terça-feira, abril 17

Do acaso

O acaso às vezes prega-as. Partidas inesperadas que muitas vezes não podemos evitar, gente com quem embatemos numa loja, esquina ou no meio da rua. Surpresas boas, situações constrangedoras, quando não podemos fugir ou quando o olhar não se pode evitar. É o acaso, a circunstância e a coincidência. Acidentalmente, cruzamo-nos à mesma hora num mesmo local e das duas uma: ou podemos evitar ou é tarde demais. Se é tarde demais, nada a fazer a não ser balbuciar expressões de circunstância, uma ou outra mentira piedosa, argumentar com a pressa, que está tudo bem mesmo quando não está, mas o importante é encontrar a deixa mais correcta e fugir a sete pés sem dar a impressão que se está a fugir. Se do outro lado acontecer o mesmo, corre tudo bem e boa tarde, gostei de a ver. O facto é que estes imprevistos nem sempre correm assim. São as chamadas "lindas figuras" a que ninguém está imune. Já tenho visto os mais "seguros" gaguejar, corar, balbuciar umas patacoadas, mexer-se nervosamente, encontrar um buraco para se esconder. Em suma, desaparecer.
Se há encontros que podemos evitar, o mais experiente conhece as patranhas que o olhar permite. Muitas vezes é uma jogada cúmplice, um não-encontro feito de desvios coniventes. Não vale a pena. A gente lá sabe porquê.
E as surpresas? As boas? Os encontros que nos fazem sorrir, a simpatia verdadeira, a colega gentil, o amigo com a mulher, os filhos tão crescidos, a mãe que não envelhece, uma casa nova, um casamento, um novo casamento, as férias, um emprego que satisfaz, o sucesso, as novidades, as circunstâncias felizes. Mas há também o infortúnio, o divórcio, a doença ou a morte, partilhados em momentos furtivos com gente que nos importa.
Aqui não cabe o "fado" nem o destino. Porventura deixar as coisas ao acaso. Quem sabe...

10 Comments:

Blogger cristina ribeiro said...

É como diz:o acaso por vezes prega-nos partidas que nos deixam"sem graça";nessas alturas só nos salva um bom "jogo de cintura",que ,confesso,não tenho,e por isso só me resta mesmo encurtar o mais possível esse momento melindroso;outras vezes há,em que o mesmo acaso nos traz vivências tão boas,que nos fazem sorrir sempre que delas nos recordamos,como quando, estando longe de imaginar que isso possa acontecer,encontramos ao virar da esquina alguém que nos é querido,mas de quem as andanças da vida nos separou.

1:29 da tarde  
Blogger Isa said...

mt bom este post. gostei mt. e que tal correu no RCP??? Bjs

1:40 da tarde  
Blogger cristina ribeiro said...

...nos separaram.

2:00 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

É isso mesmo Cristina.

Olá ISA,
Eu gostei imenso de ter ido ao RCP :)

3:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É uma verdade desconcertante!
Continuo a balbuciar umas quantas patacoadas mas também deliciada nos reencontros com aqueles qua a vida fez o favor de se nos atravessar no caminho.

3:59 da tarde  
Blogger t.tavares.castro said...

e que figuras...

5:52 da tarde  
Blogger Mar Arável said...

Porque a vida nos espreita e surpreende e desconcerta tomei a liberdade de a recomendar no meu

mararavel.blogspot.com

10:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

...e assim, como por milagre, se duvida da "improbabilidade da comunicação".
Lembranças

2:03 da tarde  
Blogger definitivo said...

"17º jantar comemorativo..."
"Jantar anual da turma do 5º..."
"10º convívio de finalistas..."
"23º almoço das alunas do curso..."
"Encontro anual dos repetentes da escola..."
"43º convívio dos combatentes..."
"37º jantar dos sobreviventes do batalhão..."
"41º convívio dos deficientes do esquadrão..."
"56º encontro dos amigos da febra..."
"87º jantar dos amigos da patanisca..."
"33º encontro das pessoas que estiveram no Terreiro do Paço e tiraram fotografias e tudo..."

Jantares dos solitários felizes, é o que é - depois da borracheira, claro.

Uma pequena história:

Há uns tempos, entrei numa loja de linhas industriais, esperei pela minha vez e, quando esta chegou, fiz o pedido, pedi uma factura, paguei, esperei pelo troco, disse obrigado ao balconista, ele retribuiu acrescentando um "boa tarde", retorqui com "uma boa tarde para si também" e saí. Satisfeito.
Acabara de falar com um tipo que foi meu colega de turma, em todos os meus anos de liceu.
Há muitos e muitos anos que não o via - nem ele a mim, provavelmente.
Depois destes anos todos, encontramo-nos, falamos, fomos simpáticos, cordiais e, no entanto, ambos fingimos que não nos conhecíamos de lado nenhum.
Ainda me lembrava do nome dele: Beto. Tenho a certeza que também ele se lembrava do meu.
Ah! não fui lá mais: mandei a motorista.

Agora... se faço isto com um ex colega de turma, imaginem o que faço quando me cruzo com as centenas e centenas de pessoas com quem eu lidei nestes anos todos....
Assobiar para o lado, coçar o bigode que não tenho, mudar de passeio, fingir que me esqueci de algo e voltar para trás...
Todas estas "manobras" são válidas.

Pergunto: estou doente? Sou doente?
Se sim, o Beto, das linhas, corre o risco de sofrer da mesma doênça que eu?...



PS: sou estrangeiro. O que é a saudade?....

1:00 da manhã  
Blogger cs said...

ohhh..gostei tanto deste post...tão lucido..tão...sei lá

soube bem ler


:))

1:04 da manhã  

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