O Verão como pretexto (4)

Há algum tempo atrás, um funcionário de uma destas secções, vendo-me atrapalhada a escolher a melhor peça só com olhar, prontificou-se para me ajudar ao que cobardemente acedi. Fiquei sem perceber qual o critério de selecção: a cor, o cheiro, o tamanho? Alguma luz especial, um sinal do além, um sino, algum estalinho? E o sujeito amassava, apalpava, cheirava e até mesmo levantava com as duas mãos diversos exemplares tipo Almeirim. Não ouvi nenhum estalido, não vi nenhuma luz nem senti qualquer odor especial, mas o ritual continuava, apesar de algumas hesitações.
Eu já deveria saber que quando raramente se cometem infracções, como exceder o parquímetros por uns minutos, acontece ser apanhado na primeira oportunidade. Pois aqui, depois de ceder a príncipios básicos da convivência entre consumidores e para minha satisfação, parecia que tudo tinha corrido bem com a pesagem da fruta. Mas a mão de Deus anda por todo o lado até junto à caixa registadora, onde ficou o melão. Prometo não voltar a pecar, perdão, a tocar.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home