No shopping
Não é mania das grandezas ou caprichos de mordomias. Nada disso. Porém, julgo que jamais me habituarei a grandes superfícies de roupa, verdadeiros self-service do pronto-a-vestir, amplos armazéns de cruzetas giratórias com montanhas de roupa que o mulherio vai criando e as empregadas, diligentemente, arrumando.
Desconfio que nunca me habituarei a perguntar pelo número "x" e receber como resposta: "só temos o que está no expositor". Mesmo assim, e após encontrar o número da roupa num emaranhado de etiquetas de várias nacionalidades (cada vez são mais) e não havendo socorro possível uma vez dentro dos provadores, resta-nos mover braçadas de roupa devidamente numeradas para os exíguos cabinetes. Aliás, tenho para mim que os provadores roupa são lugares do maior sigilo, cabines blindadas a olhares indiscretos: é o puxa, repuxa, só mais um jeitinho, o número errado, o modelo desajustado, as calças a arrastar, hesitações, mais uma mirada, um suspiro ou um sorriso. Pode ser uma visão dos infernos ou um amor à primeira vista. Pensando bem, será melhor o black out total e fiquemos por aqui. Em querendo fantasiar, faça favor, mas sinceramente, não sei bem como ou com quê.
Nos armazéns de que falo, não são esperadas sugestões nem opiniões. Não há atendimento personalizado que nos elogie ou que nos iluda. Uma crueldade, quando nos "dão ideias" que não pudemos sustentar.
Não vem nos manuais , mas diz-me a experiência que é aconselhável um trabalho de equipa, vulgo amigas, mãe, irmãs (raramente um homem): olhos treinados percorrem com maior ligeireza espaços e expositores, fica bem, não fica bem, fica para outra encarnação. Em azáfama constante, incansáveis funcionárias dobram, penduram e ajeitam roupa deixada ao Deus dará por displicentes hordas de mulheres (pequenas vinganças fora do território doméstico), enquanto trocam curtas mensagens cifradas nos walky talkies.
Cumpridas as regras básicas a adoptar nestes pronto-a-vestir (paciência, tempo e disponibilidade), as mais sortudas saem despenteadas mas felizes. É o custo pelo baixo preço. Pobretes mas alegretes.
4 Comments:
Perfeito, o seu texto, Miss Pearls. Agora, tenha inveja, muita inveja: eu, quando vou a um pronto-a-vestir, olho, apalpo, vejo o tamanho, o possível defeito, o preço, discuto o preço e... compro. Se gostar. Do desconto. Sem "provar".
Eu sei, eu sei, as mulheres precisam de fazer prova quando vão comprar roupas: as "curvas", as protuberâncias, a "altitude", a "longitude"...
Como a compreendo Miss Pearls!
O seu texto retrata tão bem o que penso acerca das grandes superficies de roupa.
É preciso ter paciência de 'Jo' para ir a essas lojas..e eu não tenho.
"Pobretes mas alegretes", adorei!
Ao ler este seu divertido texto, não sei porque, ocorreu-me a aquela expressão... "eu é mais bolos!"
É que roupa em grandes armazens tipo a metro,comigo é mesmo "mais bolos" :)
MISS
PERFEITO.
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