segunda-feira, março 30

Maurice Jarre - Doctor Zhivago - Lara's Theme

Tempos "modernos"

Provavelmente deve-se ao meu pavor, cada vez maior, em conduzir e viajar nas estradas portuguesas. Também por isso, concordo com cada palavrinha que o Francisco escreveu:

"Problemas de geografia: Ontem, a CP encerrou as linhas do Corgo e do Tâmega sem avisar ninguém. Contava com o silêncio de todos e fê-lo pela calada, desprezando toda a gente. Mas a culpa não é da CP; é, antes, de todos os pacóvios que transformaram o país num tapete de asfalto, bom para a camionagem, para as empresas de obras públicas e para o consumo de gasolina. Em vez de investir em comboios e serviços decentes para passageiros e mercadorias, os sucessivos governos destruiram um património secular e uma parte da nossa geografia cultural – tudo em nome das ‘grandes obras’ e do ‘grande dinheiro’. Hoje há pouco a fazer. Há alcatrão, cimento, camionagem e gasóleo. Tudo caro. Os comboios portugueses inventaram um país, povoaram-no, desenharam a nossa geografia. Era um país mais bonito do que este." [No Correio da Manhã.]

Adenda ao post

Fotografia Ecclesia: Festas, feiras e romarias de comboio

sábado, março 28

Dou as boas-vindas ao blog Clube das Repúblicas Mortas do Prof. Rui Ramos e do Henrique Raposo
Seja também bem-vindo o Blog da Sábado (linha direita), onde escrevem o Rui Castro, o João Miranda, o João Vacas e o João Gonçalves. Uma excelente inciativa da revista Sábado, da qual sou uma leitora habitual.
Fotografias de painéis de azulejos na entrada de um quartel já desactivado.

Do interior

Enquanto na cidade se discute o novo Provedor, a polémica do penalty da final da Taça da Liga e os prémios milionários pagos pela seguradora AIG, nas pequenas aldeias do interior anda tudo ralado com a obrigatoriedade de instalar caixas de correio - normalizadas - com listas de espera nas casas de ferragens.
Brevemente neste blog recém chegado da terra das giestas, do granito e dos campos bem- cheirosos.

Farto de não poder caminhar pelo passeio? Também eu.

"Quero andar a pé! Posso? Os peões nas nossas cidades têm visto o seu diminuto espaço constantemente usurpado por veículos estacionados ilegalmente. Passeios totalmente ocupados, passadeiras bloqueadas e logradouros totalmente rodeados de carros estacionados impedem a passagem dos peões. Até carros a circular nos passeios são situações relativamente banais. Perante o laxismo dos cidadãos e a ineficácia conivente das autoridades, tentaremos alertar para cidades que envergonham. Colabore!"
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IMPRIMA-ME E COLE-ME!
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Autocolante em PDF : Para impressão em PDF
Post no CidadaniaLX e Carmo e Trindade

