Estilo próprio sem livro de estilo
Permeável à lisonja, não consegui resistir à promessa feita pelo João Villalobos de que teria uma passadeira vermelha especial à minha espera neste blog, no qual tive em tempos uma modesta colaboração. Devo, porém, confessar que o talento é pouco e a criatividade ainda menos. Que escrever então neste blog, onde todos parecem ter opiniões firmes sobre tantas coisas e com os convidados de honra que me precederam de tão elevado gabarito?
Para não desdourar, vou por onde me posso safar com alguma dignidade (regra número da técnica de blogar), ou seja, deixo algumas linhas sobre a minha experiência enquanto proprietária de um blog individual de classificação duvidosa. Felizmente desobrigado de qualquer “Livro de Estilo”, liberto de constrangimentos estilísticos, um blog nasce, cresce e desaparece à vontade do freguês, que o alimentou de experiências pessoais, opiniões, impressões, paixões, amores, desamores, receitas de culinária, música e tudo aquilo lhe dava na real gana, movido pelas razões mais diversas.
Com maior ou menor fluência, criatividade ou audiência, aprende-se a escrever posts, lendo posts (regra número dois), o que significa que, pouco a pouco, se vá tomando o pulso ao post. Podemos falar de algumas “técnicas” que se vão apurando, como por exemplo, evitar um grande número de links dentro do texto (regra número três) ou posts muito longos. Falo por mim, claro, mas não convém maçar (ainda mais) o leitor, provavelmente já enfastiado.
A verdade é que nenhum de nós vive disto, desta coisa dos blogs. Ninguém nos paga para escrever umas coisas, colocar umas músicas ou escolher videos, gasta-se imenso tempo, energia e por vezes ainda somos insultados. Não conheço ninguém que nunca tenha tido razões de queixa, mas depois, um post lava o outro, fica tudo esquecido, que isto não é a nossa vida, valha-me Deus e quem anda à chuva molha-se.
Uma coisa é certa: quando não abunda o talento, a criatividade, a sabedoria, ou mesmo o tempo, resta a singularidade de cada blog, algum traço que o distinga de tantos outros e que nos faça lá voltar (regra número quatro). Por isso e por causa disso, suponho que deve escrever-se sobre o que se sabe, como se sabe e no registo em que nos sentimos melhor (regra número cinco). Os “desvios” são arriscados e não são para todos.
Falo em particular dos blogs individuais, atacados regularmente por crises de preguiça e falta de assunto. Não é todos os dias que se sobe ao Everest, se apanham ondas fantásticas, mudamos de casa, se vê um filme, se vai a festas, se fazem viagens, nascem crianças ou se altera alguma coisa no blog por motivos impronunciáveis. Coisas nossas. Aliás, quem nunca mandou "recadinhos", que atire o primeiro post.
Há ainda quem mantenha (ou tenha mantido) posts em draft (guardado no blogger), uma espécie de bolsa de drafts, à espera de melhores dias. Grande erro (regra número seis). Pelas suas características, um blog é um diário e assim, o que é hoje pode não ser amanhã. Um post datado é um post requentado, fora do tempo, da circunstância e perdido na sua oportunidade. Num blog colectivo, os seus autores podem espreguiçar-se à vontade, pois mais cedo ou mais tarde há-de aparecer alguém com algum comentário ou histórias para contar.
Está claro que estas regras não são para levar a sério, caro leitor, mas quem me conhece sabe como aprecio um índice bem feito. Coisas minhas.
E despeço-me do Corta-Fitas com o meu bem haja pelo simpático convite, não sem antes informar que já só falta um dia, cinquenta e sete minutos e três segundos para terminarem na televisão os festejos do Maio de 68 e aproveito também para revelar ao mundo que o cozinheiro da selecção de futebol prepara diariamente um arrozinho doce para os jogadores, o que perfaz a regra número sete: um post mal concluído é um post perdido.
(Post para o Corta-Fitas)
3 Comments:
Fico bem mais tranquilo por sabê-la permeável à lisonja, porque no caso da sua escrita, ela mais não é que legítima e merecida, Miss Pearls. Preparava-me eu para quebrar uma regra, a de comentar o seu texto aqui e não lá, quando a senhora, num acto de benevolência permite que regra nenhuma seja quebrada. Vou seguir as regras que recomenda e quebrá-las de vez em quando (risos). E acrescentar uma ou outra quando me apetecer. A oitava regra, para mim, é vir aqui dar uma espreitadela. :)
"..que isto não é a nossa vida, valha-me Deus e quem anda à chuva molha-se."
Ora nem mais. E esta sua leitora de há tempos com saudade de a ler assim: sentido de humor fino e brilhante e tanta, mas tanta verdadinha ali escarrapachada, credo! ;)
Outro Beijinho *
Cara Isabel,
Que escrito delicioso!
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