento, ali mesmo, debaixo das pratas com tinta, de factos que não conhecia. A pobre da cabeleireira, impotente, nada podia fazer. Espetar a tesoura na nuca da senhora, para a avisar da indiscrição, não era certamente o mais apropriado. Conheço ainda outro caso muito antigo, que se tornou num "clássico" das minhas memórias, mas ambos abalaram algumas vidas.
Outro divertimento, entre uma mise e a manicure, são as revistas cor de rosa. Ali à mão, basta alguém abrir uma destas obras de referência dos cabeleireiros, para se saber tudo ou quase tudo sobre as criaturas que se puseram a jeito para a fotografia: "Esta vivia no prédio da minha cunhada, espertinha esta, assim que se apanhou com um filho, começou a tratar mal os miúdos do marido e antes do palerma ter visto com quem se tinha metido, já ela lhe tinha metido os pais velhotes num lar (a minha preferida), aquela ficou a dever no cabeleireiro, o outro era visto de carro perto da casa da sogra de uma amiga, olha, olha, já a vi sem maquilhagem, um trapo, a lata desta que nunca vai buscar os filhos a horas, ricas mamocas, sim senhora, assim também eu, coitada, o filho desta é drogado, está numa clínica" e assim por diante.
"Borlas, férias pagas*, um lugar melhor no teatro, um bilhete para a ópera, jantares, relógios, carros emprestados, vestidos de criadores à medida", valem esta devassa?
Talvez não, mas são sempre atendidas primeiro que eu.

The Wannadies - You and Me I love you Sunday song The week's not yet begun And everything is quiet And it's always... You and me always, and forever You tell me I'm a real man and try to look impressed Not very convincing But you know I love it Now we watch TV Til we fall asleep Not very exciting But it's you and... Me and we'll always be together You and me always, and forever

(De repente, lembrei-me disto.)

New blogs on the block e muitos parabéns

Parece-me inédito e da maior utilidade, o blog do Embaixador em Brasília, Embaixada de Portugal no Brasil.

Estes planos, isto sim, já me parece muito grave.

O Amigo do Povo e o Incontinentes verbais fazem um blogo-aniversário. Fico sempre espantada como se anda por aqui tanto tempo. A começar por mim, claro. São blogs com amigos dentro, onde me divirto e onde aprendo. De que precisa mais um blog para ser um bom blog?

Aurora boreal ou imagens que não se esquecem

E vá-se lá saber porquê.
Maxim de Winter: That's not the Northern lights. That's Manderley!

Mrs. Danvers: [brings out a negligee from under the bedcovers] Did you ever see anything so delicate? -Look, you can see my hand through it!

(Rebecca)

quinta-feira, janeiro 11

All about...

