domingo, março 16

Traduções de clássicos

(...) Este surto de traduções de clássicos que marca os nossos dias devia ser notícia de primeira página, mas nem eu, "director por um dia", o fiz, verdade seja porque não me lembrei. Mas devia haver títulos como: "Depois de meio milénio, existe em português uma tradução integral do Orlando Furioso". Porque é esse o tema a que invoco o prazer do leitor: livros, grandes livros, traduzidos. Porque, no meio deste tumulto continuado que é a vida pública portuguesa, estampido mais que som, zanga mais que fúria, meia dúzia de portugueses tem estado em gabinetes de universidades ou em bibliotecas, mas mais provavelmente em casa, de dia e de noite, com mais ou menos tempo, com mais ou menos sossego, a traduzir livros, grandes livros, grandes livros esquecidos, grandes livros que só outra meia dúzia de pessoas lê, mas são os que nos fizeram como nós somos. É da natureza destas coisas que o seu trabalho passe muito despercebido, pouco remunerado, pouco reconhecido e longe de todas as ribaltas. Não tenho dúvidas da surpresa que terão eles próprios ao ler este artigo.(...)
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