"Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de inverno, em Turim, que é quase tão frio como S. Petersburgo — entende-se. Mas com este clima, com esse ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui escrevesse, ao menos ia até o quintal.
Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de estio, viajo até a minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens nem as suas impressões pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há de fazer crônica. !
GARRET, Almeida- Viagens na minha terra
3 Comments:
Sempre que posso,sigo o conselho de Garrett,e aproveito "este clima(...),esse ar que Deus nos deu",para visitar esta tão grande variedade de paisagem e de intervenções na mesma,que os que os portugueses d'antanho nos ofertaram.
Mas,nos dias de hoje,em que temos facilitada a exploração de outras paragens,igualmente merecedoras da nossa atenção,tudo faço para viajar,também,pela terra dos outros,o que Garrett também não se dispensou de fazer,ainda que o tenha feito por motivos muito diversos dos meus,pelo menos num primeiro momento,nomeadamente(e é uma das minhas preferências)pela terra de Sua Majestade.
E depois conte-nos tudo,Cristina :)
Só agora percebo que afinal andava a sentir falta das "Histórias de Lareiras" que Miss Pearls me (nos) habituou.
A lareira já não precisa ser acessa mas textos destes são mimos que nos transportam para outras paragens.
Tenho um carinho especial por "Viagens na minha terra"
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