Celebra-se este mês o bicentenário do nascimento de Edgar Allan Poe com diversas actividades que estão a ter lugar em Lisboa e que, infelizmente, não pude acompanhar como gostaria.
Poe foi provavelmente o autor que estudei com maior gosto, de quem li muito (sem ser em fotocópias) e por quem continuo a interessar-me. Não que tenha uma especial predileção pelo gótico, mas talvez explique o meu gosto pelos policiais, em particular os de carácter psicológico.
A propósito de Poe e de corvos, recordei-me de uma antiga crónica de Pacheco Pereira publicada em 1994 no DN*, a propósito de uma viagem aos países de leste :
"Cemitério: Às 6 da tarde, o cemitério de Novodevitchie não é dos sítios mais agradáveis para se estar. É já noite e a neve que cai abundantemente torna quase indiferenciados os caminhos e os túmulos mais à flor da terra. Não está ninguém e a guarda do cemitério abriu-o por deferência. Não há um único ruído, a não ser algum tráfego distante que permanece como um zumbido de fundo - a rua termina numa zona de complexos desportivos onde a esta hora e neste dia não há obviamente desportistas. A única coisa que se move são bandos de corvos que se espalham pelas copas das árvores e que em nenhum outro sítio como este parecem fadados a repetir o sinistro never more do poema de Poe.
Never more, "nunca mais", devem dizer todos estes túmulos daquele que foi o cemitério oficial das grandes personalidades do regime soviético, segundo em importância, só ultrapassado por essa suprema honra da sepultura nas paredes do Kremlin" (...)
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*"O nome e as coisas: textos dos anos 80 e 90"; 1997, Editorial Notícias, pag. 272
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