Estação seguinte
É proibido fumar em toda a rede do Metro.
Ouvia-se na plataforma praticamente vazia, de gente à larga enquanto o transporte tardava em chegar. Foi logo ali, em frente ao painel publicitário de uma empresa de telemóveis, que deu por ele. Nem foi preciso olhar de esguelha; o homem "correspondia" ao maldito padrão que a perseguia há anos. Até parece que conhecemos as pessoas sem nunca as termos visto, que raio de coisa esta!. Olhou para ela sem se dar ao trabalho de disfarçar, e ali ficaram ao lado um do outro na plataforma. Ela reconheceu os papéis que ele fingia remexer e ele olhou-lhe para as mãos. Ocorreu-lhe se não estariam ambos perante os "padrões" que os perseguiam, condenados ao mesmo fogo dos Infernos e à procura do mesmo céu. Mesmo sem óculos reparou no blusão e no cabelo, sem jeito nenhum, não há padrão que aguente tanto desleixo; e lá estava ela, armada com o detector de carácter, a pisar as (estéreis) armadilhas em que já tinha caído no passado, em campo minado de bombinhas de carnaval. Ainda lhes sentia os estilhaços.
Por favor proteja os seus bens!
A situação não deixava de ser patética e a custo conteu uma gargalhada. Quase que podia jurar que ao lado dela também alguém fazia um enorme esforço para não ser rir. Veio o comboio e acomodaram-se ao fundo, praticamente em frente um ao outro em lados opostos da porta. Já não faziam qualquer esforço para disfarçarem o olhar, sem embaraços nem fingimentos. Só uma enorme vontade de rir, contida a custo por exigência das circunstâncias.
Talvez sejamos vizinhos, o que tinha a sua graça, pensou. A viagem era curta, pouco propícia a grandes divagações e ela saía na estação seguinte. Esperou até ao último minuto para se aproximar da porta e ainda o viu olhar para ela do fundo da carruagem.
Shit! Seguiu para Odivelas!
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