Dress Code II

Quem frequentava noite após noitada nos anos oitenta os bares de Lisboa, em particular o Frágil, deve recordar-se de como o dress code, ou como hoje se diz, o look, que condicionava o acesso ao bar com a melhor música da cidade e a um meio onde poucos punham os pés. A Ana Sá Lopes já escreveu sobre isso, tendo sido ela própria vítima de uma espectacular humilhação por não ter caído nas graças da porteira: "O meu companheiro era um rapaz lindíssimo e brilhante, mas nunca se vestiu de preto monocolor, que eu me lembre".
Apesar dos tempos, da modernidade e da democracia, o ar cool continua em vigor como um dress code universal e intemporal. Só a idade (sim, exactamente isso que está a pensar, sem pinga de romantismo), nos "liberta" de protótipos e das ditaduras da noite. E as outras tribos? Lembram-se das calças justinhas até aos joelhos e largas para baixo, sapatos e carteira de aplicação dourada, lenço comprido a prender o cabelo, pullover à cintura e franja enorme em cima dos olhos? Esse uniforme teve as suas origens na Avenida de Roma e rapidamente se alastrou pelo país, em particular às zonas urbanas. Todas vestidas de igual? Aparentemente sim, mas as marcas dos sapatos e das carteiras, voilà, faziam toda a diferença. No início era o grená, o cinzento e o azul, mas ainda me recordo de umas calças verde alface. ..figuras tristes. E quando o dress code é exactamente não ter dress code ?Ou melhor, e quando se nasce com o dress code? Sem dinheiro, mas com o código incorporado? Ah! Isso é ser bcbg - bon chic bon genre. Não vem na National Geographic mas em livros como Official Preppy Handbook (americano), Official Sloane Ranger Handbook (inglês) ou BCBG, Le Guide du Bon Chic Bon Genre. Esses grupos são, porventura, os mais elitistas, os que fogem das revistas como o diabo da cruz. Barricados em casas ancestrais que eventualmente até alugam para casamentos, estes sobreviventes das cores pastel e do verde caqui, distinguem de forma pouco democrática os detentores do dinheiro velho dos arrivistas do dinheiro novo. Dinheiro velho até pode significar nenhum dinheiro, mas é tudo uma questão de berço. Os naturais destes ecossistemas geralmente acasalam entre si, estimam a vida no campo (os solares) e podem ser encontrados nos bairros antigos das cidades por detrás de fachadas modestas ou portões discretos. À primeira vista, um incauto pode confundi-los com a tribo do "marialvismo", mas nada de confusões. Assim de memória não estou a ver bigodes retorcidos... Porém, a parte mais significativa destas tribos low profile encontra-se, naturalmente, no Reino Unido (sloane) . Tanto a América (preppy) como a França têm as suas reservas naturais próprias, mas a essas só as conheço de filmes, de livros e da televisão.
Ainda encontrei mais alguns grupos caricatos pelo caminho e de que falarei mais tarde, mas agora fico agora por aqui: tenho chá e canasta ali para os lados da Escola Politécnica.
Fotog From Casual to Dazzle: Casual Chic-The Oprah Winfrey Magazine

quarta-feira, janeiro 10

Tintoretto no Prado

No final do mês, o Museu do Prado inaugura a maior exposição sobre Tintoretto, alguma vez realizada desde a que teve lugar no Palazzo Pesaro em Veneza de 1937.
São cerca de 70 obras provenientes dos principais museus e instituições europeias e norte- americanas, aqui bem perto de nós.

As times goes by

That no one can deny it's still the same old story A fight for love and glory As Time Goes By - Louis Armstrong

Ventos de modernidade

Não deixa de ser uma experiência fascinante passar cerca de uma hora numa repartição pública. Digo isto para quem não está a olhar para o relógio, claro.
Determinada a resolver de uma vez só alguns problemas relacionados com a logística das delícias do lar, a mega-repartição da Loja do Cidadão é, de facto, o paraíso para o consumidor. Depois de tirar a ficha da ordem, sento-me ao lado de mais duas portadoras de facturas. A conversa aqui, à semelhança do que acontece em consultórios médicos, vai dar sempre ao mesmo: queixas (a minha úlcera é maior que a tua, pago mais impostos do que tu, olha aqui o inchaço no joelho).
Esquecendo-se por uns instantes dos problemas do contador, a mais velha contava à outra (que aparentemente tinha acabado de conhecer) a razão do luto. " Coitadinho do meu tio, adromeceu e ficou-se que nem um passarinho. Uma morte santa." Quem ficou satisfeita por sair daquele velório "municipalizado", fui eu, com o meu número a piscar. A menina aponta-me para uma caixa tipo multibanco ao lado de um poster de propaganda do Simplex e pasme-se, aquilo era uma máquina do demo. Põe-se o código de barras da factura sobre o leitor, enfiam-se as notas por uma ranhura, recebe-se o troco e já está a factura paga. Sem dor.
Entretanto, já se tinha aproximado um cavalheiro com ar entendido. Desconfio que foi confirmar se eu tinha saloia escrito na testa.

terça-feira, janeiro 9

Liberdade

Que prazer não ter agenda para escrever

nem cumprir um dever.

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