domingo, janeiro 21

Com um brilhozinho nos olhos

Perto de minha casa há uma florista. A avaliar pelo entra-sai, há muita clientela a comprar flores(e a que preços!). Mas hoje, não é a clientela no geral que me interessa. São os homens. Reparo com atenção quando saem com os seus ramos de flores (gostam muito do rosas, os cavalheiros), com alguma timidez, embaraço, sem jeito, a atravessar a rua em passo de corrida, pode ser que ninguém os veja, Deus queira que ninguém os aborde. O homem com quem hoje me cruzei, por exemplo, com um valente ramo de flores, quase que poderia dizer que sorria. Um sorriso apertado, envergonhado, indecifrável, mas era um sorriso. Como se o acto de transportar aquele ramo não estivesse na sua natureza, receoso que alguém lhe adivinhasse os pensamentos, o destinatário, lhe descobrisse a intenção, lhe capturasse o momento. No entanto, aquele homem sem jeito e possivelmente sem hábitos de florista, sorria. Aquelas flores tinham uma história, talvez fossem o início ou o mais um momento de uma história. Um romance, pensei logo. Um ramo de flores para fazer alguém feliz. E quando o homem se cruzou comigo, percebi que a felicidade era também aquele momento. Onde estarão agora aquelas flores? Abandonadas, espero, mas não esquecidas. Como lhes compete. Com um brilhozinho nos olhos dissemos sei lá o que nos passou pela tola do estilo: és o number one dou-te vinte valores és um treze no totobola e às duas por três bebemos um copo fizemos o quatro e pintámos o sete e com um brilhozinho nos olhos ficámos imóveis a dar uma de tête a tête

10 Comments:

Blogger Jansenista said...

Ó Miss, não andaremos nós... um bocadinho... abrileiros?... What next? Brigada Vitor Jara?

10:19 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ma chere Madame Perles,

Got you!

(Somo mesmo vizinhos!)

Olha, dê cumprimentos ao Zé Leite Pereira, trabalhei com ele num Diario (falido) ligado a um projecto politico(falido), bons tempos...

Beijocas,

Telheiras Anonymous

PS: Eu antes costumava ir comprar Flores ao Colombro e ao Fonte Nova...

12:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bonita crônica. Bom texto, linda foto de sábado!Rosas...rosas...

12:39 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Jansenista,
Apesar de correr o risco de ser um comportamento desviante, eu gosto desta (e de outras) músicas do Sérgio Godinho :)

Vitor quÊ????
:)

4:15 da tarde  
Blogger Maria de Fátima Filipe said...

Concordo consigo Miss Pearls, o Sérgio Godinho tem canções muito bonitas, e trata bem a lingua portuguesa, como se vê neste brilhozinho nos olhos tão apropriado ao seu bonito texto.
:)

6:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Se calhar as flores não são para os homens oferecerem a senhoras, mas para os próprios homens decorarem as suas casas. Algo que a sociedade (ainda) não vê com muitos bons olhos. Daí a vergonha. É uma teoria, pelo menos.

Jaime
www.blog.jaimegaspar.com

6:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nunca ofereço flores; acho ridículo e vulgar. A única vez que o fiz foi para dizer a alguém que por ela fazia o que antes nunca tinha feito por ninguém na vida. Não o tornei a fazer.

JC

8:25 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

"A única vez que o fiz foi para dizer a alguém que por ela fazia o que antes nunca tinha feito por ninguém na vida. Não o tornei a fazer."

Lucky girl!
:)

8:53 da tarde  
Blogger definitivo said...

