sábado, janeiro 22

Coisas do frio (I)


Ao contrário de muitos queixosos do frio, gosto do Inverno ou melhor, agrada-me a ideia de conforto junto ao calor. Ao final da tarde, nestes dias tão curtos, com alguma neblina, gosto do cheiro a madeira, de iluminação amável, e do sossego da noite. Algo parecido a umas trincheiras que nos protegem dos outros, do frio e da hostilidade do mundo.
Nem todos os cheiros de final de tarde e neblina são iguais; por vezes são as recordações das lareiras dos meus avós ou de minha casa, mas o mais recorrente é o frio seco das ruas estreitas e empedradas da minha aldeia, feita de casas modestas com chaminés encardidas. Havia sempre o cheiro de madeira a arder para dar algum calor ao desconforto do frio que era muito. Claro está que esta ideia romântica e bucólica, pouco tinha a ver com a realidade da altura: o cheiro a fumo entranhava-se nas roupas e no cabelo e as cinzas eram uma batalha diária.
Mas agrada-me recordar estes cheiros de fim de tarde antes de regressar a casa. Nem sempre são felizes, mas são só meus.
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