domingo, março 22

Sábado

É Domingo e o dia está escuro e silencioso. Aos contrário destas manhãs, as ruas parecem respirar ou ganhar fôlego para os dias úteis com gente em trânsito para empregos, compromissos, enfim, a viver quase sempre a correr.
Os Sábados são um pouco atípicos com movimentos a horas marcadas. Uma canseira, melhor dizendo. São muitos os que trabalham seis dias por semana, sem Sábados de manhã para tratar da vida, que tem sempre tanto que tratar, assuntos inadiáveis ou outras ralações que aparecem sem o nosso consentimento.
Aos que trabalham aos Sábados, vejo-os de rompante, sem tempo a perder, ou aproveitando uma ou outra aberta que o comércio local vai permitindo antes do transporte para casa, com vontande de regressar para mais uma canseira da vida doméstica.
Mas não se julgue que os que não trabalham levam as manhãs com mais lentidão e menos relógio. Muito corre esta gente. As senhoras, de cabelo arranjado nos cabeleireiros, deitam contas à vida por tanto tempo perdido entre escovas e secadores. É um tempo comum a muitas de nós, não há que reclamar, que é mesmo assim, mas em compensação, estão bem mais bonitas, de cabelos compostos e unhas arranjadas. É vê-las no talho, na lavandaria, em passo de corrida ou contra-relógio para (mais) um compromisso que não podem faltar.
Veêm-se poucos velhos. Preferem as manhãs dos dias úteis, os que gozam ainda de alguma autonomia para tratarem dos restos das suas vidas em farmácias, correios, médicos, um jogo de cartas ou o repouso no jardim com os netos que ainda podem ajudar a criar. Lisboa já foi uma cidade amável para os velhos, agora já não é. O cidadão carro tomou-lhes as pracetas, os passeios e os locais de lazer. E a gente deixa, egoístas, mal educados, defensores de causas longínquas e os nossos ali tão perto. Ausentes das manhãs de Sábado estão também os jovens, no sono dos justos depois de alguma noitada, de persianas corridas e quartos silenciosos.
Para além das senhoras de cabelo composto, dos pais que transportam os filhos de fato de treino (e algums olheiras), de actividade em actividade extra-curricular, veêm-se alguns esforçados desportistas, os cavalheiros do pão e do jornal, mulheres de sacos cheios, e jovens pais com os carrinhos de bebé.
Gosto de reparar nos amantes, cabelos ainda húmidos, em passo lento, cúmplices e de olhar ausente deste quotidiano. O tempo deles é outro, como o café que tomam sem pressas, em movimentos que só eles parecem reconhecer.
E nos Sábados de manhã na cidade grande, também ando eu. Que dirão os outros de mim?
Até breve, provavelmente até outro Sábado, numa cidade onde as pessoas têm nome.
Ron Eschete trio live at Steamers in Fullerton CA You Must Believe in Spring

sábado, março 21

American way

Nestes últimos dias e por diversas razões, recordei-me deste post do Luis M. Jorge. Nesta terra de apagada e vil tristeza, onde até o arroz é malandrinho, não há forma de largarem a Idade Média:
"Há uns dez anos, no final da minha primeira viagem aos Estados Unidos, cheguei a Greenwich Village suado, nauseabundo, de calças esfarrapadas e chanata de couro com dedo poeirento a despontar. Enquanto me preparavam o quarto, tive a rica ideia de visitar o quarteirão. Entrei por desfastio numa galeria de arte e pus-me a olhar para um quadro, que considerei logo uma homenagem muitíssimo escancarada. Afinal era uma reprodução que tinha levado uns toques do autor: um acabamento a tinta de ouro, ou coisa que o valha, sobre o rosto da Marilyn Monroe. Nessa altura fui interrompido por um sujeito de falinhas mansas, arzinho chique e insinuante, que desatou a pôr a obra nos píncaros — pois tinham sido feitas apenas meia-dúzia de reproduções com o tal acabamento do mestre, o que a tornava muito recomendável e um óptimo investimento. Demorei alguns minutos até perceber que o homem me queria vender um Andy Warhol. A mim, praticamente um homeless, de roupa encardida e cheiro a bedum. O capricho, descobri a tempo, custar-me-ia doze mil contos. Saí estonteado e entrei na Armani Exchange. Depois dos doze mil contos tudo me parecia barato, e lá acabei por comprar três ou quatro peças. A menina do balcão perguntou quem me ajudara a prová-las e eu, que tinha agido num ápice, apontei-lhe um colega que nunca vira mais gordo, pois sei que ali se ganha à percentagem. O colega veio ter comigo de olho meloso, por pura gratidão. No minuto seguinte já me convidara para um pequeno-almoço exclusivo, com clientes habituais, em que me seria revelada uma nova futilidade qualquer. Aquilo sim, era vida! Chegara mal enjorcado a Nova Iorque, e ao fim de meia-hora já tudo me pertencia. Em vez de ser escorraçado da Zara, recebia convites da Armani. Em vez de me darem esmolas, tentavam vender-me obras de arte quase originais. Comecei a entender a conversa sobre a terra das oportunidades. (continua com Obama e Sara Pahlin)"
Castelo Novo Penedo Redondo e Marateca
Les Demoiselles de Rochefort-(Jacques Demy & Agnès Varda, 1967) Chanson de Maxence. Je l'ai cherchée partout j'ai fait le tour du monde De Venise à Java de Manille à Hankor De Jeanne à Victoria de Vénus en Joconde Je ne l'ai pas trouvée et je la cherche encore (....)do blog Caldeirada Rica

