domingo, setembro 21

Pão nosso

Não há alimento mais apreciado por um beirão e por uma beiroa que o pão. Em conversa com amiga dos meus lados, ela acrescentaria também o queijo e, segundos depois, as azeitonas: desgraça após desgraça.
De bem amado, rapidamente o pão passou fonte de todos os males, leia-se, de todos os lados, como rabos, pernas, ancas e por aí acima. Já houve um tempo, a bem dizer não muito distante, em que tirando o pão da boca, era o suficiente para abater excessos na balança. Desgraçadamente, o organismo vai-se tornando cada vez mais incompatível com voluntarismos ocasionais, chegando a revelar-se de uma enorme crueldade para com as olímpicas resistências a que o sujeitamos.
Pondo de parte o lado bíblico, histórico, económico, político e nutricional do pão, só em provérbios sobre este farináceo (?) encontrei cerca de 30, para todos os gostos e carteiras, para o homem do campo, da cidade, para todos os meses do ano e para os apreciadores de vinho, carne e sardinhas. Os que não se podem dar ao luxo de pensar que "Nem só de pão vive o homem", sabem por experiência própria que "Quanto mais barato estiver o pão, melhor canta o coração" ou então, "Pão que sobre, Carne que baste e Vinho que falte". Uma boa alma acredita piamente que "Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão" e os mais cautelosos, como na história da Cigarra e da Formiga, sabem que "Em Outubro sê prudente: guarda pão, guarda semente."
E se muitos destes provérbios continuam a fazer sentido, outros há que andam pelas ruas da amargura: gordura é formosura já faz parte da versão actualizada do Index e a máxima Queijo com pão faz homem são tornou-se numa heresia moderna, combatida em ginásios, consultórios de nutricionistas e em programas da Oprah.
Por falar em televisão, a conservadora que há em mim faz-me ter algumas reservas quando ao ditado "Quem dá o pão, dá a educação", mas isso é outra matéria, que nada tem de etnográfico. No entanto, creio que ainda reina a paz, a concórdia e a unanimidade com o provérbio "Em casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão".
Podemos até fazer exercícios de up grade com velhas máximas como andar a pão e água ou a pão e laranjas: informar que se "anda a água e laranjas" é muito mais moderno e mesmo mais sofisticado. Seja como for, a especialidade de Alfeizerão é muito mais deliciosa. Quem diz a verdade não merece castigo.

3 Comments:

Blogger JC said...

Cara Miss Pearls:
Ora aqui está uma coisa cuja qualidade em Portugal bem melhorou nos últimos anos: o pão. Hoje é possível comprar bom pão de várias qualidades (gosto bem do de centeio, mais claro ou mais escuro) um pouco por quase todo o lado. Ainda bem, pois bem gosto de pão e durante anos pouco mais existia do que as velhas carcaças quase ocas por dentro. De pão, vinho e queijo bem vivia sem me queixar demasiado.

8:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu também.

1:29 da manhã  
Blogger CPrice said...

mau ..! Esta vem a propósito de ter em casa ainda congelado o último de PenhaGarcia ;) Culpa sua que ainda hoje salta do gelo *

Adorei*

9:28 da manhã  

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