sábado, novembro 18

Das magnólias Daniel Faria Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página E aproveito o facto de teres chegado agora Para te explicar como vejo o crescer de uma magnólia. A magnólia cresce na terra que pisas — podes pensar Que te digo alguma coisa não necessária, mas podia ter-te dito, acredita Que a magnólia te cresce como um livro entre as mãos. Ou melhor, Que a magnólia — e essa é a verdade — cresce sempre Apesar de nós. Esta raiz para a palavra que ela lançou no poema Pode bem significar que no ramo que ficar desse lado A flor que se abrir é já um pouco de ti. E a flor que te estendo, Mesmo que a recuses Nunca a poderei conhecer, nem jamais, por muito que a ame, A colherei. A magnólia estende contra a minha escrita a tua sombra E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão in Dos Líquidos

4 Comments:

Blogger G said...

daniel faria é muito bom. ainda bem que começa a aparecer pela blogosfera.

a quasi já editou um livro com toda a sua poesia, que incluí "Dos líquidos".

2:51 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Tem razão. O Daniel Faria foi um bom poeta.

7:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A magnólia

A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.

Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária,e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.

A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,

um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.



Luiza Neto Jorge
O seu a seu tempo
Poesia
organização e prefácio de
Fernando Cabral Martins
Assírio & Alvim
2ª edição
2001

10:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Trágico é que a morte prematura tenha levado o Daniel Faria privando-nos da sua arte excepcional.
Suspeito que há poemas que ele escreveu no Seminário e ainda por publicar.
Estou a trabalhar nisso e talvez possa ter alguma coisa para contar.
Junto duas gratas descobertas de hoje: ao começo da tarde fui encaminhada para um podcast do Sena Santos (senasantos.podcasts.sapo.pt) e fiquei fascinada a ouvir a sequência do folhetim com o espião russo; depois, fui ao CAM da Gulbenkian e só posso dizer que hei-de voltar várias vezes para ver os diálogos com Amadeo Sousa Cardoso. Estuas duas descobertas de hoje deixaram-me feliz.

6:09 da tarde  

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