sexta-feira, março 20

Celebra-se este mês o bicentenário do nascimento de Edgar Allan Poe com diversas actividades que estão a ter lugar em Lisboa e que, infelizmente, não pude acompanhar como gostaria.
Poe foi provavelmente o autor que estudei com maior gosto, de quem li muito (sem ser em fotocópias) e por quem continuo a interessar-me. Não que tenha uma especial predileção pelo gótico, mas talvez explique o meu gosto pelos policiais, em particular os de carácter psicológico.
A propósito de Poe e de corvos, recordei-me de uma antiga crónica de Pacheco Pereira publicada em 1994 no DN*, a propósito de uma viagem aos países de leste :
"Cemitério: Às 6 da tarde, o cemitério de Novodevitchie não é dos sítios mais agradáveis para se estar. É já noite e a neve que cai abundantemente torna quase indiferenciados os caminhos e os túmulos mais à flor da terra. Não está ninguém e a guarda do cemitério abriu-o por deferência. Não há um único ruído, a não ser algum tráfego distante que permanece como um zumbido de fundo - a rua termina numa zona de complexos desportivos onde a esta hora e neste dia não há obviamente desportistas. A única coisa que se move são bandos de corvos que se espalham pelas copas das árvores e que em nenhum outro sítio como este parecem fadados a repetir o sinistro never more do poema de Poe.
Never more, "nunca mais", devem dizer todos estes túmulos daquele que foi o cemitério oficial das grandes personalidades do regime soviético, segundo em importância, só ultrapassado por essa suprema honra da sepultura nas paredes do Kremlin" (...)
*"O nome e as coisas: textos dos anos 80 e 90"; 1997, Editorial Notícias, pag. 272

quinta-feira, março 19

Colecção de fotografia

São quase 3 mil fotografias raras que a Fundação Gulbenkian guardava, até agora, nos seus arquivos, a uma temperatura de 5ºC.Desde Julho, podem ser vistas na popular rede social Flickr.A Fundação quer conquistar novos públicos e o objectivo parece atingido: o catálogo online já ultrapassa as 200 mil visualizações. .
-Painéis de azulejos da Galeria das Artes do Palácio dos Marqueses de Fronteira. Azulejos do século 17 -Estação do Rossio e Colina do Carmo

Nova corrente, nova rodada

Cá vou eu de novo, e só por ser para si, dar uma breve nota da minha erudição literária, revelando ao mundo (ansioso por me ouvir) a quinta frase da página 161 do livro que tenho mais à mão.
À hora a que escrevo este post, garanto-lhe que já tive durante o dia leitura da mais variada e, também por isso, não tenho nenhum livro à mão, mas sim junto aos pés do sofá, "O livro essencial das massas". Não se trata de um manual que ensina a multiplicar a conta bancária, mas a cozinhar carbonara grelhada, exactamente como está na 5ª linha "Cozinhe o linguine num tacho com água salgada (...)".
Desgraçadamente, mesmo que quisesse fazer batota ou alguma pequena trambiqueirice com o livro de cabeceira, seria logo apanhada, como aquela multa que nunca irei esquecer. Cada um é para o que nasce.
Até breve. Afinal, não custou nada.

No final da moda

A moda despede-se por esta estação e eu também. Foi um final de festa em cheio, cheia de gente que veio ver a fantástica colecção do Filipe Faísca e também fazer-se ver fora das passadeiras, locais com "códigos" próprios só perceptíveis a olhares mais acostumado a estas andanças. Curiosos os tempos de espera, de paragem, ver, deixar-se ver, ajeitar um sorriso, uma pose a fixar nas revistas, um rosto e um nome com crédito de legenda. Quanto a mim, ainda não foi desta que os percebi, mas a minha vida também não é isto. Acho que tem a sua graça e pronto. Continuarei feliz no meu anonimato, contente pelos momentos divertidos e satisfeita por estar aqui a contá-los.

