Sobre a vila de Cascais como ela está agora, o Eduardo Pitta disse tudo. O João Gonçalves deu uma achega e eu também não resisto. Também vivi por lá, não tanto tempo como esperava, mas o suficiente para ficar a conhecer o concelho. Quando saí da "Linha", ainda não existia o inenarrável centro comercial que agora serve de bifurcador de trânsito, mas o mal já tinha minado a vila mais cosmopolita de Portugal. Estive cerca de quatro anos sem lá voltar e quando lá estive, o ano passado, foi com incredulidade e com enorme tristeza que verifiquei que aquilo estava tudo errado. E nem sequer foram necessários muitos anos para destruir a elegância daquela vila de veraneio. A voragem da pressão urbanística quebrou hábitos e percursos, destruiu os traços arquitectónicos que a caracterizavam e quando dei por mim, estava numa localidade barulhenta, agressiva do ponto de vista rodoviário, onde os urbanistas certamente dormiram um sono de muitos anos. Voltei à esplanada do Albatroz, aos gelados do Santini até me escapulir para a autoestrada, com sinalização suficiente para correr comigo dali rapidamente. O Guincho está lá, claro, intocável, com as melhores praias das redondezas, onde volto quando chega o Verão, ao preço de duas portagens. De tudo isso e das voltas da vida, não há saudade que ali me prenda.