Dress Code II
Quem frequentava noite após noitada nos anos oitenta os bares de Lisboa, em particular o Frágil, deve recordar-se de como o dress code, ou como hoje se diz, o look, que condicionava o acesso ao bar com a melhor música da cidade e a um meio onde poucos punham os pés. A Ana Sá Lopes já escreveu sobre isso, tendo sido ela própria vítima de uma espectacular humilhação por não ter caído nas graças da porteira: "O meu companheiro era um rapaz lindíssimo e brilhante, mas nunca se vestiu de preto monocolor, que eu me lembre".
Apesar dos tempos, da modernidade e da democracia, o ar cool continua em vigor como um dress code universal e intemporal. Só a idade (sim, exactamente isso que está a pensar, sem pinga de romantismo), nos "liberta" de protótipos e das ditaduras da noite. E as outras tribos? Lembram-se das calças justinhas até aos joelhos e largas para baixo, sapatos e carteira de aplicação dourada, lenço comprido a prender o cabelo, pullover à cintura e franja enorme em cima dos olhos? Esse uniforme teve as suas origens na Avenida de Roma e rapidamente se alastrou pelo país, em particular às zonas urbanas. Todas vestidas de igual? Aparentemente sim, mas as marcas dos sapatos e das carteiras, voilà, faziam toda a diferença. No início era o grená, o cinzento e o azul, mas ainda me recordo de umas calças verde alface. ..figuras tristes.
E quando o dress code é exactamente não ter dress code ?Ou melhor, e quando se nasce com o dress code? Sem dinheiro, mas com o código incorporado? Ah! Isso é ser bcbg - bon chic bon genre. Não vem na National Geographic mas em livros como Official Preppy Handbook (americano), Official Sloane Ranger Handbook (inglês) ou BCBG, Le Guide du Bon Chic Bon Genre.
Esses grupos são, porventura, os mais elitistas, os que fogem das revistas como o diabo da cruz. Barricados em casas ancestrais que eventualmente até alugam para casamentos, estes sobreviventes das cores pastel e do verde caqui, distinguem de forma pouco democrática os detentores do dinheiro velho dos arrivistas do dinheiro novo. Dinheiro velho até pode significar nenhum dinheiro, mas é tudo uma questão de berço. Os naturais destes ecossistemas geralmente acasalam entre si, estimam a vida no campo (os solares) e podem ser encontrados nos bairros antigos das cidades por detrás de fachadas modestas ou portões discretos. À primeira vista, um incauto pode confundi-los com a tribo do "marialvismo", mas nada de confusões. Assim de memória não estou a ver bigodes retorcidos...
Porém, a parte mais significativa destas tribos low profile encontra-se, naturalmente, no Reino Unido (sloane) . Tanto a América (preppy) como a França têm as suas reservas naturais próprias, mas a essas só as conheço de filmes, de livros e da televisão.
Ainda encontrei mais alguns grupos caricatos pelo caminho e de que falarei mais tarde, mas agora fico agora por aqui: tenho chá e canasta ali para os lados da Escola Politécnica.
Fotog From Casual to Dazzle: Casual Chic-The Oprah Winfrey Magazine
9 Comments:
Et voilà! Tinha-me esquecido do verde caqui. Irresistível.
:)
Obrigada Miss Pearls .. que bom recuerdo agora .. tive essas calças justas e largas que refere .. tão justas que era complicado subir o mais baixo dos degraus .. e como nos divertíamos!
Abraço
Onceinawhile
E quando o dress code é não ter dress code até se pode, de vez em quando, fugir a todas essas regras.
Sim. AS figuras que faziamos com aqueles trajes era. no mínimo hilariante. Mas na altura pensavamos que estavamos o máximo :)
Marta,
os dress codes em excesso podem ser muito chatos!
Ariel,
O verde caqui é um must :)
1. Nos ditos anos oitenta, fartei-me de entrar no "Frágil" de fato e gravata. Ou de "blazer" com ou sem gravata. Ou de camisa e calças. Nunca fui "barrado". Devo ter tido sorte...
2. Aconselho a leitura de "A Cartilha do Marialva" de José Cardoso Pires.
3. Uma das características do mundo actual é o "aligeiramento" dos "dress codes". Que quer isto dizer? Se durante muito tempo as pessoas se vestiam de modo diferente para cada acontecimento (e atenção, não eram só as classes possidentes, mas também o povo vestia o seu traje domingueiro) hoje em dia existe a tendência para não mudarem a sua maneira de vestir consoante o local ou o acto. E se o fazem é entre o acto profissional e as actividades de lazer, homens e mulheres de modo diferenciado. Estas, "ajanotam-se" para ir jantar fora; eles vestem algo mais desportivo. Isto pode ver-se um pouco por toda a Lisboa, nos locais trendy, e o resultado é devastador!
Cumprimentos
JC
mas BCBG ainda há muito poucos!! vê-se cada coisa na rua, pior que os anos 70.
My Dear Miss Pearls,
Um tão aprofundado conhecimento do Dress Code, entre outros aspectos, é sem duvida muito anterior ao aparecimento de Telheiras como um dos Quartiers BCBG de Lisboa... N'est ce pas ?
Have a nice weekend.
Your's truly,
Telheiras Anonymous
Durante a minha estadia mais prolongada em Paris, deliciava-me a ler as páginas do Le Figaro, trés BCBG, onde a reserva anunciava as suas mortes, casamentos, nascimentos, a baronesa de xxxx em solteira Marie Louise xxxx, tem o prazer de anunciar ou o conde de xxx e a condesa de xxx, em slteira Marie Therese.... cumprem o doloroso dever de .... Sim em França, o tamanho da reserva é espantoso, mas nunca os identifiquei nas ruas de Paris.
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