Foi com a Custo Barcelona que se fecharam as luzes: exuberante e colorida, um estranho estilo que se apende a admirar.

Agradeço de novo à organização que me proporcionou momentos bem passados, e agora vou à minha vida. Até à próxima passarela.

Hot In The City-Billy Idol

Entre a moda (8)

VÍDEO CARAS: NA MODA COM JOÃO RIBEIRO - Em busca de um lugar... (Os verdadeiros bastidores da ModaLisboa )
Bem instalada na primeira fila e após uma troca de palavras com o simpático director de um jornal satírico que me fez saltar, por uns minutos, do meu mudo e quedo anonimato, vi com prazer a colecção do Nuno Baltazar.
Muito elegantes os vestidos de silhuetas justas, os sapatos, os casacos de lã, os combinados de preto, lilás, canela e vermelho. Uma colecção sofisticada e moderna com tudo o que uma conservadora como eu vestiria sem pestanejar se houvesse justiça neste mundo. E por falar neste mundo, uma palavrinha para aquela cena moderna dos cubos de luz que mudam de cor junto à muralha da cidadela, onde se encontram os acessos ao parque de estacionamento. Acredito que seja giro até mesmo para os daltónicos, mas não oferece muita segurança de noite, pois a escuridão não permite distinguir onde termina a plataforma, ainda bastante acima do passeio. Não sei se já houve mais alguém a queixar-se, mas reclamo eu que gosto de "antiques"à maneira com globos típicos de uma antiga vila de veraneio.
Mas a verdade é que se eu fosse espertalhona e uma mulher poupada teria deixado o carro em cima dos passeios e das árvores das redondezas, que era onde estavam todos os carros topo de gama. Aliás, era divertido vê-los às voltas para não gastarem dois ou três euros num parque quase vazio.
Parece que não, mas tudo isto está na moda.

quarta-feira, março 18

Entre a moda (7)

Entre a moda (6)

ou um "relato da noite em que um perfeito ignorante se sentou na primeira fila*: .."As modelos são magras. São mesmo magras, amigos, do tipo de fazer aflição a quem aprecie medidas, digamos, normais. Se as raparigas pecam por excesso em relação ao estereótipo, já os rapazes ficam aquém no parâmetro altura: seja porque elas usam saltos altíssimos, seja porque, todos juntos, não fornecem termo de comparação, a verdade é que parecem mais baixos do que "deveriam" ser.Cá fora é que é. As moças dos stands publicitários marcam pontos e é preciso respirar fundo três vezes e beijar a aliança outras duas para não nos atirarmos de cabeça na direcção da cadeira vazia do cabeleireiro. (...)
(...)Sinto-me quase como o Zé Pedro, dos Xutos e Pontapés, que desfilou para o estilista Miguel Vieira e arrancou a maior ovação da noite. Eu não arranquei aplausos, mas fui fotografado por um profissional na ModaLisboa. Para quem chegou aos 40 anos sem saber que as meias não têm de combinar com a camisa, isto é um grande salto civilizacional."
Fotografias: Colecção de malhas Jotex por Luis Buchinho, Sábado
Por curiosidade, o blog IN Parties, tudo sobre a society e, claro, sobre a Moda Lisboa/Cascais. Feito por quem conhece os nomes.

segunda-feira, março 16

Strange - Grace Jones

domingo, março 15

Entre a moda (5)

