Chegadas
Chegar é sempre bom. Quando o avião nos deixa inteirinhos numa pista de aterragem há quem suspire de alívio ou até quem se manifeste ruidosamente com palmas e vivas. Quase que poderia jurar que nunca vi este fenómeno fora de Portugal ou em companhias estrangeiras. O que já deixou de me surpreender foi o efeito da ressaca tecnológica derivada da inibição do telemóvel durante uma ou duas horas: mesmo antes de ser permitido, vejo dezenas de dedos a precipitarem-se para os aparelhos, incapazes de conter por mais tempo a ansiedade provocada por este tipo de abstinência. Recentemente, a mesma tecnologia encontrou já satélites à altura tanto da terra como do céu e assim se pôs fim ao sossego entre nuvens.
Chegar é sempre bom. Ainda não chegou a nossa hora. Até pode ser com uma, duas ou mais horas de atraso, com ou sem bagagens, mas não convém exigir demasiado do Criador ou dos serviços da TAP, assim nos deixem pousar inteirinhos.
Enquanto os mais despojados saem porta fora, um amontoado de gente desalinhada, ensonada e despenteada aguarda com alguma ansiedade pelas malas e sacos, desejando que saltem rapidamente para o tapete e dali para fora. Pela minha experiência, acho essa ansiedade da maior inutilidade. Hão-de chegar primeiro as bagagens da família à minha esquerda, depois será a vez do casal à direita e até o cavalheiro que não pára de falar ao telefone sai primeiro que eu. Deve ser um sistema mais ou menos aleatório, mas se fosse por ordem alfabética de pouco me serviria.
(continua)
5 Comments:
fantástico Miss Pearls .. mas eu até poderia votar nessa da ordem alfa ;)
Beijinho *
Miss Pearls, diverti-me tanto com as Chegadas como com as Partidas. Mas como continua, tenho a garantia que divertirei ainda mais. :-)
Curioso o facto do seu post me ter feito lembrar-me de um amigo publicitário (hoje director criativo de uma agência multinacional em NY) e que vive há alguns anos fora de Portugal. Dizia-me ele que a primeira vontade que tinha quando chegava a Lisboa, às Chegadas, era dirigir-se de imediato às Partidas. (risos)
Só não o fazia por causa dos filhos que vivem em Lisboa. Nada que contrarie a primeira frase do seu excelente post. :-)
(Ena, acho que hoje abusei um bocado. Peço desculpa).
Engraçado, como a utilização do telemóvel, veio substituir o tal cigarro que se podia fumar, assim que o pé batia na terra :)
"Chegar é sempre bom. Ainda não chegou a nossa hora..."
A propósito desta deixa, recordo
aqui uma frase sua,Miss Pearls, que por ser tão racional é difícil esquecer e não acreditar.
"Eu tenho inteira confiança nas pessoas que nos levam lá para cima. Sei que estão a tomar muito bem conta de nós e depois as máquinas são modernas e de confiança. Eu tenho medo é daqueles inexperientes, daqueles loucos que andam aí nas estradas a matar pessoas" (citado de memória)
Uma querida, grande jóia...´
É isso que sinto :)
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