Obras em casa
Refiro-me às obras em casa dos outros, claro. Que as nossas nunca incomodam ninguém, como todos sabemos.
Geralmente chegam às 9 em ponto num Sábado. Começam com umas marteladas e vão gradualmente subindo de tom e de som. Ainda pela fresca, surge o black & decker que, juntamente com as marretas(?), vão ser os nossos maiores inimigos nos próximos dias. Por esta altura devemos estar na fase das paredes, louças de cozinha e casa de banho. Calculamos nós. Há-de passar-se a outros níveis, nomeadamente, o soalho e as novas canalizações. Dois dias depois deste inferno, audível por todo lado, suspiramos por um sossegado dia de trabalho e nada mais agradável do que sair de madrugada e regressar após a saída dos homens das obras, nesta altura já transformados em peles-vermelhas ou mesmo brancas, dependendo da nova cor das paredes.
Os proprietários mais gentis têm o cuidado de colocar um papelinho na entrada do prédio ou nas caixas de correio da vizinhança a pedir desculpas pelo incómodo causado. No entanto, quando o pó começa entrar, espalhando espessas camadas cinzentas por todo o lado, essa gentileza é rapidamente esquecida para dar lugar a ruidosos insultos abafados pelo ritmo dos martelos e de outros inomináveis instrumentos.
Por altura da instalação dos novos móveis da cozinha, já ninguém cumprimenta os proprietários. Os mais gentis, acabrunhados com a situação, vão sossegando a vizinhança com a brevidade da conclusão dos trabalhos. Os outros, os mesmos que não despejam o lixo e deixam sempre a porta da rua aberta, são votados ao ostracismo ou à retaliação do elevador.
Quando as obras terminam e o silêncio regressa ao alegre remanso dos lares, sobra o entulho à porta. Desconfio que ainda lá está.
5 Comments:
A descrição exacta do que se passava no meu prédio (excluindo a parte da gentileza do aviso, que nunca houve).
Isto até ao dia em que, em plena época de exames na faculdade, acordei com o barulho da black and decker. Atorduada e sem capacidade para pensar, liguei para a polícia (sim, porque as obras ao fim-de-semana são proíbidas). Claro que mal me passou a irritação, fiquei cheia de remorsos, mas foi remédio santo. Nunca mais houve obras!
As obras em Portugal são uma inevitabilidade.
Não há vez, e reforço, não há vez que esteja em Lisboa (de férias, claro está!) em que não seja ferozmente acordada numa ou várias manhãs pelo martelo ou pelo berbequim de obras no meu prédio, no prédio vizinho ou na rua. Uma inevitabilidade.
Devia era ter optado por ser empresária da construção civil, isso sim!
Pois é Carissima Vizinha, num bairro que teve fama de ser fino... Muitas fachadas plenas de falta do minimo de educação...
Boa semana a Usted,
Cara Miss Pearls,
O seu "post" fez-me lembrar uma antiga crónica do MEC sobre os berbequins dos vizinhos aos sábados de manhã.
Que convenhamos é muito pior do que obras esporádicas!
Bjs
É tão verdadeiro aquilo que diz que quase senti resquícios de batucadas na minha cabeça das obras recentes no meu prédio, com a agravante de ser mesmo ao lado do meu apartamento.
Eu até gostava de ser mazinha e vingar-me do barulho recente da minha vizinha e fazer um lifting à minha cozinha que bem precisa... e dizer à dita cuja que a minha cozinha tinha ficado muito mais gira do que a dela, mas falta-me aquilo a que se chama de... massa!
Caramba, até para retribuir o barulho uma pessoa precisa de um dinheiro extra.
Tá mal!
Enviar um comentário
<< Home