sábado, novembro 17

Uma chata forma de vida (2)

Chamo-lhe uma chata forma de vida. Há certamente milhares de aborrecidas formas de vida por esse mundo fora, mas esta é a que conheço, da qual dependo e a que me condiciona.
Viajante habitual do metro de Lisboa sou, obviamente, possuidora de um passe que me permite circular livremente por entre dois ou três torniquetes abertos em horas de ponta, criando longas filas perfeitamente escusadas visto haver pelo menos seis disponíveis. O motivo porque metade dos torniquetes estão fechados é um outro mistério desta cidade.
Sem me aperceber, partiu-se parte do cartão junto ao selo digital. Ao tentar sair algures numa estação, a porta não se abriu e dirigi-me a quatro funcionários em amena conversa junto a uma cabine. Depois de explicar brevemente a situação e mostrar o cartão (o corte não era visível), examinado à distância por olhares cirúrgicos durante dois ou três segundos, ouvi as seguintes explicações bem humoradas:
- Partido um bocadinho? Isso é favor?
- Com esse cartão já não vai a lugar nenhum.
- Esse cartão já deu o que tinha a dar.
Não cheguei a ouvir o quarto comentário. Irritada, voltei as costas e tentei de novo passar com o cartão. Passei, voltei a entrar e saí de novo sem levantar os olhos. Sabia que estavam a ver tudo, mas não me apeteceu dar-lhes troco.
Não sei por quanto tempo irá sobreviver o cartão agora decorado com fita-cola, mas fiquei-lhe com amizade.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

my dear,
Permita-me uma sugestão. Vem do peito, experimentada. Da próxima vez que se vir em contrariedade semelhante reaja e faça tudo igual ao que fez e reagiu, que não há como fugir de nós próprios e de quem somos. Só com um acrescento subtil: introduza na algibeira a mão esquerda ao passar pelo olhar dos funcionários, dobre dois dedos à escolha e estique um outro, tudo só para si e no recato do seu poche. Verá que nada muda na atitude deles. Mas sentir-se-á bem melhor, garanto. A mão direita nºão oferece tantas garantias, vá lá saber-se porquê.
Boas viagens.

1:03 da manhã  
Blogger Dulce said...

Também tive um episódio pouco agradável no Metro, Miss Pearls...

Na confusão do fim de tarde de uma qualquer 6af, vi-me impedida de sair porque o bilhete válido (sublinhe-se) amolgou no bolso quando vinha literalmente enlatada na carruagem. Conclusão, não lendo devidamente o bilhete, as portas não abriam. Bem pude esbracejar efusivamente, mas a senhora na cabine achou por bem ignorar-me. Pedi a um transeunte o favor de alertá-la mas igualmente sem sucesso – estava entretida com qualquer coisa (deduzo que com a “Maria”) . Resolvi fazer o que tantas vezes vejo: ‘colar-me’ a alguém e passar para a outra ‘banda’. Vai daí, levanta-se do seu posto e num ápice chega ao pé de mim. Limitei-me a ‘oferecer-lhe’ o meu bilhete e a pensar para comigo: “vá, mas é dar uma voltinha”...

5:29 da tarde  

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