segunda-feira, julho 6

Circular em Lisboa

"Somos doces, mas não somos delicados. Trata-se mesmo de um traço civilizacional do povo português", afirmou há dias o filósofo José Gil (um gosto ouvi-lo) na televisão.
De facto, não somos nada delicados. Pelo contrário, tratamo-nos todos muito mal, não nos estimamos, e vivemos em sociedade de forma desrespeitadora quando toca ao espaço público que todos partilhamos.
Um exemplo? Pode parecer pouco, mas não é, há-de querer dizer alguma coisa: Na primeira via que atravesso logo pela manhã, a faixa da direita encontra-se ocupada por viaturas encostadas entre os pilaretes e a estrada. A razão é simples, os bancos e os dinheiros das caixas. Há dezenas de lugares vagos a vinte metros de distância, mas ninguém está para se ralar. Resultado, a passagem a uma só faixa numa zona extremamente movimentada. Mais à frente, o autocarro tem que parar no meio da via para recolher ou deixar passageiros, pois alguns malcriadões aproveitam a aberta para ali depositarem as suas viaturas. Lá vão à vidinha deles, enquanto os passageiros são largados no meio da via. A policia vai vendo, mas não olha.
Antes que se tenha tempo de meter outras mudanças, começa de novo o abrandamente causado por mais de uma boa dezena de viaturas em 2ª fila. Às vezes há chatices quando um carro fica bloquedo por um@ espertalhaç@ com ou sem piscas acesos, ou o lugar do deficiente físico está ocupado por um alguém com déficit de educação, mas é tudo normal.
À entrada do túnel do viaduto, começam as golpadas: Colocam-se à direita (com acesso a outra direcção) quando querem seguir em frente, e sempre que seja possível o golpe, passam os outros ou chegam-se mais à frente nas saídas resguardadas por traços contínuos duplos. Desconfio que se riem das manobras que julgam inteligentes, de alto gabarito, do fantástico desempenho que os há-de levar mais longe, mais rápido, mais cedo que os outros, os tolos alinhados à espera de vez. Tipos a quem chamam "assertivos", penso eu. Também os vejo muito nas laterais de emergência, certos de que vale a pena arricar, não há lei nem ordem, nem ambulância à vista que os impeça de mais uma esperteza ardilosa, da golpada bem sucedida. Devem ser os mesmos espertalhões que largam o carros às portas dos centros comerciais (Colombo, Corte Inglês, etc.), enquanto os tansos pagam o ticket do costume. Ah, espertalhões numa terra que a chico-espertice é recompensada!
A desgraça continua mais à frente, com mais carros estacionados em toda o comprimento da via ou na miserável relva há muito careca de tantos pneus, ignorando o parque de estacionamento e dificultando a vida aos incautos. Penso que sejam as viaturas dos estudantes, sempre tão cheios de cidadania e de reivindicações, porque em tempos de férias, o caos é um pouco menor. Também abundam camiões com as respectivas manobras e até alguns fantásticos "marcadores" de reserva de espaço. O resultado é a maçada do costume, seja para quem pretenda seguir em frente ou queira voltar à direita, tem que circular em fila indiana porque só existe uma via para tanta gente. E assim vamos, de desgraça em desgraça, até à desgraça final, um dos cinquenta metros mais penosos de Lisboa, mesmo à porta de serviços camarários.
Perguntar-me-ão, se a polícia não sabe. Ai sabe, sim senhores, que já tenho quase uma dúzia de referências de ofícios, ou seja, cartas normalizadas que nada querem dizer. Uma "fatalidade"? Não. Somente o mais profundo desrespeito entre concidadãos e a maior das incompetências na fiscalização.
E a gente pergunta-se de quem é a culpa. Responda o @ car@ leitor. Por mim, estou fartinha disto.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Cara Vizinha,

Excelente texto. Infelizmente são cenários que me são tão familiares...

Abriu a torneira dos Posts, Literalmente!
:-)

Respeitosos cumprimentos e melhores desejos de uma excelente semana,

8:27 da manhã  
Anonymous http://shakermaker.blogs.sapo.pt said...

Ora viva!

Não podia estar mais de acordo, e apesar de já não viver em Lisboa passei muitos anos por todos esses azedumes. Aliás, de certa forma ainda passo, mas não me apoquento tanto.

Já agora, aqui fica outro exemplo: tenho uma garagem que não uso pois fica ao lado dum colégio. Logo, se estacionar lá o carro, não consigo sair entre as 08h00 e as 09h30 pois tenho a saída obstruída com os popós dos papás.

Um abraço...
shakermaker

8:19 da tarde  

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