domingo, novembro 12

Uma Austríaca em Versailles

Acentuando a frivolidade desta rainha mal-amada, Eurico de Barros situa o estilo de vida desta personagem criada por Sofia Coppola "algures entre o da princesa Diana e o de Paris Hilton" e de "uma "mulher moderna", espécie de equivalente no século XVIII da adolescente pop, irreverente e fashion dos nossos tempos. "
João Lopes refere esta realização como o exercício formal (formalista?) de Sofia Coppola, atribuindo-lhe "um clima tendencialmente romanesco, assumidamente artificioso" transformando voluntariamente o filme "numa imensa passagem de modelos, sofisticada e espectacular,(...) em que as canções desempenham um papel fundamental — The Cure, New Order, Phoenix e The Strokes estão na banda sonora, tentando "empurrar" o filme para a condição de um impossível teledisco operático".
Mas neste filme, também não era a história da França que me interessava. Aliás, durante este ano, a revista Histoire dedicou a Maria Antonieta um número quase exclusivo, assim como a Luis XVI. E quanto a crítica de cinema, deixemos isso para quem sabe.
A verdade é que esta menina, já antes de atravessar a fronteira, conhecia o seu futuro, ou melhor, estava preparada para o seu destino. Sabia que a sua função, recebida pelo nascimento e pelo casamento, era dar continuidade à dinastia.
No filme, apesar de omisso do ponto de vista histórico, estão lá todos os sinais da extravagância, da vaidade, do esbanjamento, da ociosidade, das difíceis relações com o resto da Europa, dos finos equilíbrios diplomáticos e de uma vida na corte tão rígida quanto hipócrita.
Maria Antonieta poderia ter dormido com metade de um batalhão sueco desde que as funções fossem asseguradas. Como se diz agora, o século XVIII foi todo um programa. Mas se pensarmos na desgraça que são algumas das meninas do sec. XX com casamentos em diversas famílias reais, é de fugir. A Diana de triste fim, sentindo-se "devasted" com o triângulo amoroso no seu casamento, refugia-se em braços alheios, seja de jogadores de polo galdérios ou de dandies milionários, uma outra enrola-se em beija-pés muito pouco católicos, sem falar de algumas que fazem do pé descalço uma forma de vida.
Pelo décor, pelo palácio maravilhoso, pelos jardins, pela música, pela ostentação, pelas fantásticas iguarias, leques, sapatos, tecidos, vestidos, cabelos, pelo sorriso lindo da actriz e malgré les croissants, foi um tempo agradável. Falo de mim, claro.
NOTA: Depois de uma pequena discussão entre bloggers (um monárquico e uma republicana) que sabem ler, escrever e pensar, o post do Miguel no Combustões : "A última rainha". Vale a pena ler e discutir.

10 Comments:

Blogger St. J. said...

Que tal sugerir ao Manuel de Oliveira que faça agora o Rei Sol? Mas em versão softcore, com planos um pouco mais demorados...

12:21 da manhã  
Blogger Maria de Fátima Filipe said...

Adorei o filme. Uma abordagem inovadora de um tema já muito tratado. Lindissimo, elegante, sensual e simultaneamente contido.

11:33 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Um exercício cénico conseguido, sobre o deslumbre da glória numa juventude radiosa, institucional e promissora, invejada por uma corte de época e habitada por um lugar majestoso, na véspera de um desafiador choque da história e de um estertor omitido, mudo e inconsequente.

5:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei do filme. Passei um bom momento. Creio que a Sofia está em fase de intensos treinos com muitos dólares à disposição, para daqui a uns anos surpreender-nos com uma obra maestra.

Sem querer estabelecer comparações [sempre péssimas] com o pai, há um gosto comum pelo barroquismo. Aqueles cenários, roupas, adereços, música... O barroco que há em mim, identifica-se com a qualidade desta família.

Um abraço

8:36 da tarde  
Blogger magarça said...

...e pela banheira. É linda!

1:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Mas neste filme, também não era a história da França que me interessava.

Precisamente, não é a História de França que interessa. E ser um exercício formal não é necessariamente mau. Aliás, é isso que torna o filme tão bom.

2:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Pena mesmo é faltar um cheirinho a Chanel.

:)

3:49 da tarde  
Blogger Aninhas said...

Adoro tudo quanto diga respeito à época em questão. Razão pela qual fui a correr ver o filme, mas confesso que não consegui ser tão optimista.
Senti-me defraudada quando acabou...
Até percebi o género diferente que S. Coppola usou para transmitir algumas realidades da época mas acabar assim?? naquela altura ?? Sem mais nem beira??
Faltou-lhe closure, na minha modesta opinião.

5:01 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Olá Aninhas, como vai?
Eu acho que os filmes da S Copolla são um bocadinho assim. Eu gostei do filme. Leia o post do Miguel.
Apareça mais vezes. Tenho sempre muito gosto que passe por aqui.

Isobel:
Parece-me que de facto o filme não pretendia ser "histórico"

Margaça:
A banheira é linda, o soalho é fantástico!

António:
O sec. XVIII tem muito que se lhe diga.

5:27 da tarde  
Blogger vbd said...

recorrendo a uma expressão que a Miss P. utiliza num outro post, há 'todo um programa', senão mesmo todo O programa, condensado na fracção de segundo em que os pés de Marie Antoinette transitam dos All Star para uns Manolo Blahnik...

8:52 da tarde  

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