Vistas mar
Telefonou-me o meu amigo Ed para me perguntar se ainda estava em Cap Ferrat. Sim, ainda estou por cá, que o tempo está bom e a gente é amável. Ao contrário daí, as pessoas cumprimentam-se com dois beijinhos ou um protocolar beija-mão, chegando até a trocar algumas palavras gentis comigo. Julgo que apreciam o meu uniforme branco tão elegante que uso ao serviço aqui no barco, pois parecendo que não, dá logo outro aspecto. Penso também que contam com a minha discrição e com o meu francês fraquinho, mas que dá para o essencial. Sou assim uma espectadora silenciosa das confidências trocadas entre um gin e um martini sobre as almofadas na proa que mantenho sempre impecáveis. Aliás, aqui no iate, todo o pessoal é discreto e diligente em responder a todos os desejos dos convidados. Mas como chamaram os meus patrões a esta espécie de fita que segura o cabelo?
Como ia dizendo, basta uma vista de olhos para comprovar que todos os que costumam vir a bordo são gente com muito dinheiro mas nem sei bem como explicar esta evidência. Os milionários devem ser assim, naturalmente milionários. A gente olha para eles no cais, nas esplanadas, nos decks, nas lojas ou nos restaurantes e tira-se-lhes logo a pinta. Aquele maduro, por exemplo, julgo reconhecê-lo das revistas, até parece ter mel, rodeado de mulheres espantosas com cabelos bem tratados e pés de aturada pedicure.
Pensando bem, este trabalho é fácil de levar, o horário simpático e o ordenado bem bom. Tivesse eu sabido deste trabalho sazonal há mais tempo e já tinha trocado de carro e pintado a cozinha. À excepção da saída para alto mar há uns dias, com duas noites a bordo, tudo tem corrido de forma bem agradável. Decididamente, aquela gente não dorme nem deixa dormir. Que noites desassossegadas aquelas, com portas a bater e vozes pegajosas pelos corredores, mas nada a dizer das gorjetas por manter as bebidas geladas e o sushi sempre fresco.
Observo a outra bonne que se aproxima sem pressas e reparo que até os polícias são bem apessoados, mas quem terá deixado a porta aberta e deixado o cão assustar o meu sonho?
4 Comments:
às vezes sabe melhor sorrir do que rir :)
Um beijinho e bons sonhos
Miss, este seu post é extraordinário!
Adorei o "sushi sempre fresco".
Espero que com mais uns dias dê conta da pintura na cozinha, cfr. deseja.
Cumps.
É sonho, é Miss...
Sucede que tenho uma amiga nessas andanças dos paquetes e, creia, a vida não é nada rosa para quem lá trabalha. Muito pelo contrário...
Por isso, continue nessa 'rêverie' de Hollywood, que nos faz imensamente bem à divagação imaginária.
Lindo, 'comme d'habitude'...
Cap Ferrat, ida e volta à procura do hotel de «Terna é a Noite» e depois, zás, barrete até aos pés: o hotel é em Cap Antibes, parolo! Foi assim, há uns 10 anos. Mas tudo OK, no balanço final. As vistas eram soberbas, e deu para um bronze de respeito. Viva Villefranche-sûr-Mer! Viva Beaulieu! Viva Menton! Fora com pinhos, socas e sinhôzinos maltas. Bj
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