segunda-feira, agosto 31

Os colas

Quase os ouvimos respirar atrás de nós de tão perto que se encontram. Fico possessa quando os sinto, os vejo e quase lhes ouço a respiração, praticamente colados a nós nas caixas, nos bancos, nos consultórios médicos, quer haja uma conversa banal ou alguma troca de informação pessoal entre nós e o nosso interlocutor. Há mesmo quem apoie os braços e o corpo nos balcões onde estamos a tratar das nossas vidas, gente que nos quer fazer companhia nas alegrias e nas chatices, assim nos débitos como nos créditos.
Não sei o que os impele na nossa direcção, se o medo de perder a vez, a curiosidade, a ansiedade ou simplesmente porque podem. Ali ficam à coca, a olhar para os nossos papéis, a ouvir ao que vimos, suspirando, rogando pragas por qualquer demora, rosnando entre dentes como forma de pressionar, apressar ou até para provocar a "solidariedade" dos que aguardam mais lá para trás.
Comigo não resulta. Nem nas filas dos balcões nem na estrada. Bem podem atirar-me luzes, buzinas, rosnadelas, suspiros lancinantes ou insultos disfarçados, tudo inútil. Não me impõem ritmos a que não sou obrigada, se bem que fico sempre compungida de dor por, involuntariamente, lhes estragar a média, prova de outra grande perícia manual, esse grande feito português.
Por isso, agrada-me aquele risco vermelho no chão que acautela as distâncias e garante a nossa privacidade. A malta resmunga na mesma, mas já não a ouvimos.

2 Comments:

Blogger AS said...

Olá Isabel! Pois eu proponho que se coloque um sinal a dizer: Mind the gap. Boa? Um abraço

6:22 da tarde  
Anonymous b said...

E com a gripe A que vai por aí muito pior.

1:30 da manhã  

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