sábado, maio 19

Noites de memória

São frescas as noites de Lisboa. Corre sempre um vento, uma aragem do rio, traz-se um agasalho pelo sim e pelo não, e que ainda me faz sorrir. Como tantos que vieram das terras dos alertas laranja dos tempos modernos, ainda estranho estas noites.
Para muitos, o passeio era na avenida, outros habitavam os bancos escondidos nas copas das árvores em conversas de voz baixa. Na escuridão das casas fugia-se do calor das lâmpadas e das picadas das melgas. Era assim o Verão. O dia quente que não arrefecia à noite as ruas, as casa, e o mês da praia que nunca mais chegava para nos libertar o corpo do calor.
Eu, que não sei de que terra sou, se dos lugares dos meus mortos se das cidades dos vivos, trago na memória ruas escuras e vozes baixas nas ombreiras das portas, à espera de um vento e do sono, para mais um dia acordado ao toque do sino e dos galos da vizinhaça. Eram tempos de poucas mudanças e muitas certezas. E o vento que não corria e o calor que fazia: "vai com Deus, Maria."

9 Comments:

Blogger definitivo said...

"Eu, que não sei de que terra sou, se dos lugares dos meus mortos se das cidades dos vivos, trago na memória ruas escuras e vozes baixas nas ombreiras das portas, à espera de um vento e do sono, para mais um dia acordado ao toque do sino e dos galos da vizinhaça. Eram tempos de poucas mudanças e muitas certezas. E o vento que não corria e o calor que fazia: "vai com Deus, Maria."

Prosa poética, num texto belíssimo.

Cara Miss Pearls, usando uma expressão radiofónica, posso pedir um livro?...

7:51 da manhã  
Blogger definitivo said...

Esqueci-me: pela sua expressividade, a foto parece feita de palavras. Um parágrafo feito de imagens.

8:00 da manhã  
Blogger Maria de Fátima Filipe said...

A menina no seu melhor, Miss Pearls. Presumo que por motivos diferentes, mas também eu não sei de que terra sou, e revisitar as minhas raizes é complicado. O texto está muito bonito, especialmente o paragrafo já aqui também sublinhado pelo definitivo.

:)

1:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Carissima Vizinha

Por motivos profissionais estive esta semana na sua Beira Baixa - Idanha a nova - e estava cá uma braza! Lá o verão já chegou em peso...

Respeitosas beijocas e bom fds,

4:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caramba!!!
Como gosto da forma de sentir de Miss Pearls

V.Exa é mesmo uma Pérola

5:36 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Obrigada.
A fotografia é de uma esplanada maravilhosa em Sta Catarina, a Noobai.

10:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que feliz aguarela! Roçaram-me na pele as sensações de Verão que pincelou. É pelo prazer delas que tanto aprecio o Verão.
Que belo quadro!
:)

1:44 da manhã  
Blogger A Bela e o Monstro said...

Eu, que sou de terras mais quentes, também sou apologista do agasalho, do lençol a pesar no corpo nas manhãs de primavera.

4:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que bonito, Miss Pearls. Lindo, comovente texto. Enche-me de encanto e de muitas saudades.

2:16 da manhã  

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