F(r)ios de memória
Reconheço num ou outro local da cidade cheiros antigos das minhas memórias. Geralmente ao final da tarde, em que a penumbra esconde portarias largas e recortes de prédios altos, o nevoeiro mistura-se com sensações antigas, com a pacatez do previsível, com os aromas duma cozinha, de madeira na lareira ou de camisola quente.
Recordo o velho bueiro da rua, as últimas filhós da aldeia, o jornal regional, e as conversas amenas enquando se ajeitava o lume, algo semelhante a trincheiras que nos protegem dos outros, do frio e da hostilidade do mundo
No ar sentia-se o cheiro a mosto dos lagares e só o sino interrompia o silêncio nos campos abandonados, vã poesia para quem sai mas não para quem lá fica. Tenho ideia do frio seco das ruas estreitas e empedradas, de casas modestas com chaminés encardidas envoltas no cheiro de madeira a arder e a dar algum calor ao desconforto do frio que era muito. Recordo o cheiro a fumo entranhado nas roupas e no cabelo e a cinza, uma batalha diária.
Há uns tempos descobri um perfume com fragâncias de madeira e musgo. Diziam-me na loja que "transmitia sensualidade". E eu que só queria um bocadinho do fim de tarde da minha rua.
2 Comments:
Teresa: Que bonito.Emocionado, recebe um beijinho deste teu amigo
pedro salvado
PEDRO
sou eu a Isabel, não é a Teresa.
obrigada e beijinhos
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