"(...)As televisões levaram para Pequim o discurso do futebol, cuja chave é o verbo sonhar. Os atletas sonham, o jornalista sonha, o povo sonha, Portugal inteiro sonha com as medalhas. Vanessa ganhou a prata? Pois agora sonha com o ouro em Londres. O cavalheiro do remo passou a eliminatória? Pois Portugal volta a sonhar com a medalha. A palavra sonho devia ser banida do jornalismo televisivo português.
(...) Até Obikwelu pediu desculpa pelo dinheiro gasto: mas o atleta a quem se exigia o ouro é pior pago do que um defesa-esquerdo de uma equipa da Liga de Honra de futebol. E 14 milhões é um terço do que custou em média cada estádio do Euro 2008, incluindo o prodigioso elefante branco construído no Algarve, que só abre quando o rei faz anos.
O país que pede aos atletas olímpicos que curem a nossa eterna depressão nacional é o mesmo que, ao longo de quatro anos, basicamente não liga pevide a qualquer desporto que não seja o futebol.
(...) Os portugueses não gostam de desporto. Gostam de clubes de futebol.
E agora exige-se até que os atletas olímpicos estejam preparados para falar com a comunicação social... Para quê, se ninguém fala com eles o ano inteiro? Mas o mais grave é as declarações de três ou quatro atletas estarem a servir para transformá-los em bodes expiatórios, camuflando o evidente disparate de um comité olímpico que deu por garantidas medalhas que não podia prometer. E colocando em cima dos atletas uma pressão pouco recomendável.
Estou pois de acordo com Marco Fortes, o primeiro lançador do peso português a competir nuns Jogos Olímpicos, quando diz que a manhã é para ficar na caminha. Ele, ao menos, sonha a dormir. Tem mais juízo do que um país que passa o dia a sonhar acordado. "
*********
Duvido que o Nelson Évora tenha lido o artigo do Miguel Gaspar de hoje no Público, mas quando o jornalista lhe foi com a conversa do "sonho", esteve à altura: respondeu-lhe que "acreditava" porque tinha trabalhado para isso e sabe lidar com a pressão.
Grande Nelson!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home