segunda-feira, janeiro 24

Aos ossos, cidadãos.

Imagine-se uma sala cheia de "entrevados" com maleitas de ossos, músculos e essas coisas chatas que levam um ror de tempo a sarar: um pedala como se velocidade induzisse a cura, outra rebola com uma bola gigante, uma idosa faz movimentos ao pulso, uma recém reformada bate recordes na passadeira e eu vou-me fritando aos poucos com eletrodos ligados a máquinas.
São estes os meus companheiros matinais na luta por uns ossos direitinhos e músculos enxutos. Cada um com a sua maleita diferente, para a qual não são necessárias legendas nem tradução pois as máquinas tudo explicam: equipamentos para pé, perna, braço e osteoporose [entretanto termina o tempo dos eletrodos e ligam-me a coisas magnéticas].
Invejo-lhes a energia logo de manhã. Depois de uma breve explicação sobre o andamento da maleita e do aparecimento de novas dores (hoje saiu uma ciática para a senhora do canto e uma hérnia para o cavalheiro junto à porta), entra-se na ordem do dia, ou seja, a conversa do costume praticada em muitas corridas de taxi: só ali num bocadinho, Cavaco 3, abstenção 1, nulos zero, mas nada chega para nos animar [terminou o tempo para os magnéticos e vamos aos raios]. A "roubalheira nos impostos" põe o senhor a caminhar mais depressa, os descontos nos medicamentos descontrolam os movimentos à idosa e os aumentos dos transportes desiquilibram o ciclista. Por esta altura já estarei um pouco mais frita, cozida e assada (por esta ordem), pronta para me despedir; "gelo", insiste a técnica, "repouso", aconselha a idosa, logo a mim, que nunca fui dada a dores de cotovelo.
eXTReMe Tracker