quinta-feira, julho 13

Uma casa e uma árvore

Afinal não é só a mim que este calor traz recordações suaves de um tempo que corria lento, da casa da infância e das memórias de quando estávamos todos. Hei-de apanhá-las uma a uma para que não fujam, lendo sinais, porventura imaginários, abrindo as portas, gavetas, arcas ou desvelando os monogramas do carinho. O calor não me é estranho mas o vento só o conheci com a mudança da vida. Não sentia o fresquinho hall do prédio dos meus pais quando saía para o forno da rua. Por lá não fazia esse "fresquinho" de que fala. Talvez nas adegas de pedra onde se improvisava algum bem-estar de Verão. De resto, não corria um vento, não havia mar, o calor era seco como as terras vizinhas. Nestas noites quentes tenho-me lembrado daquela árvore enorme com ramagens que pareciam entrar-me no quarto. Naquelas noites, que ainda lá estão, cheias de silêncio (que já não existe), lá estava ela, quieta, com as folhas preguiçosas e as janelas abertas à espera de uma aragem. Para muitos, o passeio era na avenida, outros habitavam os bancos escondidos nas copas das árvores em conversas de voz baixa. Na escuridão das casas fugia-se do calor das lâmpadas e das picadas das melgas. Era assim o Verão. O dia quente que não arrefecia à noite as ruas, as casa, e o mês da praia que nunca mais chegava para nos libertar o corpo do calor. A árvore ainda lá está. Agora só está a árvore. NOTA: Mais uma crónica de infância e calor, por Eurico de Barros: «Está cá um bafo!»

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Miss Pearls.

É a casa das suas origens? Suponho que nessa altura (para sua e nossa felicidade, não existisse o café Sanzala, com cadeiras e mesas de plástico, de um Portugal cada vez mais feio e moldado à imagem e semelhança dos autarcas. Um Portugal que, com mtº raras excepções, descobri nos últimos anos ser agora feito de churrascarias, stands ao ar livre de venda de carros em 2ª mão, estaleiros de venda de materiais de construção e casas de alterne! Parafraseando alguém que até foi meu prof.: "Livra"!!!

JC

1:13 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

JC
Retirei esta fotografia do FLICKR. Sei que é algures no Alentejo, mas não sei onde.
Usei-a só porque me lembra o calor.
Vou colocar o autor da forografia, o que devia ter feito logo.

A minha casa era linda de morrer. :)

1:22 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Miss

A arvore está lá e nós estanos cá. As duas, E esqueceu-se da expressão, até os "tordos caem assados", da noite com estrelas, de durnir na varanda, das portas a bater com a corrente de ar, da velha ventoinha a ronçar na sala onde duas almas grisalhas cosiam e viam tv, á espera dp gaspacho e da água avinagrada. Esqueceu-se do calor que derretia o alcantrão, das viagens num Ford, de janela aberta e sem a moderniçe do ar condicioando.

T

1:19 da manhã  

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