sexta-feira, agosto 1

Noites de memória

São frescas as noites de Lisboa. Corre sempre um vento, uma aragem do rio, traz-se um agasalho pelo sim e pelo não, e que ainda me faz sorrir. Como tantos que vieram das terras dos alertas laranja dos tempos modernos, ainda estranho estas noites.
Para muitos, o passeio era na avenida, outros habitavam os bancos escondidos nas copas das árvores em conversas de voz baixa. Na escuridão das casas fugia-se do calor das lâmpadas e das picadas das melgas. Era assim o Verão. O dia quente que não arrefecia à noite as ruas, as casa, e o mês da praia que nunca mais chegava para nos libertar o corpo do calor.
Eu, que não sei de que terra sou, se dos lugares dos meus mortos se das cidades dos vivos, trago na memória ruas escuras e vozes baixas nas ombreiras das portas, à espera de um vento e do sono, para mais um dia acordado ao toque do sino e dos galos da vizinhaça. Eram tempos de poucas mudanças e muitas certezas. E o vento que não corria e o calor que fazia: "vai com Deus, Maria."
(Já editado)
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