O Verão como pretexto (6)

Antigamente eram os pratos do dia escritos a tinta de feltro em bocados de toalhas de papel coladas nas janelas dos restaurantes. Uma forma de marketing um pouco mais produzida são as ementas de rua, em ardósias de frente e verso, uns verdadeiros trambolhos nos passeios já estreitos por natureza. Algumas delas servem de avental a cozinheiros gigantes que parecem apontar o dedo para o estabelecimento, outro disparate odiado por cegos como diversas vezes ouvi praguejar a uma amiga invisual. Recentemente, em locais frequentados por turistas, apareceram estas ementas com legendas fraquinhas mas com impacto visual, ou seja, fotografias tamanho A4 de pratos garridos engalanados com sortidos de saladas e frutas. Os estrangeiros e os indígenas já nem precisam de perguntar qual o acompanhamento do bife nem o que são escalopes de vitela.

Confesso que prefiro o cozido à portuguesa e a sopa de legumes a caneta de feltro azul porque o prato que vi há dias a ser servido a uma estrangeira parecia uma fotografia tão reles como as que costumo tirar.