sexta-feira, setembro 26

Ler as pedras

Enquanto à minha volta vai aumentando o número de pessoas desinteressadas de telejornais e da programação em canal aberto, tenho o grato prazer em falar do trabalho de um homem que sabe ler pedras, documentos muito, muito antigos, com 2700 anos, no tempo em que "Só um número muito restrito de pessoas saberia escrever", como refere Amílcar Guerra, "convencido de que nem as figuras ilustres que tinham direito a inscrição funerária teriam sabido ler o que lá estava." Vinte anos depois de muito sol alentejano nas Mesas do Castelinho (junto a Almodovar), de que este arqueólogo sempre fala com o maior entusiasmo, foi recentemente descoberta uma estela funerária com inscrições em escrita do Sudoeste, à espera dele desde a 1ª campanha e que veio confirmar a origem fenícia desta escrita, "já que muitos caracteres revelavam afinidades com os fenícios e, quase sempre, apareciam colocados pela mesma ordem." A ler no Caderno P2 do Público de hoje, uma reportagem sobre este achado em particular e sobre epigrafia no geral, mas também o reconhecimento do trabalho e de 20 anos de dedicação a este sítio . Com a humildade de que só os sabedores parecem deter, as palavras do Amilcar Guerra: "É muito mais do que um simples achado novo. É um estímulo para 20 anos de trabalho com grandes dificuldades e problemas muito sérios. Trata-se de uma realidade quase desconhecida do público, que se concentra nos manuais dos investigadores e que, sendo uma realidade histórica de carácter regional, extravasa esse âmbito. Deveria ser conhecida por qualquer homem culto, mas infelizmente só interessa a especialistas".
Ao contrário do que acontece com a escrita do Sudeste do passado, anos e anos de prática tornaram a langue de bois da actualidade facilmente decifrável, sendo por vezes desnecessária a sua verbalização, chegando a perceber-se o seu sentido por simples movimentos dos lábios ou pelo contexto da sua utilização.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

De onde surgiu o último parágrafo?
Reconheci o Prof. Guerra à esquerda na fotografia.Ou estou a ver miragens?

9:46 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

O ultimo parágrafo é meu :)
Sim, é o Amilcar

10:35 da tarde  

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