Kit Natal

Indiferentes a espíritos pouco natalícios (como o meu), os estabelecimentos comerciais vão espalhando mensagens de paz e amor um pouco por todo o lado. Lá estão as eternas canções Driving home for Christmas, White Christmas e tudo o que inclua holly nights e santa claus ao serviço do comércio de collants, boxers, livros, chocolates, perfumes, ouriversaria cara, brinquedos, e da tralha inútil do costume para encher assoalhoadas de reduzidas dimensões.

Nas televisões, amigas, lá estão as estrelinhas no canto a brilhar, mesmo que o filme seja de faca e alguidar e o telejornal mostre os despojos da última chacina rodoviária.

Os jornais publicam dossiers Natal com as incontornáveis decorações de mesas da Consoada e com um alternativo "carré de lebre com foie gras e estufado de lombardo e castanhas", em substituição do clássico prato de bacalhau com batatas. Inevitavelmente lá entra o psicólogo a divagar sobre o stress, a depressão e a tristeza (pode-se estar triste sem estar deprimido, que novidade) nesta época natalícia (é verdade que o Natal é uma ditadura que não permite a tristeza).

Ainda é cedo para a avalanche de insensatas Boas Festas por SMS. Visto tudo funcionar como uma enorme mailing list, não há qualquer discernimento para quem se enviam os habituais desejos de "Feliz Natal*Muita alegria*Muitas prendas*". Tudo me leva a crer que a era da electrónica submergiu as regras da sensibilidade e do bom senso.

Também não tarda muito que a blogoesfera seja inundada por adereços natalícios tipicamente portugueses como renas sorridentes, pais natais risonhos e claro, mais estrelinhas a piscar a fazer coro com os jingle bells.

E se por acaso os virem por aqui, até pode ser uma "tertúlia literária" com a "Comédia dos enganos".

Nota: Uma palavra gostosa para os gostosos bolos-rei da Pastelaria Garrett no Estoril. Não vale congelar os bolos: é preciso mesmo ir para a fila.

Pronto. A Calista Flockhart vestida de menina-Natal também não vai nada mal.