quarta-feira, setembro 23

Pouca terra

Uma velha linha de comboio com uma paisagem de rocha e água num trajecto conhecido vezes sem fim. Mais seguro do que a estrada que mata os nossos e mais sensato que todas as pressas, desconfio que poucos o prezam. É pena. A velocidade e o betão tiraram-lhe a relevância de outrora, se bem que agora mais cómodo e mais rápido. Chega quase sempre a horas, o comboio da Linha da Beira-Baixa. Clientes antigos não esquecem os caprichos das velhas linhas que nos faziam parar junto a coisa nenhuma. Era estranha aquela escuridão e o silêncio das bermas. E o comboio da outra linha que nunca mais vinha dos apeadeiros e das pontes velhas sobre o Tejo. A gente queria chegar, na estação a família já esperava, mas as velhas máquinas tinham um tempo que não era o nosso.
Lembrei-me disso quando vi, no regresso, bandos de jovens de volta à capital. Podíamos ter sido nós há muito anos, mas sem computadores para ver filmes, sem música nos ouvidos ou telemóveis para comunicar. Curiosamente, já não carregavam os sacos pesados, cheios de tudo e roupa lavada. Outros tempos de menos fartura mas com os mesmos sonhos.
Atravesso a estação sem olhar. Detesto aquele lugar onde se sente, à partida e à chegada o vazio prematuro e inconcebível de tantas ausências.
São histórias de linhas de comboios que se confudem com a linha da vida.

6 Comments:

Blogger CPrice said...

a Linha da Beira Baixa que faço ainda duas vezes por ano :)
Sim, podíamos ser nós *

(Gostei muito)

Beijinho
(Once)

9:27 da manhã  
Blogger Pedro Pestana Bastos said...

Que saudades.
Fiz essa linha dezenas de vezes quando era menino.
Ia muito vezes ao fim de semana, na pascoa, no verão.
Lembro-me como hoje das horas parado na Ortiga à espera do cruzamento de outro comboio. Do cheiro a linha e do barulho do motor diesel. Chegava à Barca da Amieira e passava o Tejo numa barco a remos. Cheguei a passar com a minha bicicleta e depois subir 9 kilometros até Arez. Mais tarde veio a motorizada que vinha no Interregional e passava em cima da barca.
No ano passdo fui com os meus folhos. Comboio electrico não 'e a mesma coisa mas gostei muito.
Obrigado pelo poste. Fez-me saudades.
PPB

12:13 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

Creio que este troço é antes de chegar à barragem do Fratel.
Há uns tempos, por altura da morte de um familiar, eu, as minha tias e irmã fizemos a viagem de noite. Creio que são seis horas de viagem.Uma seca no Entroncamento, mas tem que ser.
De Lisboa a S Martinho do Porto, são quase três horas (horário nobre):)

Estranho país este com tão bizarras prioridades.

1:04 da manhã  
Blogger Pedro Pestana Bastos said...

As duas primeira são com toda a certeza. O carreiro que se vê na outra margem começa na barca da Amieira e até à Barragem é muito visível. Esses 7 kilometros entre a estação da Barca e a barragen do Fratel conheço como ninguém. Tem numa margem o Ocreza como afluente (os melhores banhos) e o Figueiró mais acima na margem esquerda. Banhos, descidas de canoa, pescarias, namoricos nas margens,
PPB

6:50 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Belos banhos no Ocreza e no Ponsul:)
Achigä frito amanhä ao almoco com os p'es na agua :)
É onde estou:)

9:23 da tarde  
Blogger Pedro Pestana Bastos said...

E eu que so vou poder estar por aí no fim do mês, já com água fria e sem sol para banhos. Banhos no Ocreza agora só em Maio. Achigã frito no Ponsul um pouco antes.
ppb

12:59 da manhã  

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