Um pouco de paz
A propósito do excesso de ruído que me rodeia e que me incomoda, assunto barulhento tão bem retratado há uns tempos por António Barreto no Público, verifico (mas posso estar enganada) que há muita gente que pouco tempo se aguenta em casa. Não estou a falar sequer desta festiva e colorida época natalícia, na qual é suposto estarmos todos felizes, com ruas e centros comerciais apinhados, sacos engalanados, luzes e badalos. Aliás, e não é por acaso, que voluntariamente fico entrincheirada num ambiente no qual, pelo menos posso controlar o termostato, condicionar os níveis acústicos e ostracizar os pais natais, o que, confesso, me dá algum gozo. Já quanto a árvores de Natal, se não há pinheiro a sério, não contem comigo. Pois é, agora usa-se tudo mastigado, reciclado e as árvores são poupadas ao abate, azar o meu. Aqueles adornos brancos ou prateados, estilizados, raquíticos, minimalistas, vagamente coniformes, podem ficar deslumbrantes em muitas casas & decoração, mas não na minha. Assim sendo, as renas e as "merry seasons" ficam onde devem estar, lá longe, onde a noite se confunde com o dia, entre saunas e neve em abundância. O azevinho verdadeiro, pobrezinho, já foi desaparecendo e nunca se sabe se a bicharada se lambuza com as bagas vermelhas. Pois fica o eucalipto e outra planta cheirosa cujo nome desconheço, ao bom estilo "back to basics", a lembrar a minha aldeia, ou aquilo que hoje me parece que eram aqueles tempos distantes.
A manhã acordou cinzenta mas não me queixo. Não fosse a humidade entrar-me pela clavícula dentro, diria que é um dia perfeito. Entretanto foi já declarada oficialmente aberta a época de paz e amor entre os homens de boa vontade, com votos de solidariedade, tolerância, contra a guerra, a fome e o aquecimento global. Se os bons espíritos fossem decretados com as decorações de rua, teríamos Natal quase até ao Carnaval.
(cont.)
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