Lisboa na Baixa
Este calor já cansa. As montras mostram agasalhos e lãs mas é o frio que não chega. Nas esplanadas, turistas encalorados consomem cervejas de tamanhos gigantes, adolescentes exibem a frescura com ousadia, mulheres janotas cobiçam a nova estação, homens solitários vão cobiçando umas e outras e executivos de óculos escuros não ligam a coisa nenhuma. Os idosos caminham lentamente de boné e jornal no braço, casais de reformados de braço dado gozam a estação nova a que têm direito, o pedinte canta para quem passa, os loucos gesticulam para eles mesmos, cruzam-se muitas línguas, passam os tristes, brilham os felizes, abraçam-se os amantes e correm os atrasados.
Do fundo da rua vem o cheiro a castanhas e o calor que faz não faz sentido. As crianças voltam a cabeça a tantas coisas novas, as mães apertam o passo que o barco não espera. Estudantes ruidosos fazem graças sem piada para colegas novas de início de escola. Todos se riem. A mulher a meu lado, cansada e com olheiras, pousa o saco no chão, sem vontade de rir. E o tempo que passa tão depressa. Estes pombos são uns chatos.
Editado em Outubro 2007-Photo
1 Comments:
O cheiro a castanhas na Baixa, arrasta-me uma década atrás. Não fosse o calor, e já me aconchegava na gola do casaco.
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