sexta-feira, março 23

Sem nome


Coisa estranha, mera coincidência ou simples acaso, ultimamente e por duas vezes cruzei-me na rua com duas mulheres que choravam. Não o escondiam ou disfarçavam. Porventura seria o anonimato a escondê-las no meio dos outros e a fazê-las sentir invisíveis.
Confesso o constrangimento porque as senti "uma de nós", mulheres aflitas de tristeza, a quem só a pudor impede de dar uma palavra.
De que choravam aquelas mulheres não sei, mas desconfio. Sei de que choram as mulheres. Pelas circunstâncias, tudo era tão genuíno como imprevisto.
Onde estarão aquelas mulheres jovens, indiferentes às testemunhas da sua dor, doença, amor, família ou perda, que atravessavam as ruas connosco? Nada sei daquelas mulheres que rompiam todas as fronteiras da intimidade do sofrimento sem vergonhas ou temores. Ou melhor, não sei quem são mas imagino quem poderiam ser. Possivelmente noutros locais mas igualmente silenciosas.

8 Comments:

Blogger Maria de Fátima Filipe said...

Miss Pearls,
Enquanto choramos não é mau. O mau mau é quando já não temos lágrimas.
:)

10:01 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Carissima Vizinha,

Olhe que os homens tambem choram...

Bjs e bom fds,

11:06 da manhã  
Blogger tota said...

Arrepiante, este texto.

12:15 da tarde  
Blogger cristina ribeiro said...

Chorar no meio da multidão...;acredite,Miss Pearls,pode ser muito mais reconfortante que ter de chorar em casa,sós.Sentimo-nos acompanhadas,ao mesmo tempo que nos escondemos no anonimato.Nem que tenhamos de usar óculos de sol,mesmo sem este...

2:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este post é de tirar a respiração. Um misto de angustia, tristeza, dor e solidão.

É um texto que reflete a sensibilidade de Miss Pearls, no seu ver e sentir.
Fiquei com a voz embargada e os dedos pouco ágeis...

6:44 da tarde  
Blogger Eurydice said...

Gostei deste pequeno vislumbre da sua alma, Misspearls! :)
Um beijo!

6:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Faz hoje quinze dias que chorei assim enquanto andava … em plena praça — não em Lisboa, bastante mais a Norte —, com sol, no meio de dezenas de pessoas que passeavam e crianças que brincavam … ainda penso hoje se alguém que me conheça me viu!!
Ana

10:56 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Cinderela,
Não será antes um pouco a alma de algumas de nós?

Ana,
E se viu? Qual o problema? A Ana só sabe do seu e de certeza era bem sofrido.

2:49 da manhã  

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