segunda-feira, agosto 11

Passos felizes

Olho para os turistas encalorados, hoje em dia já sem aquela aparelhagem fotográfica imensa ao pescoço, substituída que foi por minúsculas máquinas multi-funções, quanto mais pequenas mais caras. Protegidos por chapéus, bonés e outros artefactos que os abrigam do nosso sol, roupas ligeiras ou mesmo demasiado ligeiras, não posso deixar de me surpreender com aquelas criaturas que, em satisfeito anonimato, percorrem as nossas ruas, lado a lado com indígenas encasacados e estou, claro, a falar também de mim. Invejo-lhes o prazer do pastel de nata comido com gosto no passeio, uma novidade, o doce típico da viagem, em nada diferente de uma turista portuguesa em frente a uma deliciosa e elegante pastelaria austríaca. Ou melhor, a turista é a mesma, a diferença é a encantadora e requintada pastelaria, de montra decorada com elegância e gosto. E lá vão os nossos turistas, fotografando os lençóis estendidos em travessas estreitas da grande avenida, de óculos escuros, em mangas de camisa ou alças finas, sacolas a tiracolo ou com volumes enormes em forma de cinto afivelados à cintura. Não páram nas lojas de luxo que ladeiam a avenida, onde falta o brilho de uma calçada bem arranjada. Eu páro e fico a olhar, mas não sou turista, tenho mais tempo. Eles páram em frente a montras de toalhas bordadas, cerâmicas, azulejos decorativos e cestos de palha coloridos. Eu já não páro. Chega-me o Rossio pisa-papéis, daqueles em bolas de vidro que se agitam e aparece neve. Mais abaixo, lá nos encontramos de novo, entre cervejas, risos, fotografias e queijadas. Com tempo para dispender não veêm, como eu, as horas certas no relógio do Arco. (fot.Rua Augusta)
TEXTO EDITADO
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