terça-feira, março 27

Do que temos

(...)Claro que antes de tudo e de todos, e com grande zelo e capacidade de destruição, os primeiros responsáveis por transformar, ou diria melhor, criar o Portugal feio que cada vez mas temos, foram os portugueses, nós. A obra-retrato desse Portugal encontra-se por todo o lado, mas pode ser simbolizada nas margens da antiga Estrada Nacional número um. Retrato simbólico do nosso “desenvolvimento”, e do papel central da construção civil, os seus trezentos quilómetros mostram a face da nossa capacidade de estragar rapidamente e em força. Agora, com o desvio do tráfego “rico” para a autoestrada, ficando a velha estrada entregue aos camionistas com menos meios e ao comércio de estrada mais pobre, percebe-se ainda melhor esse longo cenário do nosso espelho nacional. Torna-se ainda mais evidente, a assustadora transformação dos poucos espaços que ainda há trinta anos estavam vazios e agora se encheram de restaurantes de estrada, oficinas de reparação, pequenas indústrias de materiais para a construção civil, pedras das pedreiras ilegais mais acima na Serra dos Candeeiros, móveis de cozinha e quarto de banho, parques de automóveis usados, bancas de madeira com produtos agrícolas, sucata e ferro velho, prostituição, anúncios de discotecas e bares, ali, escondidas numa qualquer estrada interior. E numa volta, o mosteiro da Batalha, com a própria estrada a passar rente sem qualquer espaço para o vermos como deve ser, lá no fundo da sua plataforma empedrada.
Agora, entre as éolicas e as hídricas, anuncia-se o fim da paisagem natural em Portugal. (...)

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Aqui está uma verdade cruel e ver-go-nho-sa!

12:43 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

Todo o texto está estupendo, PAtricia

1:32 da manhã  
Blogger definitivo said...

O que é que o PP (Pacheco Pereira, não confundir com outros PPs) queria nas margens da N1?... 300 Kms de ladrilhos?... Uma imensa alcatifa a ligar Lisboa-Porto?... Meninas e meninos adornados de bailarinos, pagos pelo Estado, a acenarem - com bandeirinhas - aos carros que passam?... Uma orquestra, quilómetro sim quilómetro não, a tocar o repertório nacional?... E que tal as Bandas dos Bombeiros de todas as cidades atravessadas pela dita?... E uma ligação Porto-Lisboa, feita de milho, com uma estrada pelo meio?... E se fôr de girassois?... E gerberas?... Lírios?... Cravos?... Ops!
Tenha santa paciência, a EN1 não está pior do que estava antes, bem pelo contrário.

Há uma coisa que eu faço quando vou a Lisboa - e vou muitas vezes: de dia, viajo pela "velha estrada"; de noite, pela autoestrada.
Para poupar a carteira?... Não, apenas para conhecer/reconhecer o meu país já que, de noite, não tenho essa oportunidade.
Se gosto?... Sem dúvida! Podia estar melhor?... Claro! mas isso é em todo o Mundo!.... Tudo podia/devia estar melhor!....

Mas, uma barbaridade, é o PP dizer que Portugal está mais feio do que há 30 anos atrás!... Isso é que é feio!...
Uma leviandade, é o que é!

Ah! É falso que as "margens" da EN1 tenham mais restaurantes, mais prostitutas, mais isto e mais aquilo. A prova disso, são as vias alternativas - que retiram tráfego! - à EN1, que têm sido feitas nas duas últimas décadas, e que provam a incoerência do Sr. PP.


Se entro no Teatro Nacional vestido a rigor para ver o "Dom Giovanni" mas, à partida, nem gosto de ópera, quando saio, vou dizer o quê?...

Se, para mim, o Fado é Amália, e me obrigo a ir a um concerto da Marisa, à saída, digo o quê?... Que não gosto, efectivamente!

Mas o facto de eu não gostar de ópera - mentira! - ou achar que o Fado é Amália e só Amália - verdade! -, dou-me ao direito de dizer mal de tudo que mexe?.... Ou que não mexe?....

"Traduzindo" o texto do PP, Portugal está mais feio do que há 30 anos atrás.
Ficar-lhe-ía - talvez - melhor se, em vez de 30, dissesse... 33: ainda "apanhava" o tempo da "outra senhora".
Lastimável.

E não digo mais nada.


PS: eu sei, eu sei, Miss Pearls, o eterno abusador.... Peço desculpa.

3:37 da manhã  
Blogger definitivo said...

Faulkner diz que "as palavras nunca se adaptam nem mesmo ao que elas querem dizer."

Pelos vistos, gente há que pensa de outra forma. Erradamente.
Será por isso que alguém se tornou famoso por... "não acerta uma"?...
E fala, e fala, e diz, e fala, e diz....



PS: quando for grande quero ter um blog para poder praticar...democracia.

2:53 da tarde  

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