sexta-feira, abril 13

Boa tarde!

Suponho que há hábitos que não se perdem. Acostumada a uma pequena cidade de província onde tudo tinha um roteiro certo, com caras que me habituei a conhecer e a tratar pelo nome, a escolha era pouca para comprar fivelas, linhas, lã, pano crú ou cera dos móveis. A escolha era pouca mas eficaz: a loja do sr. A tinha as agulhas nº 2 e a linha nº 3, o armazém da sra. B tinha a lã cor 303, as fivelas e a cera na casa de ferragens do costume e o pano crú, o tecido para forrar saias, os colchetes e os botões madrepérola eram praticamente de venda exclusiva no Sr. C. Diga-se de passagem que comprar tudo isto não demorava mais de meia hora. As restantes duas horas eram ocupadas a falar com quem nos cruzavamos no caminho. Isto na melhor das hipóteses. Sempre que envolvia a praça (mercado) ou farmácia, a coisa podia ser ainda mais prolongada. Quem viveu em cidades de província conhece bem os tempos longos de pastelaria, de mil-folhas e de conversas intermináveis com quem aparecia. Isto a propósito de ter ido a passada semana a três lojas diferentes e não ter encontrado nenhuma. Confusos? Também eu: duas tinham mudado de ramo e uma delas tinha fechado. Tenho muita pena. Sabia que encontrava por lá exactamente aquilo que procurava, com a ajuda preciosa das solícitas empregadas que abriam caixas e caixas até encontrar o modelo certo. E depois eram necessárias poucas explicações; abriam umas gavetas, escolhiam as prateleiras e se não era isto havia de ser aquilo lá ao fundo. Havendo tempo ainda se trocavam sugestões e opiniões . Recordo-me bem do que penei o Inverno passado cada vez que tinha que explicar às empregadas mais jovens que procurava uma canadiana. Suspeito que uma delas esteve quase a sugerir-me uma casa de produtos ortopédicos. Hoje tinha alguma esperança de vir a encontrar num centro comercial algo vagamente parecido ao que precisava. Mas não. Só trago os braços a cheirar a uma dezena de perfumes.
O meu "retrato social"
Post já editado

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É triste assistirmos ao encerramento das nossas lojas...

7:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Carissima Vizinha,

Supresas desagradaveis não são ?

Boa sorte pro RCP...

E bom fim-de-semana!

Melhores cumrprimentos,

10:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

... a minha nostalgia são as mercearias logo de manhã com aquele cheirinho a café moído de fresco, os seus rolos de barbante fino em cima dos balcões, a manteiga a vulso, os frascos grandes de rebuçados ...
Não voltam e, como Clara Malraux escreveu um dia, "la vie est une fête déséspérée".
É assim e pronto.

12:28 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Eis um verdadeiro retrato social e por ser tão verdadeiro é que se torna triste porque isso implica tanta coisa, mas aquela que quero pegar é nas pessoas solicitas em ajudar a procurar, a satisfazer uma necessidade, para já não falar das conversas deliciosas nos intervalos das compras.
Vivo nos arredores de Lisboa e quando precisava de determinadas coisas sempre comprava na zona da minha residência. Agora já não consigo fazer e as (des)conversas são outras e o serviço também porque as lojas evaporaram sem aviso prévio.
Desapareceram os cheiros, não das dezenas de perfumes que Miss Pearls trouxe no seu braço...outro tipo de perfume.
E por causa dos exemplos que deu, confesso que sou uma eterna apaixonada por retrosarias e as da baixa (de Lisboa) encantam-me.

2:42 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

E o cheirinho na escolha das linhas, tecidos, colchetes e caixas de botões...

11:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Recuemos então mais um bocadinho (psicanálise é psicanálise ...):
E o cheirinho daquelas caixas de lápis - a dois "andares" rotativa - da velha Escola Primária ? E o cheirinho a cola da lombada do livro da 1ª classe ?
A minha irmã :
O cão ; ão-ão-ão ...
-O meu pai : vamos lá lê ... um "a" e um "o", junta ... aaa-oooo ...
- ó rapariga como é que faz o cão ?
- bô-bô-bô !

5:55 da tarde  
Blogger Paulo Ferrero said...

A retrosaria Bijou fechou? Bolas. Já fora a casa dos bordados, no mesmo passeio, mas do lado da Nova do Almada, que foi vendida em hasta pública, vá-se lá saber para quê ... e agora esta? Realmente, não valemos um chavo.

9:32 da manhã  

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