Lisboa à noite (actualiz.)
Vou já escrever isto antes que me passe a fúria e há coisas que saem melhor sob o efeito da irritação do momento.
Após o "Recital e tal" em frente ao S. Carlos, e na falta de paciência para me associar à grande fila para o maravilhoso "Doce de leite" da Häagen-Dazs, com uma noite agradável, achei que seria possível tomar alguma bebida nas redondezas sem necessitar de me aventurar pelo Bairro Alto. Foram quatro os locais onde entrámos, já perto das 23 horas, sem que nos pudessemos sentar, se bem que existissem bastantes mesas vazias."Só para jantares" avisavam com modos pouco simpáticos os modernos empregados, certamente com ordens superiores para a advertência aos incautos. Pouco lhes interessariam o montante da despesa que poderíamos ou não fazer, mas a mesa posta era para garfo e faca.
Mais acima, num restaurante barulhento, lá nos deixaram sentar após uma curta negociação, mas depois de esquecidos pelos funcionários e cansados do ruído, decidimos sair. Um outro café, por sinal bem simpático, estava fechado e acabámos por nos sentar num outro, apesar de ter sido necessário fazer o pedido ao balcão após uma espera despropositada para a fraca clientela na altura.
Pensava eu que esta crise haveria de ter ensinado alguma coisa, que a ganância não é a melhor das atitudes e que a fidelização dos clientes através de um bom serviço poderia ser a solução para manter portas abertas em estimável qualidade.
Afinal, vejo que esta gente não aprendeu nada. Provavelmente ainda por lá estarão as mesas postas com os "individuais" ou com a toalha, a marcar lugar para eventuais clientes, enquando outros são postos na rua por não lhes apetecer os bifes da lista tão caros quanto miseráveis.
Talvez por isso tenha saudades das "brasseries" de Paris onde não correm connosco por termos a ousadia de nos apetecer somente um copo de vinho. Depois, não se queixem da crise, disto, daquilo e dos outros. Por mim, cada vez tenho menos paciência para ganâncias e dinheiro fácil. Aliás, alguns resultados estão à vista e, em casos extremos, até em prisões por esse mundo fora. A gente já não tem idade para certas coisas.
(Fotografias: Paris, 2008)
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O caro Jansenista é bem mais cáustico que eu no que diz respeito à saloice a que estamos votados, mas em França nunca tive necessidade de me levantar para fazer o pedido nem nunca me recusaram uma mesa. E depois, tenho sempre um bom remédio para os locais onde não sou bem tratada: não volto lá. Tão simples quanto isso. Imagine o meu caro que, sob este meu aspecto modesto, eu era a maior produtora de gado do Texas, com um irreprímivel desejo de gastar dinheiro, por exemplo, em bom vinho e sem vontade de tocar no bife tártaro?
Mas nem tudo é mau. Acabo de chegar do meu supermercado de eleição (Tradicional) junto ao túnel de acesso à praia de S. João, onde o serviço, a qualidade dos produtos (a garrafeira, os lacticínios, tudo fantástico) e o atendimento me reconciliam com o país. Por falar nisso, vou comer o meu yogurte de manga.
7 Comments:
Isabel, nem queiras saber o que me diziam, há um par de semanas, uns quantos amigos espanhóis, residentes em Lisboa e arredores, sobre os estranhos hábitos de atendimento da "restauração" portuguesa e que tão bem denuncias neste teu texto.
Amigo Fernando,
estamos condenados ao balcão de inox ou ao superluxo a que não chegamos nem em sonhos. Não há uma "restauração" com qualidade-preço equilibrada.
Tem graça a coincidência mas no mesmo dia e no mesma zona quase me aconteceu o mesmo. Confesso que não gostei do espectáculo e saímos antes do fim (não compreendo a necessidade de dizer palavrões a torto e a direito para ter graça, mas se calhar é um problema meu...). Fomos à procura de um sítio para beber qualquer coisa, o gelado já tinha sido comido antes do espectáculo e a noite estava melhor do que o esperado. Encontrado o sítio, só por especial favor nos deixaram sentar. Mas 10 minutos depois de nos terem trazido as bebidas estavam a fechar e a pedir-nos para pagarmos. Nem sequer era meia noite! Só não nos aborrecemos mais porque a empregada era uma simpatia, mas assim não fazem negócio, não. Bjs.
Helena CM
Isabel, e não é que também ando viciada nestes iogurtes? O de ananás também é muito recomendável.
Quanto ao atendimento, a minha preferida é a pergunta "tem reserva?" e o ar preocupado e o abanar a cabeça quando respondemos que não, a consulta da lista das reservas, o passear pelo meio das mesas (vazias) à espera de uma revelação divina, até que por fim nos senta em algum lugar, com ar pesaroso e como se corresse o risco de despedimento - tudo isto para, no fim, percebermos que o restaurante estava e continuou meio vazio e que só havia uma ou duas mesas reservadas.
E se fosse só na restauração...
Ananás ainda não provei. Só manga e morango. Fica para a próxima. Mas olhe que aquilo tem paletes de calorias!! Não leia o rótulo, minha linda!!
Já viu que tudo se queixa? Tanta impostorice que anda por aí... tudo a armar ao fino..
Ah sim, se fosse só na restauração não era mau.
Helena
Devemos ter ido aos mesmos sítios. Que desconsolo, valha-me Deus. Fico danada. AInda hoje, fui para lavar o carro às 18.10 e já estava fechado o serviço!! As vezes penso que não querem ganhar dinheiro.
Não é só Paris. Na cidade onde os turcos introduziram o café na Europa e onde o Café foi inventado, todo o pedido é bem-vindo sem hora marcada. E isto com direito a leitura prolongada das edições do dia.
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