Mirones
Podem ver-se nas estrada a abrandar assim que avistam chapa batida ou, praticamente parados, na expectativa de vislumbrarem algum pé decepado e poças de sangue ainda frescas, indiferentes ao esbracejar da policia ou à acumulação de tráfego. Deve ser uma visão muito apetitosa, possivelmente acompanhada por interjeições de terror (credo), de dor (ai), de alívio (ufa!), de espanto (caramba!) e alguns, por arrastamento, lá vão soltando palavrões de impaciência.
Também podem ser avistados junto a penhascos onde ocorreram derrocadas de pedras, de preferência após a morte de um ou mais desgraçados, à beira-mar depois de afogamentos, junto a carros de bombeiros por altura de algum incêndio, ou onde quer que ocorram tragédias ou dramas. Em ambientes fechados, o seu habitat natural é junto aos televisores (alguns com écrans muito fixes), onde se pode ver, com os olhinhos que a terra há-de tragar, imagens de desvastação e morte entre o peixe e a fruta. Uma tragédia é sempre notícia, seja a que hora for.
Um atentado também não é assunto para desprezar: escorre muito sangue, vê-se roupa rasgada e uma ou outra fractura exposta muito jeitosa. Mas a banalidade do mal, exactamente por ser tão habitual (Israel, Palestina, Irão, Iraque, Afeganistão), gera cada vez menos audiências e já se consegue comer a sopa em sossego.
No grau zero da curiosidade (em itálico, claro), no patamar da morbidez, estão os ranhosos escondidos nas dunas, mas esses têm outro nome, até porque não querem ser vistos. São uma espécie de mirones "under cover", com ou sem binóculos, em arriscadas missões de voyeurismo em busca de sensações fortes sem tragédias, taradice, grandes escaldões e doença certa.
E podia continuar, que o assunto é imenso ("dunas"?) e o post já vai longo. Amanhã haverá mais dramas e tragédias a cores, para todos, mas que só a alguns tiram o sono.
1 Comments:
as conferências de imprensa do Jorge Jesus. É o tipo de acidente mais frequente ao qual não consigo desviar o olhar (o "pErtanto" é absolutamente genial).
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