sábado, fevereiro 9

Um Rei no meu blog

Tenho acompanhado com interesse as cerimónias de homenagem a D. Carlos não exactamente por simpatias monárquicas (confesso nunca me ter interrogado o suficiente sobre o assunto) mas porque os meus conhecimentos sobre os factos não me satisfaziam. Assisti à conferência de Rui Ramos na Univ. Católica, comprei e li as obras recentes que me pareceram mais consistentes, vasculhei na net informação da época, espreitei a cerimónia de homenagem no Terreiro do Paço e até me dei ao penoso trabalho de ver na RTP 1 a série sobre o regicídio. Após ter lido artigo de Cintra Torres hoje no Público, fiquei mais descansada em relação à qualidade do meu aparelho de televisão e às minhas capacidades auditivas. Afinal as barbas eram mesmo horríveis e o som francamente medíocre :" Os espectadores "estúpidos" da RTP1 não tiveram direito à versão completa. Resultou desastre. Na versão que passou na RTP1, há cenas que não se entendem. Há cenas antes de outras que são depois e outras que são depois antes daquelas. Há personagens que quase ficam por apresentar ao espectador. Há cenas com a música cortada à facada. Há uma cena em que vê o actor a falar sem se lhe ouvir a voz (por necessidade de corta e cola). Há incongruências narrativas que resultam de as subestórias não estarem devidamente ou sequer apresentadas. " Em conclusão, o que mais apreciámos da série foi a surpresa de ver dois actores que conhecíamos pessoalmente e que não estavamos à espera de os rever fardados e com carabinas. E claro, os nossos ouvidos estão bons e recomendam-se e o televisor afinal não é mau de todo.
E se registos escritos da época e a câmara de Joshua Benoliel enriqueceramos arquivos e fixaram os acontecimentos para a História, um pormenor parecia escapar. À semelhança do Eurico de Barros também me interroguei se haveria algum registo sonoro da voz do Rei assassinado: "Como seria a sua voz? Como falaria D. Carlos? Perguntei a um amigo que sabe destas coisas de arquivos. Segundo ele, havia na antiga Emissora Nacional gravações da voz de D. Carlos. Foram destruídas depois do 25 de Abril, juntamente com muitas horas de programas."
Por aqui, como em tantos outros lugares, grandes asneiras se fizeram (e continuam a fazer) com os registos do passado. É uma pena que não possam ser estudados no presente e avaliados no futuro.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Curioso... não me lembro de, nos últimos anos, se evocar tanto o passado. Está bem que é este ano que faz 100 anos que mataram o rei, e talvez por isso, esta minha percepção. Também talvez por isso, há dias lembrei-me de uma coisa que Louise Levêque Vilmorin disse... “o passado existe quando se está infeliz”. Estaremos nós todos mais infelizes? Mas isso não vem ao caso e já estou par aqui a divagar. O que eu queria mesmo dizer, depois de ter lido o seu (muito bom) texto é que se queremos prever o futuro devíamos estudar o passado. Queria dizer, com a ajuda de Confúcio... ;). Ora se destruímos registos e memórias do passado... restam-nos bolas de cristal e mágicos vestidos com roupas garridas, turbantes na cabeça e muito folclore, luzes e fogos de artifício à mistura.

5:53 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Mike:
O que me parece importante e vital para o conhecimento da História é a preservação das fontes.Possivelmente por formação profissional, mas a preservação do património escrito, sonoro, iconográfico, monumental e oral é fundamental para o conhecimento da História dos povos.

5:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não poderia estar mais de acordo consigo, Miss Pearls.

6:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Também me questionei sobre a voz de el-rei.
Um desatre isso da Emissora. Como tantas outras coisas...
Cumpts.

11:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Um post excelente, sem pompa nem nostalgia. Com indagações e amor pela história.
Que mais podem fazer os que não são historiadores, senão amar assim a história, interpelando os que sabem?

9:56 da manhã  
Blogger Eurico de Barros said...

Obrigado pela menção. Sabe que recebi um mail anónimo, a perguntar se não queria também "levar um tiro, como o D. Carlos?". Que gente tão simpática, não é? E fui sabendo de outras gravações destruídas no pós-25 de Abril na antiga EN. As pessoas nem imaginam...

1:56 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

Obrigada a todos pelos vossos comentários.

Que coisa essa, Eurico.

1:39 da manhã  

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