Literatura underground

Esta semana viajei de metro com uma leitora da Fátima Lopes. Sentou-se à minha frente, abriu o livro na marca e não lhe tirou os olhos de cima até final da viagem. Já tenho viajado com leitores de Harry Potter, romances históricos, espiritualidades, programas de televisão e de folhetos turísticos. Porém, a maior parte dos viajantes com quem reparto o espaço são, como eu, leitores do Destak ou do Metro. Também acontece com regularidade dividir fraternalmente os sons saídos de Ipods com os jovens mais próximos e agora que terminou o sossego, partilhamos todos conversas variadas em telémoveis alheios. Mas voltemos às leituras. Há uns tempos atrás, uma senhora (sempre as mulheres) tira o livro do saco e logo uma dúzia de olhos lhe caem em cima da capa. Nada feito. O livro estava forrado com papel de embrulho. A senhora ia lendo e sorrindo. E o título que continuava um mistério. Talvez quando me levantasse para sair. Chego à estação, fecha o livro e sai também. Das duas uma: ou a senhora era muito zelosa das suas coisas ou muito zelosa da sua privacidade. Uma chata.

(Já editado)