Partidas
Ao contrário do que se passa nos meses de Verão ou em períodos de feriados alongados, em que se sabe ao que vão, creio que o resto do ano é ocupado por gente que se desloca em negócios, grupos de homens e mulheres com bagagens de medidas certas para fugir a tapetes rolantes, geralmente gente com pressa e de minutos contados.
É vulgar encontrar pessoas que se conhecem ali mesmo, mas que porventura já tenham trocado entre si contactos profissionais, como aquele grupo de homens que se apresentavam como o JS da firma X e o MG da empresa Y, em viagem para encontros de vendas ou estágios de formação. Curiosamente, nunca tinha reparado naquela fila enorme para plastificar a bagagem, onde um grupo de mulheres com malas xxl aguardava vez e um cuidadoso casal de meia idade resguardava volumosos embrulhos.
O tempo de espera também dá para constatar que as malas, o clássico modelo de mala, quase desapareceu dos check ins. Agora, são sacos enormes com rodas e puxadores, bem mais práticos e autónomos que os volumes de antigamente, no tempo em que havia gente para carregar as bagagens e que ainda podem ser vistos em estações de comboios.
Ao contrário do que verifica em muitos outros aeroportos, não se vê muita gente de diferentes nacionalidades. Por aqui, ouve-se muito português e alguma língua africana que não consigo identificar, mas também não há corredores quilométricos para viagens intercontinentais e a minha casa aqui tão perto.
Praticamente não se veêm jovens nem crianças e quase que apostaria que aqueles homens de blusão de ganga, ainda novos, vão de partida para trabalhos distantes. À minha frente circulam sozinhos homens engravatados e mulheres perfumadas com pastas elegantes habituadas a rápidos regressos. Mais ao lado, tomam-se cafés a preços escandalosos e fazem-se as últimas despedidas. Devem ser famílias de visita, imagino eu, enfastiada com a conversa de nervos e trens de aterragem que não se abrem. Deve ser ser gente que nunca viajou de carro ou autocarro na A23 ou no antigo IP5. Recordo-me sempre de um colega estrangeiro, a quem ouvi defender ferozmente o seu agnosticismo, antes do avião partir, tirar da carteira uma imagem de uma santa de nome estranho. Perante o meu espanto, só respondeu "just in case...".
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3 Comments:
Diverti-me com as Partidas, Miss Pearls. Just in case, também gostava de ler sobre as Chegadas.
:-)
Ai as chegadas Mike...
Já lá vou. Mas primeiro
Bom post, bem escrito!
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