Vidas no cabeleireiro
Fico sempre espantada com a forma desabrida como o mulherio fala, no cabeleireiro, das suas vidas particulares ou das de terceiros. Indiferentes a quem as rodeia, por entre uma penteadela e uma tesourada, vão debitando as maiores indiscrições sobre maridos, filhos, família, amigos, outros e outras. O apito de partida para o relambório é, geralmente, a simples e simpática pergunta do cabeleireiro "Como vão as coisas". Tudo o mais é história. Ouvem-se indicrições, despeitos, injustiças, calamidades sobre tudo e todos.
Já me aconteceu, ter ao meu lado no cabeleireiro, alguém que falava de pessoas que me eram próximas e ter tomado conhecimento, ali mesmo, debaixo das pratas com tinta, de factos que não conhecia. A pobre da cabeleireira, impotente, nada podia fazer. Espetar a tesoura na nuca da senhora, para a avisar da indiscrição, não era certamente o mais apropriado.
Conheço ainda outro caso muito antigo, que se tornou num "clássico" das minhas memórias, mas ambos abalaram algumas vidas.
Outro divertimento, entre uma mise e a manicure, são as revistas cor de rosa. Ali à mão, basta alguém abrir uma destas obras de referência dos cabeleireiros, para se saber tudo ou quase tudo sobre as criaturas que se puseram a jeito para a fotografia: "Esta vivia no prédio da minha cunhada, espertinha esta, assim que se apanhou com um filho, começou a tratar mal os miúdos do marido e antes do palerma ter visto com quem se tinha metido, já ela lhe tinha metido os pais velhotes num lar (a minha preferida), aquela ficou a dever no cabeleireiro, o outro era visto de carro perto da casa da sogra de uma amiga, olha, olha, já a vi sem maquilhagem, um trapo, a lata desta que nunca vai buscar os filhos a horas, ricas mamocas, sim senhora, assim também eu, coitada, o filho desta é drogado, está numa clínica" e assim por diante.
"Borlas, férias pagas*, um lugar melhor no teatro, um bilhete para a ópera, jantares, relógios, carros emprestados, vestidos de criadores à medida", valem esta devassa?
Talvez não, mas são sempre atendidas primeiro que eu.
7 Comments:
ja fiquei a saber que uma prima estava com uma doença grave numa ida ao cabeleireiro....e na vez seguinte fiquei a saber do marido...tudo era verdade....mas a minha mãe foi pior....ouviu que o primo ja tinha morrido e ela tinha estado a almoçar com ele...essa era mentira....so boato
A fé na raça humana soçobra nas cadeiras de cabeleireiro, sem dúvida. Parece que as pratas destilam a maldade que existe em cada uma, criando a quintessência do elixir viperino!
Ah, e claro que têm de ser atendidas primeiro: para ver se não envenenam o ar as outras respiram!... ;) ehehhe
Cá por mim por um bilhetinho para a ópera e um vestidinho à medida de um criador escolhido por mim... não sei não, não me tente, que a carne é fraca...eheheh!!!
:)
Ariel, até eu já saí, por acaso, numa dessas revistas, no funeral do pai de um amigo, que era actor de teatro.
Cara Isabel no meu "barbeiro" não se fala de "bola","gajas" e outros assuntos do universo masculino porque simplesmente é uma cabeleireira, e digo-lhe, estou muito bem servido,tem sempre MUITOS BONS ARES.
:)Espero que esteja melhor do seu Stess.
Mais valia falarem de "gajos bons" e de trapos, convenhamos!... ;)
Mas são umas criaturas muito SÉRIASSSSSSS!...
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