Um gosto de culinária (cont.)
Como ia dizendo, um dos problemas desses programas de culinária através da televisão, é a dificuldade em tomar notas decentes sobre as receitas, ou seja, os ingredientes, tempos e fases da preparação. Aquilo que vemos sempre, é o produto final com grande aparato, impecável e acompanhado à guitarra com elogios à cor (como um pôr do sol), ao sabor (voluptoso) e ao cheiro (inebriante). Em bom rigor, nem sequer se vêem as cozinhas sujas nem a louça empastelada, e as próprias apresentadoras surgem com grande esmero, de roupa asseada sem mácula nem avental. Só quem não cozinha é que não repara no aprumo do décor."(“não é preciso amassar nem provar” (to prove é levedar, crescer); “aspecto de aveia consistente” (em vez de papas de aveia) “lista de coisas que tinha para fazer ainda por conferir” (to check é pôr um vêzinho, não é, neste caso, conferir); torrada francesa em vez de rabanada - p. 163, na p. 168 já está bem). São receitas rápidas. Mas o conceito é em parte um engodo (pés de cordeiro, temperados num dia, cozinhados noutro e comidos noutro recorre a uma noção de tempo curto relativa). Como em qualquer livro traduzido, há o choque cultural: “encomendar vieiras ao meu peixeiro”, “natas gordas”, “soro de leite”, “sal Maldon” “molho hoisin”, “cogumelos do choupo”. O apuro técnico das receitas varia (por exemplo, no frango com bacon e brandy não se refere sal – o do bacon não chega e o meu brandy não tem sal); "
Mas a Nigella já é todo um programa que, aliás, se vê com gosto.


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