domingo, janeiro 14

Vidas no cabeleireiro

Fico sempre espantada com a forma desabrida como o mulherio fala, no cabeleireiro, das suas vidas particulares ou das de terceiros. Indiferentes a quem as rodeia, por entre uma penteadela e uma tesourada, vão debitando as maiores indiscrições sobre maridos, filhos, família, amigos, outros e outras. O apito de partida para o relambório é, geralmente, a simples e simpática pergunta do cabeleireiro "Como vão as coisas". Tudo o mais é história. Ouvem-se indicrições, despeitos, injustiças, calamidades sobre tudo e todos. Já me aconteceu, ter ao meu lado no cabeleireiro, alguém que falava de pessoas que me eram próximas e ter tomado conhecimento, ali mesmo, debaixo das pratas com tinta, de factos que não conhecia. A pobre da cabeleireira, impotente, nada podia fazer. Espetar a tesoura na nuca da senhora, para a avisar da indiscrição, não era certamente o mais apropriado. Conheço ainda outro caso muito antigo, que se tornou num "clássico" das minhas memórias, mas ambos abalaram algumas vidas.
Outro divertimento, entre uma mise e a manicure, são as revistas cor de rosa. Ali à mão, basta alguém abrir uma destas obras de referência dos cabeleireiros, para se saber tudo ou quase tudo sobre as criaturas que se puseram a jeito para a fotografia: "Esta vivia no prédio da minha cunhada, espertinha esta, assim que se apanhou com um filho, começou a tratar mal os miúdos do marido e antes do palerma ter visto com quem se tinha metido, já ela lhe tinha metido os pais velhotes num lar (a minha preferida), aquela ficou a dever no cabeleireiro, o outro era visto de carro perto da casa da sogra de uma amiga, olha, olha, já a vi sem maquilhagem, um trapo, a lata desta que nunca vai buscar os filhos a horas, ricas mamocas, sim senhora, assim também eu, coitada, o filho desta é drogado, está numa clínica" e assim por diante.
"Borlas, férias pagas*, um lugar melhor no teatro, um bilhete para a ópera, jantares, relógios, carros emprestados, vestidos de criadores à medida", valem esta devassa?
Talvez não, mas são sempre atendidas primeiro que eu.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ja fiquei a saber que uma prima estava com uma doença grave numa ida ao cabeleireiro....e na vez seguinte fiquei a saber do marido...tudo era verdade....mas a minha mãe foi pior....ouviu que o primo ja tinha morrido e ela tinha estado a almoçar com ele...essa era mentira....so boato

6:39 da tarde  
Blogger Eurydice said...

A fé na raça humana soçobra nas cadeiras de cabeleireiro, sem dúvida. Parece que as pratas destilam a maldade que existe em cada uma, criando a quintessência do elixir viperino!

7:30 da tarde  
Blogger Eurydice said...

Ah, e claro que têm de ser atendidas primeiro: para ver se não envenenam o ar as outras respiram!... ;) ehehhe

7:33 da tarde  
Blogger Maria de Fátima Filipe said...

Cá por mim por um bilhetinho para a ópera e um vestidinho à medida de um criador escolhido por mim... não sei não, não me tente, que a carne é fraca...eheheh!!!
:)

9:26 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Ariel, até eu já saí, por acaso, numa dessas revistas, no funeral do pai de um amigo, que era actor de teatro.

12:28 da manhã  
Blogger JCA said...

Cara Isabel no meu "barbeiro" não se fala de "bola","gajas" e outros assuntos do universo masculino porque simplesmente é uma cabeleireira, e digo-lhe, estou muito bem servido,tem sempre MUITOS BONS ARES.

:)Espero que esteja melhor do seu Stess.

3:37 da tarde  
Blogger Eurydice said...

Mais valia falarem de "gajos bons" e de trapos, convenhamos!... ;)
Mas são umas criaturas muito SÉRIASSSSSSS!...

9:47 da tarde  

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