Não concordo, o homem com quem te cruzaste não era eu.
Explico-me: compro flores há vários anos. Por motivos vários. Nunca me "encolhi" ao comprar flores. Pelo contrário, sempre fiz questão de, ao entrar numa florista - acto, tido como "coisa" meramente feminina, pelas mulheres, claro! -, mostrar que, os homens, também têm o direito a serem "vistos" como... homens. E o problema reside exactamente neste ponto: as mulheres, melhor, certas mulheres, quando vêem um homem - sozinho! -, num talho, numa feira, no mercado do peixe, na frutaria, na padaria, na mercearia, na retrosaria, no médico de família (com o filho), na pediatra (do filho), no pronto a vestir (pró filho)... na florista... ficam surpreendidas por se depararem com um cenário que, segundo parece, lhes parece ... do avesso.
Vendo a "coisa" pelo outro lado, não será que, a mulher, ao ver um indivíduo numa florista a escolher flores, lhe pára qualquer coisa em qualquer sítio, e fica quieta, muito quita, a ver aquela situação tão... singular?...
E se, em vez de uma mulher, forem muitas as mulheres, naquela florista, a terem a mesma sensação? "Um homem aqui?!... Coisa estranha, deixa lá ver como ele se comporta e - pior - quais as "intenções" dele.
Dificilmente, numa situação destas, um homem - sozinho -, não se sentiria como um elefante numa loja de porcelanas.
Disse ali em cima que compro flores há muitos anos. É verdade. E nem sempre é o romantismo que me comanda: há outros sentimentos que estão muito para além duma declaração de amor: a campa da minha mãe também gosta de flores. Não a do meu pai: embora ele "more" na mesma campa - por debaixo da minha mãe (porque é preciso a morte para que, pelo menos uma vez, se consiga ficar por cima?...) -, é na campa da minha mãe que eu ponho as flores.
Embora compreenda o rumo que queres dar ao teu texto, miss pearls, quando entro numa florista, faço questão de mostrar que entrou ali um homem. Pró que der e vier. Tanto mais que até os preços regateio: "os antúrios estão murchos"; "estas rosas não lhe parecem cravos?"; "as gerberas perdem muito a cabeça"....

Miss pearls, as coisas estão a mudar. Muito depressa. Tem algumas até, que estão a mudar depressa demais.


PS: miss pearls, por causa do texto ali acima, não me interpretes tão erradamente: não costumo ser assim tão intimista nem, muito menos, ser tão desprovido de sentido de humor. Não é para continuar, portanto.

1:32 da manhã  
Blogger definitivo said...

Não concordo, o homem com quem te cruzaste não era eu.
Explico-me: compro flores há vários anos. Por motivos vários. Nunca me "encolhi" ao comprar flores. Pelo contrário, sempre fiz questão de, ao entrar numa florista - acto, tido como "coisa" meramente feminina, pelas mulheres, claro! -, mostrar que, os homens, também têm o direito a serem "vistos" como... homens. E o problema reside exactamente neste ponto: as mulheres, melhor, certas mulheres, quando vêem um homem - sozinho! -, num talho, numa feira, no mercado do peixe, na frutaria, na padaria, na mercearia, na retrosaria, no médico de família (com o filho), na pediatra (do filho), no pronto a vestir (pró filho)... na florista... ficam surpreendidas por se depararem com um cenário que, segundo parece, lhes parece ... do avesso.
Vendo a "coisa" pelo outro lado, não será que, a mulher, ao ver um indivíduo numa florista a escolher flores, lhe pára qualquer coisa em qualquer sítio, e fica quieta, muito quita, a ver aquela situação tão... singular?...
E se, em vez de uma mulher, forem muitas as mulheres, naquela florista, a terem a mesma sensação? "Um homem aqui?!... Coisa estranha, deixa lá ver como ele se comporta e - pior - quais as "intenções" dele.
Dificilmente, numa situação destas, um homem - sozinho -, não se sentiria como um elefante numa loja de porcelanas.
Disse ali em cima que compro flores há muitos anos. É verdade. E nem sempre é o romantismo que me comanda: há outros sentimentos que estão muito para além duma declaração de amor: a campa da minha mãe também gosta de flores. Não a do meu pai: embora ele "more" na mesma campa - por debaixo da minha mãe (porque é preciso a morte para que, pelo menos uma vez, se consiga ficar por cima?...) -, é na campa da minha mãe que eu ponho as flores.
Embora compreenda o rumo que queres dar ao teu texto, miss pearls, quando entro numa florista, faço questão de mostrar que entrou ali um homem. Pró que der e vier. Tanto mais que até os preços regateio: "os antúrios estão murchos"; "estas rosas não lhe parecem cravos?"; "as gerberas perdem muito a cabeça"....

Miss pearls, as coisas estão a mudar. Muito depressa. Tem algumas até, que estão a mudar depressa demais.


PS: miss pearls, por causa do texto ali acima, não me interpretes tão erradamente: não costumo ser assim tão intimista nem, muito menos, ser tão desprovido de sentido de humor. Não é para continuar, portanto.

1:33 da manhã  

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