terça-feira, julho 6

Outras memórias

Um pequeno intervalo no mundo bonito e colorido da moda. Afinal, o blog faz-se das nossas vontades caóticas e aparentemente sem sentido para terceiros, mas este calor é meu conhecido de outros tempos, em que as folhas das árvores não mexiam nem as noites arrefeciam. Com os tempos foi-se a árvore que se via do quarto, mas o calor abafado, sem humidade nem vento mantém-se para quem a ele se habituou e para dar que fazer a alertas amarelos e vermelhos.
Em Dezembro do ano passado li este post no blog Quarta República. Ao contrário da autora, reconheço os locais, os rituais e os silêncios da morte na aldeia. Está um pouco incompleto, o texto; há mais para além do que presenciou e mais ainda ficou por dizer, pois nem só de dias santos "vivem" os cemitérios, normalmente nas extremidades das aldeias mas acarinhados pelos vivos que os zelam e honram.
Mas deixe-me dizer-lhe que também fazemos (se faziam?) por lá bonitos casamento, acolhidos nas Casas do Povo, sem laçadas nas cadeiras, chiffon nas mesas, ou candelabros pirosos, mas com um catering honesto e farto. Há muito que deixei de os presenciar, julgo até que rareiam nos dias de hoje, mas recordo os cânticos aos "esposados", os amendoins e rebuçados baratos no final da cerimónia, que todos corriamos para apanhar (a minha B. tinha um jeito que só visto).
Porém, para lá de funerais e casamentos por detrás do sol posto, havia (não sei se ainda será assim) um cerimonial que muitas vezes constatei e ao qual acabámos por nos acostumar. Falo das visitas ao hospital onde, a horas certas e sempre que possível, amigos, vizinhos, familia (e até desconhecidos) faziam a volta pelos pisos onde havia sempre um amigo, um vizinho ou um familiar acamado. Garanto que havia sempre alguém a quem visitar, com quem trocar estes rituais de boa vizinhança e amizade.
Eu era jovem, não tinha esta responsabilidade social que pertencia aos mais velhos, mas escutei vezes sem conta conversas sobre o andamento das cirurgias, os nomes dos médicos que os tratavam, e até com quem se cruzavam durante as visitas. Julgo que seria um importante momento de socialização, provavelmente só possível em pequenas cidades do interior, em tempos em que todos se tratavam pelo nome.
Hoje dá-me vontade de sorrir, valha-me Deus.
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