Como se de repente tivesse havido um chamamento do além, desapareceram praticamente todas as caras conhecidas das televisões e revistas. Por falar nisso, tenho que fazer um upgrade nos meus conhecimentos das publicações rosas ou dedicar-me a ver uma ou outra novela. O facto é que praticamente não conheço nenhuma das caras larocas, gente nova, fresca, gira e a mais procurada pelos fotógrafos. Não confesso qual a última novela que vagamente segui, mas recordo-me de ouvir a minha mãe queixar-se que isto "das gémeas não anda, nem desanda".
Voltando ao desfile, para além da clássica Lili, da sua entourage e do presidente da edilidade, poucas eram as celebrities que se dignaram assistir ao desfile do "Cascais Moda", onde se exibiram modelos de algumas lojas locais para esta estação. Foi a oportunidade para ver algumas manequins mais ou menos sorridentes e para se ouvirem aplausos por entre os desfiles, certamente de familiares ou de proprietários dos estabelecimentos.
Muitas sabrinas, fatos de banho, blusões estampados com as marcas fashion, azul marinho, castanho e vestidinhos leves, tudo ao jeito local com vistas para a baía.
Chaka Khan - Disrespectful 07 Mary J Blige

Entre a moda (4)

Foi numa sala recheada de colunáveis que o Miguel Vieira exibiu na 5ª Feira as suas propostas para a nova estação. Como já referi, achei a colecção fantástica, em que dominavam os vestidos e fatos pretos, lindos adereços brilhantes, um corte simples, justos à cintura, excelentes tecidos e acabamentos.
Se tivessem tamanhos grandes, uma conservadora como eu, vestiria, com o maior prazer, tanto os vestidos compridos como os de cocktail. Juro pelas alminhas que faria uma cara bem mais feliz e satisfeita do que as expressões sisudas dos modelos que passaram esta e outras colecções. O rapaz dos Xutos & Pontapés não desdourou no desfile, a avaliar pela grande salva de palmas que recebeu, assim como o criador da colecção, que bem as mereceu.

Entre a moda (3)

Nas páginas de um policial

Espero que o Tiago Moreira Ramalho do Corta-Fitas não esteja à espera de grandes tiradas filosóficas sobre as minhas leituras de momento quando me convidou para transcrever a5ª frase da 161ª página do livro que tenho mais próximo.
Pois um bom policial é sempre uma excelente escolha e a Anne Perry uma fantástica escritora, não fossem as mulheres as minhas autoras favoritas do género.
Do livro "O cadáver de Bluegate Fields", a frase que corresponde a esta corrente blogoesférica:
(...) e o facto de nenhum dos anteriores patrões ter tido qualquer queixa dele.(...).

sábado, março 14

Entre a moda (2)

Julgo que esta será a 5ª vez que estive numa edição da Moda Lisboa, graças à simpatia da organização, que considero muito experiente e profissional. Pouco a pouco vou percebendo os "códigos" do que se passa fora da passarela, o único que posso aceder, visto que desconheço quase por completo o mundo da moda, o que também não me inibe de escrever sobre o evento, não faltava mais nada.
Antes de passar aos desfiles, e do que vi até agora ou seja, o Miguel Vieira, cuja colecção achei lindíssima (será que fazem números grandes?) e a Moda Cascais, umas breves considerações sobre os espectadores desta sessão, gente pouco anónima, ao contrário da minha humilde pessoa.
Ainda pensei chamar a este post "Estamos todas loiras", mas depois, vendo bem, há por aí muitas ruivas e multi-cores.
Nestes três anos, era suposto envelhecermos, ganharmos peso, rugas e até mais juízo. Curiosamente, e depois de uma vista de olhos às habituées do evento, só eu pareço envelhecer, ganhar peso e rugas. Em compensação, estamos todas louras e quem sou eu para escrever sobre a eventualidade de um maior ou menor juízo.
Enquanto vejo os fantásticos vestidos que desfilam, ponho-me a fazer contas à vida, porque isto de ser "loura" fica caro e exige tempo. As minhas leitoras de nuances ou madeixas, saberão bem o preço pago pela manutenção das farripas e as horas gastas entre papéis de alumínio. Agora se juntarmos um retoquezinho nos lábios, um jeito nos olhos, uma intervenção nos joelhos ou nas ancas e umas mamocas mais direitinhas, isto vai para cima de um dinheirão. Resignada, convenço-me que o importante é o interior e evitar roupa acima do joelho.
E se as mulheres andam raladas com a estética, olho com atenção para os maduros bem acompanhados, esses sim uns verdadeiros estetas.

