quarta-feira, dezembro 6

"Is that enough for you?"

Carlos,
Desde já permita-me uma confissão : tenho um fascínio por olhos azuis. Logo aí o rapaz do filme levava já uma grande vantagem sobre todos os outros agentes ao serviço de Sua Majestade. Não me recordo de algum dia me ter embeiçado por alguém com olhos dessa cor, mas olhe, são fraquezas, e eu também sou filha de Deus.
Posto isto, vamos ao post. Não. Primeiro algumas considerações que eu não dispenso as notas de abertura. O ano passado, quando estava a terminar uma visita a uma exposição numa antiga sinagoga na Alemanha, e já junto à porta, um turista alemão perguntava aos dois seguranças se "havia outra saída". Os rapazes, com sentido de humor, responderam que "se houvesse outra saída sem ser aquela, era porque estavam a fazer um péssimo trabalho".
Ao contrário dos outros heróis, este, ou seja o primeiro 007, não tem certezas, engana-se, perde ao jogo, rasga a camisa, transpira, magoa-se , mas a isso já lá vamos.
Decerto o Carlos não espera de mim nenhuma crítica de cinema. Deixemos isso para quem sabe que eu escrevo do que sei, ou melhor do que vi e o que vi encantou-me. Ora aí está.
Vejamos as bebidas: os martinis shaken, not stirred praticamente desaparecem do fime para dar lugar ao gin Mount Gay com água tónica, champanhe, wisky, martini seco, ou melhor ainda quando inventa um cocktail com : "Three measures of Gordon's, one of vodka, half a measure of Kina Lillet. Shake it very well until it's ice-cold, then add a large slice of lemon peel. Got it?"
Como bem reparou a Vesper, o nosso herói não é nenhum puro-sangue de Oxford. Usava casacos de bom corte, mas não nasceu com roupa de cashemira. Quando o realizador decidiu lembrar hábitos antigos e caricaturais, confesso que adorei a ruptura no discurso, que ocorreu quando o amigo Daniel estava a perder ao jogo como gente grande:
Bartender: Shaken or stirred?
James Bond: Do I look like I give a damn?
Da figura emblemática, o herói conserva de início o discurso habitual, sedutor, desprendido, descomprometido, aliás, como eu gosto de o ver.
Vesper Lynd: Am I going to have a problem with you, Bond?
James Bond: No, don't worry. You're not my type.
Vesper Lynd: Smart?
James Bond: Married.
Mas eis que que o nosso Agente se apaixona. Coisa só vista no filme com o actor Lazenby, de triste memória, e aí não lhe consigo perdoar o desvario. E sabe porquê? Porque era bom de ver que eram umas patacoadas valentes que a menina Vesper lhe estava a pregar e que aquilo trazia água no bico ou melhor, no colar com o coração argelino, argentino, ou asssim.
Vesper Lynd: You're not going to let me in there. You've got your armour back on.
James Bond: I have no armour left. You've stripped it from me. Whatever is left of me - whatever is left of me - whatever I am - I'm yours.
É aqui que entra a Miss Marple que há em mim. Não são necessárias "células cinzentas", mas à semelhança da querida metediça, há-de haver algures, pontos de comparação com personagens e situações, seja a irmã do antiquário de St Mary Mead, uma amiga de uma amiga na vida real ou até alguma blogger (blogger-suicida?). Parece-me que existem por aí algumas criaturas empenhadas em replicar tradições ancestrais que sempre perteceram à coutada masculina, ou seja, aos antepassados caçadores recolectores. É vê-las por aí, arrasando corações, equipadas com a artilharia pesada da sedução que deixa rastos de padecimento pelos bares e fracturas expostas em blogs.
Francamente, aqui o nosso herói decepcionou-me. Esta ingenuidade não lhe fica bem. Ou bem que é um 007 à séria, descomprometido, ou então é um homem normal e a gente não compra um bilhete para ver tipos comuns.
Vesper Lynd: If the only thing left of you was your smile and your little finger, you'd still be more of a man than anyone I've ever met.
James Bond: That's because you know what I can do with my little finger...
Mas o papel do Daniel Craig é de facto uma aposta arriscada. O herói engana-se, comete erros, hesita, suja-se, sangra, é apanhado, torturado, grita de dor, quase morre com um ataque cardíaco, deixa-se envenenar, tem um acidente violento de carro, vai convalescer para um hospital, é traído, rasga o fato, permite que lhe escolham o "smoking", apaixona-se, despede-se, sai do mar de calções de banho, mata a torto e a direito, usa telemóveis topo de gama, ri-se, quase que chora, sente despeito, tudo coisas de ser humano.
Gostei de o ver junto aos Grandes Lagos, em Veneza, de polo e calças de sarja, a seduzir na perfeição morenas de arrasar. Em suma, fiquei encantada com o novo Bond. James Bond.
Mas como o Carlos já terá percebido, isto não é sobre cinema. Mas é à minha maneira. Falta ainda um post sobre aquela senhora com casa em Balmoral. Para breve.

10 Comments:

Blogger marta r said...

100% de acordo. Em 100% do post. Fraquezas....

1:53 da tarde  
Blogger João Melo said...

e que achou do daniel craig no "Infame"? gostei dele no filme, mas acho que o filme não foi bem "esgalhado"..
Isabella Rosselini tá ridicula.
Sandra Bullock a querer passar de namoradinha da américa para outro tipo de papéis.
Toby jones -gostei .

2:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A parte da armadura deixa-me de rastos.. :)

4:44 da tarde  
Blogger Nuno Miguel Guedes said...

Querida Miss Pearls,
é como Bondófilo fanático que te escrevo. O cocktail é o Kina Lillet, com várias versões consoante as medidas de gin, mas esta fiel ao original Casino Royale de Fleming. O vodkatini politicamente incorrecto (é sempre stirred, nunca shaken)foi invenção da dupla de produtores Cubby/Broccoli. E em boa hora. Este é um Bond back to basics e dos melhores.

5:14 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Major,
Excelente entrevista no Miniscente!!
Ainda bem que concordas comigo. Fantático. tenho que voltar a ver o filme :)

Sara:
Compreendo :)

Não vi o Craig no "Infame". Mas no Munich foi muito bem.

7:14 da tarde  
Blogger CMC said...

Cara Isabel,
Voltarei ao assunto no TUGIR. É que não 'gramei' (mesmo) nada este 007. :)

7:41 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Carlos
Estou rendida. Aposto que pensa como o Villalobos (chamar ao Craig Ucraniano das obras,, bahhh)
E até lhe digo mais, correndo o risco da banalidade total, até sou capaz de pôr aqui uma fotografia do rapaz a sair da banhoca de mar :) :)
Não o faço agora porque estou com alguma febre e receio vir a arrepender-me.
:)

8:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ómessa...
Mas se for esse o caso podem ve-lo lá pelas minhas bandas!
A sair da banhoca... De calções...
:))

8:57 da tarde  
Blogger Eurydice said...

Peço desculpa, mas não estará a pôr no crédito do artista coisas que são simplesmente do PERSONAGEM ??? Será da febre, Misspearls?... ;)

As suas melhoras rápidas e efectivas!*

11:49 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

CInderela,
Não lhe sei responder porque nunca li o livro nem vi o filme de 1967.
Não sei onde entra o realizador/actor e onde estes se separam do argumento do filme(livro)
Obrigada

Aninhas
só hoje soube que tinha um blog.
:)

11:55 da tarde  

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