O Verão como pretexto (1)

O pretexto de estarmos no Verão serve para muito e até para escrever sobre sapatos ortopédicos, que a vida lá fora anda agradável. Andei anos a fio a comparar qualquer sapato sem graça a um sapato ortopédico, o que equivalia, por arrastamento, a uma crítica algo insultuosa sobre quem os calçava. Ninguém escapava, principalmente as mais novas. Qualquer sapato mais desengraçado e deslavado podia ser comparado a sapatilhas elásticas meio acinzentados que costumavam ser vistas em hospitais ou em locais onde as mulheres tinham que permanecer muito tempo de pé. Até é possível que exista um equivalente masculino destes sapatos elásticos, mas isso não é para aqui chamado. A verdade é que mulher com sapatos sem graça, tem ainda menos graça. Não há ninguém capaz de me desmentir, mas mauzinho era mesmo esta associação com o sapato ortopédico, o grau zero do calçado feminino.

Sei bem que pela boca morre o peixe, neste caso pelos pés. O certo é que existem agora sapatos de Verão bem jeitosos da mais conhecida marca de cremes, pensos ou líquidos para tratamento dos membros inferiores mais delicados ou mais calejados. E são tão bons, tão bons, que só se vendem em farmácias, como aqueles shampôs e produtos para a pele que os dermatologistas mandam comprar e não se descontam no IRS.

Em não querendo o verdadeiro ortopédico, ainda pode comprar outro sapatinho ou sandália igualmente confortável, de produção nacional, que assentam como uma luva, sobrevivem à calçada portuguesa e garanto que não desdouram. O luxo de um pé satisfeito não é coisa barata, mas tenho a certeza de que há por aqui gente que me compreende. Convém não esquecer que a Rainha Isabel II usa sempre os mesmos modelos e decerto não será só por razões de protocolo.

E assim caiu mais capítulo do meu portfólio de comentários quase, quase desagradáveis. Ainda me restam alguns (capítulos) para desbaratar, mas agora muito melhor calçada.