sexta-feira, março 13

Entre a moda

quarta-feira, março 11

Moon River

Do luto

Por vezes há coincidências ou porventura sou eu que estarei mais atenta a pormenores trazidos por conversas entre amigos, tantas vezes por causa de um livro, de uma imagem ou de coisas das nossas vidas. Mas adiante. Por um acaso, cruzei-me com um velho que trazia um fumo na manga do casaco e escuto uma referência na televisão ao recato a observar com o luto: o rádio ligado e roupas garridas em tempos de luto.
Creio que em tempos já escrevi qualquer coisa sobre o luto não estar na moda. Só quem vive sobretudo nas grandes cidades é que anda sempre fashion, porque nas aldeias, muito mudou na forma de o viver, mas continuam a respeitar-se os símbolos e os sinais exteriores da perda. E se em muitas aldeias se adaptaram a novas circunstâncias, com velórios a horas marcadas, nos meios rurais duram o tempo que têm de durar, a noite toda, de porta entreaberta, faça frio ou calor.
É certo que é cada vez mais raro, mas ainda se veêm, às portas de estabelecimentos comerciais uma folha com uma cruz ou um fita negra por luto de algum dos proprietários, assim como se fazem ainda cartões ladeados a preto em sinal de agradecimento pela presença ou pelo envio de pêsames. Creio que hoje em dia as empresas da especialidade tratam de tudo, até do fornecimento de máquinas de café à entrada da sala onde se encontra o morto. Talvez por uma questão de bom senso, mas nunca vi nenhuma a tirar capuccinos ruidosos como em salas de convívio.
Recordo-me ainda do desconforto que senti quando, já em Lisboa, há muitos anos, confrontada com a morte de um conhecido, constatei não ser costume preparar e levar uma refeição à família enlutada. Nunca tal tinha visto uma coisa assim. Na minha aldeia, após o funeral, chegava a vizinhança com comida quente e tudo deixavam limpo e em ordem antes de sairem. Era assim a solidariedade comunitária e uso a palavra sem custo nem embaraço.
É possível que as visitas de pêsames também estejam em desuso (fará certamente parte de alguma etiqueta da morte), o que não é de admirar pelo enorme constrangimento sentido por ambas as partes. E se é verdade que os lenços, as meias pretas, o calendário para "aliviar o luto", tudo isto já desapareceu, creio que alguma hipocrisia desapareceu também com o silêncio forçado de televisões e rádios, bem diferente de uma genuína falta de disposição para ruído de fundo. Só quem passou por isso entenderá o que quero dizer.
Perguntarão os leitores o que me deu para uma conversa tão tétrica a estas horas da noite. A verdade é que o luto, o seu cerimonial, ou melhor, a sua prática da forma como a conheço, está a tornar-se num capítulo de manual de etnologia ou tema de antropologia. Se forem estudos de caso de lugares distantes, tanto melhor, maior o exotismo do lugar e mais excêntricos os seus indígenas. Na blogoesfera, também pouco se refere o luto, mas não é de estranhar, pois isto é suposto ser um lugar onde somos todos felizes. A morte é cada vez mais um artigo de jornal sobre o monopólio das agências funerárias, a crescente laicidade dos velórios e o preço das missas cobradas em paróquias cuja localização desconhecemos.
Talvez por isso estranhei tanto ao ver o velho com o "fumo" na manga do casaco, como se essa ostentação do luto pouco tivesse de privado, vivido entre portas de persianas corridas. De facto, nada é mais assustador que o confronto com a morte. E ele ralado.

segunda-feira, março 9

Por estas e por outras (II)

é que só falo aqui de irrelevâncias de lugares distantes:
"Idêntica ideia sobre o Presidente de Angola tem o ex-ministro e actual responsável pelas relações externas do PSD, José Luís Arnaut, que define José Eduardo dos Santos como «um chefe de Estado eleito democraticamente, que soube compreender bem a realidade política angolana e africana». «José Eduardo dos Santos é um líder com um projecto e com uma nova ambição para Angola. Penso que tem conseguido colocar Angola entre os principais "players" africanos. É uma pessoa que respeito muito como político, que tem um projecto e uma ambição», afirma José Luís Arnaut."

