domingo, março 22

Sábado

É Domingo e o dia está escuro e silencioso. Aos contrário destas manhãs, as ruas parecem respirar ou ganhar fôlego para os dias úteis com gente em trânsito para empregos, compromissos, enfim, a viver quase sempre a correr.
Os Sábados são um pouco atípicos com movimentos a horas marcadas. Uma canseira, melhor dizendo. São muitos os que trabalham seis dias por semana, sem Sábados de manhã para tratar da vida, que tem sempre tanto que tratar, assuntos inadiáveis ou outras ralações que aparecem sem o nosso consentimento.
Aos que trabalham aos Sábados, vejo-os de rompante, sem tempo a perder, ou aproveitando uma ou outra aberta que o comércio local vai permitindo antes do transporte para casa, com vontande de regressar para mais uma canseira da vida doméstica.
Mas não se julgue que os que não trabalham levam as manhãs com mais lentidão e menos relógio. Muito corre esta gente. As senhoras, de cabelo arranjado nos cabeleireiros, deitam contas à vida por tanto tempo perdido entre escovas e secadores. É um tempo comum a muitas de nós, não há que reclamar, que é mesmo assim, mas em compensação, estão bem mais bonitas, de cabelos compostos e unhas arranjadas. É vê-las no talho, na lavandaria, em passo de corrida ou contra-relógio para (mais) um compromisso que não podem faltar.
Veêm-se poucos velhos. Preferem as manhãs dos dias úteis, os que gozam ainda de alguma autonomia para tratarem dos restos das suas vidas em farmácias, correios, médicos, um jogo de cartas ou o repouso no jardim com os netos que ainda podem ajudar a criar. Lisboa já foi uma cidade amável para os velhos, agora já não é. O cidadão carro tomou-lhes as pracetas, os passeios e os locais de lazer. E a gente deixa, egoístas, mal educados, defensores de causas longínquas e os nossos ali tão perto. Ausentes das manhãs de Sábado estão também os jovens, no sono dos justos depois de alguma noitada, de persianas corridas e quartos silenciosos.
Para além das senhoras de cabelo composto, dos pais que transportam os filhos de fato de treino (e algums olheiras), de actividade em actividade extra-curricular, veêm-se alguns esforçados desportistas, os cavalheiros do pão e do jornal, mulheres de sacos cheios, e jovens pais com os carrinhos de bebé.
Gosto de reparar nos amantes, cabelos ainda húmidos, em passo lento, cúmplices e de olhar ausente deste quotidiano. O tempo deles é outro, como o café que tomam sem pressas, em movimentos que só eles parecem reconhecer.
E nos Sábados de manhã na cidade grande, também ando eu. Que dirão os outros de mim?
Até breve, provavelmente até outro Sábado, numa cidade onde as pessoas têm nome.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Boas,

Tenho vindo a acompanhar o blog já a algum tempo... no qual tenho tirado umas ideias, por sua vez muito boas... mas é o meu primeiro blog, até para começar a ver como são as coisas, espero ter sucesso como este... Gostei deste post tal e qual como da maioria dos posts aqui inseridos no blog, um grande abraço e continuação do sucesso do blog... Deixo aqui também o endereço do meu blog muito recente...

Espemos que gostem e que façam do nosso blog uma referência diária como o chá das 5 para os ingleses.


www.gluvox.com

OBRIGADO

5:45 da tarde  
Blogger CPrice said...

de tudo o que escreve Isabel, é por causa destes textos calmos e inspiradores que me fiz sua fã :)

Boa Semana *

10:39 da manhã  

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