domingo, março 8

Dia das melhores

A celebração do Dia da Mulher encanta-me pouco. À excepção das primeiras sufragettes, mulheres valentes do seu tempo, são poucas as referências femininas na vida pública ou política nas quais me revejo, provavelmente porque nunca procurei "modelos" fora da esfera privada para me tornar um ser humano decente. Na minha casa estavam as mulheres que nunca desistiram de me ensinar e de me ajudar nas coisas pequenas e grandes da vida. Houve certamente outras referências, exemplos de desprendimento e altruísmo, fossem elas movidas pela fé ou por uma natureza generosa, às quais a minha formação não foi indiferente, mas aquilo que sou hoje, no que me tornei, foi feito de exemplos de carinho, firmeza e rectidão de carácter. É verdade que nunca estamos preparados para os problemas que jamais pensámos vir a ter de enfrentar, mas sem a força delas que trago nas minhas memórias, tudo seria bem mais difícil de ultrapassar.
António Barreto escreveu no Público de hoje "A honestidade é um valor em decadência há muito tempo. Aconteceu simplesmente que outros valores mais altos se levantaram. O que é realmente importante na vida é vencer, enriquecer, mandar, ganhar votos e triunfar."
Não é bem assim. Se olharmos à volta, ainda encontramos pequenas aldeias de irredutíveis falhados.
A EPHEMERA- Biblioteca e arquivo de José Pacheco Pereira faz, naturalmente, as delícias de qualquer bibliotecário. Único no país, funciona como uma espécie de memorabilia de um tempo histórico recente que ainda se mantém na memória de muitos que o presenciaram ou viveram.
Com algum tempo ainda irei descobrir restos da minhas recordações desses tempos de juventude em que estivemos em lados opostos da "barricada", como os emblemas cromados de alfinete (anteriores aos modernos pins), comunicados mal amanhados de eleições de estudantes, cartazes assinados pelos fundadores, fotografias de comícios, tshirts pintadas à mão (as setas não eram fáceis de desenhar) entre outros objectos que o espaço levou. No fundo, agora são só objectos que só ganham "valor" quando divulgados e que a minha descrença na política e nos partidos me fizeram esquecer.
Já agora, uma sugestão: certamente já terá ouvido falar de metadados. Seria fantástico poder recuperar cada um desses objectos digitais, criando dados sobre esses dados.

sábado, março 7

Azul Obama? Madonna - True blue

sexta-feira, março 6

Sem fumo

Parece que foi há séculos que começou febre higienista da proibição do tabaco. A verdade é que começa a ser estranho ver imagens de cigarros em filmes ou na televisão. Na série Poirot, por exemplo, as salas de cinema estão envoltas em nevoeiro (para onde deitariam as "beatas"?), no "Conta-me como foi", o pai fuma na cama enquanto lê o jornal, fuma-se nas lojas, nas repartições públicas, em comboios (não me recordo de alguma cena em aviões), em restaurantes, em suma, onde apetece à personagem ou convém à cena. Bem sei que seria difícil imaginar como seria o Bogart sem um cigarro sentado num bar, o Bruce Willis chamuscado e desesperado por uma fumaça ou a Uma Thurman a seduzir pendurada no vício.

Presentemente, o Agente 007 largou definitivamente as cigarrilhas e no CSI descobrem que num homicídio de um casal, o antigo fumador sobrevive ao monóxido de carbono enquanto que a mulher, uma viciada do pior, vai desta para melhor. Por acaso, foi o filho que os matou porque queria ir para a faculdade e eles não o deixavam ir, mas isso não interessa nada.

O mundo está cada vez mais perigoso, mas livre de tabaco. Anda gentalha à solta cheia de más ideias, mas sem colesterol nem tensão alta e, amigos do ambiente, não deitam sequer cigarros para o chão.

terça-feira, março 3

Nanni Moretti - Il giornalismo italiano, no filme "Aprile", depois de ter consultado il principe dei dermatologi no "Caro Diario".
Tom Jobim & Elis Regina: Águas de Março

Um dia cinzento

(Photos)
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